Política espelha estrutura que exclui mulheres, diz analista
Estudo mostra que prefeitas vão comandar apenas 9% dos municípios paranaenses; somente duas mulheres foram eleitas na região de Londrina
PUBLICAÇÃO
sábado, 02 de novembro de 2024
Estudo mostra que prefeitas vão comandar apenas 9% dos municípios paranaenses; somente duas mulheres foram eleitas na região de Londrina
Douglas Kuspiosz - Reportagem Local
Com o encerramento das eleições municipais, a desigualdade de gênero no pleito ficou evidente: apenas 9% das prefeituras paranaenses serão comandadas por mulheres a partir de 2025. É o que evidencia um estudo divulgado na última terça-feira (29) pela CNM (Confederação Nacional dos Municípios), que mostra que, em nível nacional, as mulheres representam 13% dos prefeitos eleitos neste ano.
"Em relação à representatividade feminina, 13% dos prefeitos eleitos são mulheres (730, podendo alcançar 734 a depender dos julgamentos). O estado com maior representatividade foi Roraima, com 27%, e o menor o Espírito Santo, com 3%", diz o levantamento da CNM.
A Justiça Eleitoral aponta que, no Paraná, dos 1.139 registros de candidatura ao cargo de prefeito, 86,30% (983) foram de homens e 13,70% (156), de mulheres.
No total, as candidatas venceram em 37 municípios paranaenses, sendo que 18 foram reeleitas, como é o caso da prefeita de Ponta Grossa, Elizabeth Schmidt (União), que superou a deputada estadual Mabel Canto (PSDB) em um segundo turno totalmente feminino.
Um levantamento feito pela Rede Lume mostra que, na RML (Região Metropolitana de Londrina), mulheres venceram em Tamarana, com Luzia Suzukawa (PSD), e Sertanópolis, com Ana Ruth Secco (PL), que foram reeleitas. Também foram eleitas prefeitas em São Sebastião da Amoreira, Quatiguá, Nova América da Colina, Nova Fátima, Andirá e Abatiá, municípios do Norte Pioneiro.
Em Londrina, onde nunca houve uma chefe do Executivo, Maria Tereza Paschoal de Moraes (PP), que retornou nesta sexta-feira (1º) para a Secretaria de Educação, perdeu para o deputado estadual Tiago Amaral (PSD), também no segundo turno. Em Curitiba, Cristina Graeml (PMB) foi derrotada por Eduardo Pimentel (PSD).
POUCO ESPAÇO
O analista político e professor Elve Cenci afirma que, apesar de as mulheres serem maioria no eleitorado brasileiro, elas têm pouco espaço nos cargos eletivos. Entre os 399.730 eleitores londrinenses - que colocam a cidade no posto de segundo maior colégio eleitoral do Paraná -, as mulheres são 54% - mais de 217 mil eleitoras. Porém, na Câmara de Londrina, por exemplo, elas serão minoria na legislatura 2025-2028, com cinco das 19 cadeiras. Para Cenci, há uma desproporcionalidade semelhante à realidade das empresas.
“Nos cargos menores, leia-se vereadoras, temos um número insatisfatório de mulheres em relação ao total de eleitoras. Porém, o quadro piora quando avançamos para cargos mais importantes, a exemplo de prefeitas e governadoras. Ou seja, a política espelha a mesma estrutura social que exclui as mulheres dos cargos de comando na sociedade”, pontua.
O analista acredita que uma segunda causa de exclusão está na estrutura dos partidos, onde há pouco espaço para as mulheres.
“O comando dos partidos normalmente é exercido por homens que decidem quem pode ou não ser candidato. Novamente, sobretudo em cargos mais importantes, são escolhidos filhos ou parentes dos políticos tradicionais. Para comprovar a tese basta ver a composição da Alep [Assembleia Legislativa do Paraná]”, acrescenta. “O comum é a mulher que consegue quebrar as barreiras de gênero ser filha de alguém. E aí, caímos novamente no problema da discriminação de gênero: acima dessa mulher tem um pai ou marido que dá as cartas.”
Cenci ainda destaca que, nas eleições, é comum o preenchimento de vagas com mulheres apenas para cumprir as exigências legais, o que pode configurar fraude à cota de gênero. A Lei 9.504/1997 reserva 30% das vagas em chapas proporcionais para candidatas e, nesta eleição, a Justiça Eleitoral tentou fechar o cerco a essa irregularidade por meio da Súmula 73 do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
“As candidatas não recebem dinheiro em valores suficientes ou estrutura de campanha para se tornarem competitivas”, conclui.