SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Patriota, conservador, ruralista e inimigo do MST, Antônio Ribas Paiva, 71, tem vários predicados para se apresentar como o verdadeiro candidato da “direita raiz” a prefeito de São Paulo.

Como se não bastasse, também é um entusiasta da intervenção militar, que seria usada em momentos em que a classe política “trai a sociedade”.

Paiva é pré-candidato a prefeito pelo PTC (Partido Trabalhista Cristão), que no passado já foi o PRN, legenda pelo qual Fernando Collor se elegeu presidente, em 1989. Hoje, é um partido nanico, mas que busca o cobiçado manto de representante da direita.

O partido fará sua convenção municipal no domingo (13), e o pecuarista é por enquanto o único pré-candidato a prefeito. Mas não está descartada uma mudança de posição de última hora, para apoiar outra candidatura.

Paiva, no entanto, está confiante de que disputará a eleição. Na noite de quarta-feira (9), visitou o acampamento que algumas dezenas de apoiadores de Jair Bolsonaro mantêm ao lado da Assembleia Legislativa, para se apresentar como o único nome em quem eles podem acreditar.

Ele diz que espera ter o apoio oficial do presidente. Afirma que partiu de ex-colegas de Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) o apelo para que se candidatasse.

“Tenho essa promessa [dos amigos de Bolsonaro], que devem ter conversado com ele. Só aceitei porque precisariam de alguém que não fosse político, que fosse novo. O povo está rejeitando esses políticos mais antigos, cascudos. Sou o único pré-candidato de direita raiz”, afirma. Ele não diz quem seriam esses amigos do presidente.

Paulistano, Paiva diz ter sangue bandeirante nas veias. “Minha família está há dez gerações na produção agrícola, por parte de pai e de mãe”.

Afirma ser descendente de Amador Bueno da Veiga (1650-1719), que participou da Guerra dos Emboabas, em que paulistas e mineiros entraram em conflito pelo direito de explorar jazidas de ouro recém-descobertas no interior do país.

Hoje, tem propriedades em Getulina, Promissão e Lins, onde cria gado nelore e planta cana de açúcar, milho e amendoim. Afirma que foi alvo de invasões do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) oito vezes nos anos 1990.

“Eles chegavam botando fogo no capim em que o gado pastava. Mas nunca reagi com violência, sempre consegui expulsá-los pela via judicial”, afirma.

Militante conservador, já se aventurou numa eleição, quando disputou vaga de deputado constituinte pelo PTB. Teve apenas 3.200 votos e desiludiu-se com a política, até ser “convocado” pelos amigos bolsonaristas.

“Sempre considerei o processo politico e eleitoral o cassino do Al Capone. Sempre foi fraudado, desde que roubavam os mapas de votação”, diz ele.

Nas últimas décadas, Paiva participou da fundação de diversas entidades para “defender o contribuinte, que está sendo esmagado”. Entre elas, a Anacon (Associação Nacional dos Consumidores) e a Associação dos Usuários do Serviço Público. Também participa da União Nacionalista Democrática, um think tank conservador.

Ele se define como um nacionalista acima de tudo. “Não admito que potências estrangeiras dominem o Brasil”, diz.

Militou contra a privatização da Vale, nos anos 1990, quando teve bastante contato com o Bolsonaro, ainda na fase pré-Paulo Guedes.

O pré-candidato diz que tem como norte de sua atuação política a defesa de que se cumpra a Constituição. “As autoridades no Brasil não a respeitam, a começar pelo Supremo Tribunal Federal, que invade competências de outros poderes”, diz.

Para dar um basta a esse desrespeito é que ele defende a possibilidade de uma intervenção militar, com base no artigo 142 da Constituição. A grande maioria dos profissionais do Direito rejeita a possibilidade de que a Carta autorize uma ação das Forças Armadas.

A intervenção, prega ele, seria temporária e de caráter corretivo. “No caso de um presidente que não defendesse o Brasil, seria necessária a intervenção militar. Se você tem ladrão na sua casa, você chama a polícia. No Brasil, você tem de chamar as Forças Armadas”, diz.

Apesar disso, ele diz não ser defensor de um governo militar e afirma defender a democracia. “Não sou militarista. Quem gosta de militar é debutante”, diz.

A intervenção, explica, ocorreria sempre por demanda da sociedade. “Sempre que o governante trair o seu dever de ofício, o povo tem o dever de exigir a intervenção, com apoio das Forças Armadas”.

Ele afirma ser contra fechamento do Congresso ou do Supremo, no máximo uma suspensão temporária do seu funcionamento. “Quando você chama a polícia, ela não vai morar na casa. Com os militares ocorre a mesma coisa. Você pode suspender os trabalhos até que sejam corrigidos os equívocos. Decreta intervenção, corrige e convoca eleições gerais”, afirma.

Perguntado se achava que seria o caso de Bolsonaro decretar uma intervenção, afirmou que até o momento não vê necessidade.

Sem um candidato apoiado oficialmente pelo presidente em São Paulo, a disputa pelo eleitorado conservador tem sido intensa.

Tentam abocanhar parte desse voto os candidatos Filipe Sabará (Novo), Arthur do Val (Patriota), Joice Hasselmann (PSL), Levy Fidelix (PRTB), Marcos da Costa (PTB) e possivelmente Celso Russomanno (Republicanos), que ainda não decidiu se entrará na disputa. Mesmo Márcio França, do Partido Socialista Brasileiro, quer atrair votos da direita que faz oposição ao governador João Doria (PSDB).

As propostas de Paiva para a cidade incluem linha-dura contra a criminalidade, com aumento do efetivo da Guarda Municipal dos atuais 6.000 para 22 mil integrantes. Sua vice é Adriana Ribeiro, uma coronel da PM.

Ele também promete ações para tornar os rios Tietê e Pinheiros navegáveis, além da criação de uma rede de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos).

Também anuncia um choque de moralidade na vida pública. “Todos os prefeitos pagam jabaculê para vereadores. Eu não vou pagar. Vou fazer política contra os cartéis e contra os maus representantes do povo”, promete.