SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O prefeito de São Paulo precisa ter boas relações com o presidente e com o governador do estado.

Essa é a resposta do pré-candidato do PSD à Prefeitura de São Paulo, Andrea Matarazzo, acerca do voto que vai buscar do eleitor que apoiou Jair Bolsonaro em 2018 na cidade.

Ele se define um conservador e vai calcar parte da imagem de sua campanha, diz, na marca de seu sobrenome --o da mais tradicional família de industriais do país, que batiza o edifício no qual a prefeitura tem sede, no central viaduto do Chá. Nega elitismo nisso.

O eleitorado de centro-direita, majoritário na cidade nos pleitos de 2016 e 2018, não tem um nome óbvio na eleição.

Matarazzo, contudo, ciente da rejeição a Bolsonaro mesmo nesse segmento, evita associação direta ao presidente, ainda que diga não rejeitar apoios. E elogia o auxílio emergencial federal.

Assim, também estoca o prefeito Bruno Covas (PSDB), a quem vê como principal adversário, que é crítico contumaz do titular do Planalto.

Para Matarazzo, duro crítico da gestão Covas, o tucano terceiriza sua gestão ao DEM do vereador Milton Leite.

Poupa, contudo, a gestão do governador tucano João Doria (SP), também adversário de Bolsonaro, cuja escolha para disputar a prefeitura em 2016 derrotou as pretensões de Matarazzo. No episódio, o hoje pessedista deixou o PSDB após 25 anos.

Matarazzo, 63, tem feito pré-campanha limitada a encontros de poucas pessoas e se informa sobre as regiões visitadas em reuniões por Zoom.

"É o que temos", diz, prevendo a campanha com discussão forte em debates e na TV.

Defende a busca imediata de soluções para a perda de empregos na cidade devido ao novo coronavírus.

Elenca como prioridades também a descentralização, com urbanização de favelas, e um combate à corrupção via desburocratização digital.

Isso enfrentaria resistência de grupos influentes entre vereadores? "A Câmara não pode ser um puxadinho do Executivo, e menos ainda o Executivo ser um puxadinho da Câmara", afirma.

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Pergunta - Quais são suas prioridades?

Andrea Matarazzo - São três eixos. O primeiro, o desenvolvimento humano. Você vai trabalhar a educação formal, através do esporte e da cultura. Como uma criança de classe média, todos têm de ter atividades o dia todo. A saúde, como ficou claro na pandemia. Temos problemas crônicos no atendimento à saúde. Faltaram máscaras, treinamento, não só respiradores.

Como o sr. avalia o desempenho da prefeitura na pandemia?

AM - A pandemia foi ensinando tudo para todo mundo, não é algo simples de operar. Mas erros infantis poderiam ser evitados.

Por exemplo, manteve o rodízio. Foi desumano ter tirado os ônibus de circulação.

O orçamento da prefeitura aumentou 6% no semestre, a despesa com saúde, com mais pacientes, 12%. Já a com ônibus, com menos passageiros, subiu 40%.

Isso tem a ver com a estrutura dos contratos. O sr. acha que ele devem ser revistos?

AM - Haverá, sem dúvida. Esse é um assunto delicadíssimo. Os privilégios foram impressionantes. Imagina se os comerciantes pedissem indenização [na pandemia]. Isso vai mudar pela tecnologia e pelos usos e costumes.

Voltando à pandemia, depois houve aquele rodízio par ou ímpar. E não houve protocolo discutido para a reabertura. Fechou o comércio e continuou a cobrar IPTU e taxa de fiscalização? O município foi autorizado a não pagar R$ 2 bilhões de dívida federal, não pagou precatórios. Hoje o caixa tem R$ 18 bilhões, R$ 9 bilhões para livre uso. E o paulistano quebrando.

É balela que falte dinheiro. Eu pretendo mais que dobrar os orçamentos de educação e cultura. Os 50 teatros dos Centro Educacionais Unificados, as 70 bibliotecas, tinham de ter programação integral.

A periferia não tem lazer. O que acontece? Fica fazendo pancadão, que é o tráfico que organiza. Não vamos confundir com baile funk, senão a turma da ideologia já vai dizer que quero acabar com o baile funk.

O impacto econômico seguirá em 2021. Será um problema imediato para quem assumir.

AM - Vai ter de lidar com o pós-pandemia, recuperar empregos. A prefeitura pode refinanciar impostos, pode eliminar por um tempo taxas, dá para fazer frentes de trabalho para tentar segurar um pouco o emprego. E estudar o apoio ao informal.

E o papel do governo do estado na pandemia?

AM - Fez uma coisa importante, que foi o gabinete de contingência.

E o governo federal?

AM - As informações desencontradas confundiram a população.

Qual seria o segundo eixo?

AM - Infraestrutura. Manutenção das obras que existem, algumas obras de enchentes, pequenas obras que não são caras. Mas o principal é urbanizar favelas, dar posse e saneamento básico, gerar emprego para descentralizar a cidade.

Por fim, o terceiro eixo é desburocratizar, por meio da tecnologia, e assim modernizar e combater a corrupção.

