BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A Polícia Civil do Distrito Federal concluiu que Frederick Wassef, advogado do presidente Jair Bolsonaro, foi vítima de tentativa de homicídio após se envolver em uma confusão no mês passado em um restaurante de Brasília.

Com base em depoimentos de testemunhas e nas imagens recuperadas do sistema de segurança do local, os investigadores avaliaram que Wassef não assediou a esposa do empresário apontado como o autor do crime, acusação que motivou o tumulto.

"As diligências, inquirições (depoimentos) e as filmagens do circuito de segurança do estabelecimento, que foram obtidas durante as investigações policiais, apontam de forma segura e incontestável que jamais a vítima Frederick Wassef se aproximou de Márcia Janete Juliani ou do banheiro feminino, muito menos de qualquer outra mulher", diz um trecho do relatório final da apuração, assinado pelo delegado Sérgio Bautzer, da Central de Flagrantes da 1ª DP de Brasília.

No documento, assinado no último dia 18, o policial afirmou que restou "absolutamente comprovado que em nenhum momento houve [por parte de Wassef] qualquer 'assédio', 'gracejo', 'cantada', conduta inapropriada ou mesmo uma simples conversa".

O episódio ocorreu no final da tarde do dia 21 de agosto, um sábado, no Lago Sul, bairro nobre da capital do país.

Márcia é esposa do empresário Adroaldo Juliani. Ele foi preso em flagrante sob a acusação de tentativa de homicídio, ameaça, porte de arma branca (faca) e direção perigosa de veículo em via pública.

Juliani foi indiciado pela polícia. Com ele foram apreendidos uma faca e um canivete. O empresário foi solto na manhã do dia seguinte, após audiência de custódia. A Folha tentou localizá-lo neste domingo (26), mas não conseguiu contato até a conclusão desta reportagem.

Vídeos gravados por pessoas no local mostraram o momento em que o homem segura uma faca e afirma: "Safado, sem vergonha, atacando mulher no banheiro".

O ataque ocorreu após chegar a Juliani uma suspeita de que Márcia teria sido assediada por Wassef no banheiro do estabelecimento comercial.

Segundo a polícia, a versão não se sustentou. Gravações revelaram que o advogado do presidente não se encontrou e nem sequer esteve no banheiro no mesmo momento que ela.

"As 'acusações' feitas pelo indiciado [Adroaldo] no local dos fatos, a partir de uma alegação de sua esposa, são inverdades, e que tais inverdades quase foram usadas para justificar um crime de homicídio", afirmou o delegado Bautzer.

"As filmagens mostram com nitidez e clareza que a vítima Frederick Wassef não foi e muito menos chegou perto do banheiro feminino ou de Márcia."

"Pelas imagens, verifica-se que Frederick Wassef sequer se encontrava dentro do restaurante, tendo ele ficado na rua e na calçada do lado de fora do restaurante, em pé, e duranto todo o tempo falando em seu telefone celular, sozinho, camanhando de um lado para o outro da calçada."

Na ocasião, em entrevista à Folha de S.Paulo, Wassef disse ser "vítima uma vez mais de uma campanha de fake news, porque falaram que eu mexi com uma mulher, o que é absolutamente falso. Trata-se de uma senhora de quase 65 anos".

O caso será analisado pelo Ministério Público do Distrito Federal, que decidirá se apresentará ou não denúncia contra Juliani.

Wassef é um dos mais próximos aliados da família Bolsonaro.

Apontado como operador do esquema ilícito no antigo gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia, o policial militar aposentado Fabrício Queiroz foi preso pela em um imóvel de Wassef em junho de 2020.

A prisão de Queiroz chegou a fazer Wassef submergir e se afastar da família Bolsonaro, mas o criminalista voltou a circular pelo Palácio do Planalto meses mais tarde.