Curitiba - O presidente da Assembleia Legislativa do Paraná (AL), Ademar Traiano (PSD), protocolou na segunda-feira (16) uma representação disciplinar que poderá levar à cassação do mandato do deputado Renato Freitas (PT), por uma ofensa durante a sessão do dia 9 deste mês. Freitas chamou Traiano de “corrupto” após os dois discutirem por causa do tempo do pronunciamento do petista. Freitas já havia tido uma representação contra ele no Conselho de Ética, ano passado, mas o caso foi arquivado.

A sessão do dia 9 foi marcada por manifestações religiosas e o clima começou a ficar tenso durante o pronunciamento do deputado Tito Barrichello (União Brasil). As galerias estavam ocupadas por membros de uma igreja evangélica, que passaram a se manifestar quando Barrichelo fez um discurso contra o aborto, de crítica ao Supremo Tribunal Federal (STF) e de defesa do estado de Israel.

Renato Freitas falou em seguida e foi vaiado pelos ocupantes das galerias. Traiano pediu para os manifestantes deixarem o deputado concluir, mas ele voltou a ser interrompido. Em seguida, o deputado Alexandre Amaro (Republicanos), que é pastor, disse que a guerra em Israel estava “prevista na bíblia”, o que gerou uma reação por parte do deputado Dr. Antenor (PT). “Se quer pregar, que pregue na sua igreja. Nossa visão de cristianismo é própria, eu vim do catolicismo. Não aceito esse desrespeito”, disse Antenor.

Renato Freitas voltou à tribuna e foi novamente vaiado, desta vez com apoio do deputado Tito Barrichello. A deputada Ana Júlia (PT) reagiu. “O problema é ter outro deputado exaltando esse tipo de atitude, interrompendo um parlamentar”. A discussão entre Traiano e Freitas começou quando o petista pediu a reposição do tempo de fala após a interrupção. “Então me ouçam, o senhor e os hipócritas religiosos desta Casa”, afirmou o petista. “Não há nenhum hipócrita aqui dentro, deputado. Vossa Excelência limite a sua fala”.

Freitas voltou a se manifestar quando os projetos eram votados. “O senhor não é rei”, gritou. Depois, chamou Traiano de corrupto. “Muito obrigado pela sua fala, ela é essencial para as providências necessárias por quebra de decoro parlamentar”, afirmou o presidente da Assembleia. Freitas ainda chamou o deputado Jacovós (PL) de hipócrita.

Traiano diz que AL não pode ignorar "múltiplas condutas (de Freitas) que quebraram decoro  parlamentar"
Traiano diz que AL não pode ignorar "múltiplas condutas (de Freitas) que quebraram decoro parlamentar" | Foto: Valdir Amaral/Alep

Na sessão da última segunda-feira, Traiano informou que encaminhou o caso ao Conselho de Ética. “Não o faço para uma proteção pessoal e muito menos porque tenho algo contra a pessoa de Renato. Não me alegro por me obrigar a fazê-lo”, disse. “Acusou-me de crimes e condutas imorais. Me colocou como autoritário por estar nessa casa há 30 anos. A Assembleia não pode ignorar as múltiplas condutas que quebraram o decoro parlamentar”.

Reação

Nas redes sociais, Renato Freitas postou um vídeo da sessão do dia 9, no momento em que uma das manifestantes manda o deputado “tirar piolho” do cabelo. O fato foi destacado em nota assinada pelos outros deputados do PT na AL, Requião Filho, Arilson Chiorato, Luciana Rafagnin, Professor Lemos, Ana Julia e Dr Antenor. “O deputado sofreu crime de injúria racial durante sessão plenária e não houve apuração oficial dos fatos, tampouco posicionamento em sua defesa por parte da Assembleia Legislativa”, diz a nota.

“Entendemos que o mesmo rigor utilizado para pedir a cassação de Renato Freitas deve recair sobre os deputados que, insistentemente, desrespeitam os preceitos regimentais do legislativo paranaense, aprofundam desigualdades históricas do nosso país e fomentam a cultura do ódio”, prosseguem os parlamentares do PT.

No ano passado, Freitas e o deputado Ricardo Arruda (PL) tiveram uma representação arquivada no Conselho de Ética. Renato Freitas teve o mandato de vereador cassado em Curitiba, em 2022, por supostamente ter invadido uma igreja durante um protesto contra o racismo. Ele voltou ao mandato após decisão da Justiça e em seguida foi eleito para seu primeiro mandato como deputado estadual.