Informatizar o licenciamento, aprovação de projetos, isso combate a corrupção na raiz. A cidade tem muita corrupção. A fiscalização de serviços quem tem de fazer é a população, usando aplicativos.

A corrupção passa por uma cultura cartorial grande, grupos com poder na Câmara Municipal. Como combater isso e manter apoio político?

AM - Sem dúvida. Eu passei por toda a prefeitura, fui secretário no estado, ministro e vereador. Conheço o que motiva o vereador. Ele quer voto, trabalhar para a região dele. Isso é ótimo para a prefeitura, para definir prioridades. Se você dá transparência às coisas, facilita a vida do cidadão, como alguém vai ser contra?

Historicamente, a eleição na capital é influenciada por fatores nacionais e estaduais. Agora, há vários candidatos na centro-direita e nenhum parece herdeiro natural do voto de 2018, se é que ele será o mesmo voto. Onde o sr. se encaixa?

AM - O candidato de esquerda não fica falando de Marx com a base dele. Vai falar de buraco de rua, de vaga de hospital. A população se preocupa com assuntos locais.

Uma cidade como São Paulo tem grande dependência dos governos estadual e federal, em questões como saneamento, segurança e habitação.

É preciso boa relação com os governos, seja quem for o presidente e o governador. Onde eu me coloco? Para a população que quer um prefeito, alguém que resolva os problemas da cidade. Sem mimimi ideológico, que é coisa de quem não a conhece.

Como correram as conversas com o Paulo Skaf [presidente da Fiesp, do MDB] e a hipótese de o sr. ser um candidato do bolsonarismo? O PSD, afinal, está no ministério e na base do governo.

AM - A minha posição ideológica é de quatro gerações de industriais. Estive num almoço da diretoria da Fiesp, da qual sou membro, com o presidente da República. Do Skaf, sou amigo. Eu não conheço o presidente.

Agora, a ajuda emergencial do governo salvou várias cidades de ter um problema social mais grave, inclusive São Paulo.

O sr. rejeitaria um apoio pessoal de Bolsonaro?

AM - Lógico que não rejeito declaração de apoio de quem esteja pensando na cidade, aceito de bom grado, de forma republicana.

Após a briga de 2016, como o sr. avalia sua relação com o governador João Doria (PSDB-SP)?

AM - É a mesma relação que tenho com ele há 40 anos. Foi uma disputa eleitoral. O Doria estava no seu direito. O meu problema foi com o governador [Geraldo Alckmin, PSDB], que usou a força para me tirar a legenda.

Acho inclusive que ele [Doria] tem muito mais vocação para o governo do estado do que para a prefeitura.

O sr. o vê como presidenciável?

AM - 2022 está muito longe.

O prefeito Bruno Covas (PSDB) é o adversário a ser batido?

AM - Para mim, é.

Houve uma movimentação, que começa em Brasília, descolando DEM, MDB e PSDB. O [José Luiz] Datena pode ser o vice de Covas. Como o sr. vê essa engrenagem?

AM - Você falou certo. Começa em Brasília. Quem manda na cidade hoje é o DEM, sem dúvida nenhuma. Você não despende energia com coisas sobre as quais não tem controle.

Escolhi um partido que, na gestão em que estive, de Gilberto Kassab, pavimentou ruas, fez recapeamento, teve o programa Cidade Limpa, fez 23 CEUs, urbanizou favelas para 52 mil famílias. Temos credenciais.

Como o sr. citou o DEM, é inescapável falar do [vice-presidente da Câmara] Milton Leite. Como será sua relação com ele, se eleito?

AM - O Milton é um trabalhador, só que eu acho que a Câmara não pode ser um puxadinho do Executivo, e menos ainda o Executivo ser um puxadinho da Câmara.

Os Poderes têm de ser independentes, os vereadores têm um valor extraordinário.

Muita gente diz que é difícil tocar a cidade porque tem indicação tem a Câmara, tem o Tribunal de Contas, o Ministério Público. É, tem.

Isso não é justificativa para não funcionar. Vereadores vão te sugerir indicações, e você tem de ter uma comissão para analisar cada perfil, ver se é probo.

E a sua vaga de vice?

AM - Quero alguém com qualificação para ajudar na gestão e, eventualmente, assumir a cidade se por acaso eu morrer.

Mas eu não pretendo nem morrer nem renunciar. Eu pretendo ficar quatro anos e passar para a história como o melhor prefeito que já passou pelo Edifício Matarazzo [sede da prefeitura].

O sr. tem apostado muito na marca Matarazzo. Não teme que isso seja visto como elitismo?

AM - Ao contrário. A família Matarazzo foi a que mais empregou em São Paulo. Sempre valorizamos os empregados.

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RAIO-X

Andrea Matarazzo, 63

Empresário do ramo industrial, nascido em São Paulo, foi secretário estadual de Energia de SP (1988, governo Mário Covas), ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência (1999-2001, FHC), embaixador na Itália (2001-02), subprefeito da Sé (2005-7, José Serra/Gilberto Kassab), secretário municipal de Serviços de SP (2005-06), secretário municipal de Subprefeituras de SP (2007-09), secretário estadual de Cultura (2010-12, Geraldo Alckmin) e vereador em SP (2013-16).