O ministro da Justiça, Flávio Dino, disse nesta quarta-feira (22) que a Polícia Federal encontrou evidências da montagem de bunkers no Paraná para sequestrar ou guardar armas para preparar o assassinato do senador Sergio Moro (União Brasil). Dino afirmou que as investigações começaram há cerca de 45 dias a partir de comunicação do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.

O "Bom Dia, Brasil", da TV Globo, informou que em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, policiais encontraram em um imóvel uma parede com fundo falso onde provavelmente poderiam ser guardadas armas.

Dino declarou que está "havendo mau-caratismo" por parte de políticos que estão associando falas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre Moro com a operação da PF. "É vil, é leviana, é descabida qualquer vinculação desses eventos com a política brasileira. Fico espantado com o nível de mau caratismo de quem tenta politizar uma investigação séria", disse o ministro, em entrevista pouco antes de participar de evento do IASP (Instituto dos Advogados de São Paulo).

Nesta terça, Lula e Moro voltaram a troca farpas. Lula relembrou que, durante o período em que esteve preso em Curitiba, costumava falar para procuradores que iam visitá-lo que iria "f... esse Moro". O senador em seguida rebateu Lula e disse que o presidente quer se vingar do povo brasileiro.

"Investigação essa que é tão séria que foi feita em defesa da vida e da integridade de um senador de oposição ao nosso governo. Não se pode pegar isoladamente uma declaração de ontem, ontem literalmente, e vincular a uma investigação que tem meses", completou o ministro.

INVESTIGAÇÃO

Em relação aos possíveis ataques a Moro, Dino afirmou que há cenários sob análise da Polícia Federal, como a ideia de extorsão mediante sequestro e de homicídios. "Não temos ainda a definição completa disso, porque é a análise do material que vai revelar", disse. "Em relação especificamente ao senador Moro, chamou a atenção e foi determinante para a Polícia Federal o fato de já haver atos de montagem de estruturas para perpetração de crimes no Paraná. Havia compartimentos sendo preparados em casas, compartimentos falsos, paredes falas. Esses compartimentos poderiam ser desde para armazenar armamentos, drogas, como também para guardar pessoas. A Polícia Federal só vai poder concluir isso daqui a algumas semanas", completou.

Indagado sobre a motivação dos criminosos, o ministro disse que ainda não é possível saber, e afirmou que "aparentemente é uma ação nacional, de um lado de retaliação, em face de agentes públicos vários, aí envolvendo ele próprio [Moro], o Ministério Público, agentes policiais de vários estados, e obviamente uma ação de intimidação em relação ao conjunto das autoridades públicas".

Dino disse que há um objetivo de cunho terrorista nas ação investigada, pois ela "tem um corte terrorista no sentido de intimidar o aparelho estatal mediante retaliação no conjunto de agentes públicos".

MANDADOS

A Polícia Federal cumpre na manhã desta quarta (22) uma série de diligências para desarticular um plano da facção criminosa PCC que pretendia realizar ataques contra autoridades. Um dos alvos era o ex-juiz e atual senador Sergio Moro (União Brasil-PR).

São cumpridos 24 mandados de busca e apreensão, 7 de prisão preventiva e 4 de prisão temporária em Mato Grosso do Sul, Rondônia, São Paulo e Paraná. Ao menos 9 já foram presos, sendo 6 homens e 3 mulheres, todos em São Paulo. Dois dos suspeitos continuam foragidos.

"Sobre os planos de retaliação do PCC contra minha pessoa, minha família e outros agentes públicos, farei um pronunciamento à tarde na tribuna do Senado. Por ora, agradeço a PF, PM/PR, Polícias legislativas do Senado e da Câmara, PM/SP, MPE/SP, e aos seus dirigentes pelo apoio e trabalho realizado", disse Moro pela manhã em suas redes sociais.

A ação foi batizada de Sequaz e, diz a PF, tem por objetivo desarticular o grupo que "pretendia realizar ataques contra servidores públicos e autoridades, incluindo homicídios e extorsão mediante sequestro, em pelo menos cinco unidades da federação".

Como ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL), Moro transferiu vários chefes do PCC, entre eles Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, para o sistema penitenciário federal.

O principal líder do PCC foi transferido do sistema penitenciário estadual de São Paulo para a penitenciária federal em Brasília em fevereiro de 2019. Meses depois, seguiu para uma unidade federal em Rondônia e depois retornou para a capital federal.

Além dele, outros 21 integrantes da cúpula da facção foram transportados naquele momento em um avião das Forças Armadas a partir do aeroporto da vizinha Presidente Prudente (SP) para a transferência.

Os ataques contra Moro e outras autoridades, de acordo com a apuração, ocorreriam de forma simultânea, e os principais alvos estavam em São Paulo e no Paraná. Em São Paulo, o alvo era o promotor Lincoln Gakiya, que atua há anos em investigações sobre a atuação do PCC.

Dias antes, Moro pediu estratégia contra o crime organizado em entrevista à folha de londrina

Cinco dias antes de ver seu nome em um plano do PCC para matá-lo, Sergio Moro (União Brasil) concedeu entrevista à FOLHA e comentou não ver políticas direcionadas ao combate do crime organizado por parte do governo Lula, em especial do Ministério da Justiça e Segurança Pública — pasta que o ex-juiz comandou entre janeiro de 2019 e abril de 2020, no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Ainda não vi nenhuma estratégia contra o crime organizado. Vamos ter que aguardar para ver o que esse governo pretende fazer. Chama atenção o fato de estarmos tendo atentados de natureza terrorista no Rio Grande do Norte praticados por organizações criminosas”, declarou o senador na última sexta-feira (17), mencionando a onda de violência que atinge o estado nordestino desde a semana passada.

Moro também criticou o foco dado ao Executivo federal na nova versão do Programa Nacional de Segurança com Cidadania. O Pronasci II, segundo a Justiça, terá esforços integrados e investimentos voltados não somente a forças policiais, mas a áreas como educação, cultura e saúde.

“Insistir em um programa que deu errado não é a melhor estratégia. Isso preocupa quando se coloca como o carro-chefe dentro do Ministério da Justiça”, apontou o senador.

O parlamentar ainda reivindicou mais investimentos em iniciativas como o Banco Nacional de Perfis Genéticos — que ele argumentou ter encorpado quando era ministro. Até dezembro de 2022, eram 175 mil perfis cadastrados a partir de coletas no sistema prisional, enquanto que, conforme Moro, os Estados Unidos têm uma base de dados de 13 milhões de pessoas.

SENADOR DIZ QUE PLANO DO PCC REVELA "OUSADIA ASSUSTADORA"

O senador e ex-ministro da Justiça Sergio Moro (União Brasil-PR) afirmou nesta quarta-feira (22) que o plano da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) contra ele e outras autoridades revela "ousadia assustadora", e ressaltou a necessidade de enfrentar o crime organizado.

"Eu fico alarmado com essa escalada do crime organizado que estamos vendo no país. Estamos assistindo, atônitos, esses ataques à população civil no Rio Grande do Norte. Os fatos de hoje revelam uma ousadia que, se não maior, é igualmente assustadora", disse, em discurso na tribuna do Senado.

"Desconheço, na história da República, um planejamento de organizações criminosas dessa natureza contra o promotor do caso, que investiga o PCC, mas especialmente contra um senador da República", completou.

O senador também resgatou um projeto de lei que ele havia apresentado quando era ministro da Justiça e Segurança Pública para "aprimorar a proteção de agentes públicos, advogado, testemunha, jurado, intérprete ou perito, que estejam envolvidos no enfrentamento ao crime organizado".

O texto torna crime o planejamento de ataque ou grave ameaça contra autoridades que atuam no combate ao crime organizado, e determina que a pena seja cumprida em presídio federal de segurança máxima.

Moro pediu apoio dos colegas para aprovar a proposta e disse que o presídio federal é hoje "o instrumento mais eficaz" contra o crime organizado. "Eles [condenados] sabem que ser transferidos para lá é o fim da linha, até por isso existe esse movimento de retaliação", afirmou.

Como ministro da Justiça e Segurança Pública do governo de Jair Bolsonaro (PL), Moro atuou na transferência de vários chefes do PCC, entre eles Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, para o sistema penitenciário federal.

O principal chefe da organização criminosa foi transferido do sistema penitenciário estadual de São Paulo para a penitenciária federal em Brasília em fevereiro de 2019. Meses depois, seguiu para uma unidade federal em Rondônia e, depois, retornou para a capital federal.

A deputada federal Rosângela Moro (União Brasil-SP), esposa de Moro, acompanhou o discurso no plenário do Senado. Após a fala do ex-ministro, senadores de diferentes partidos manifestaram solidariedade e cobraram ações contra o crime organizado.

Parlamentares da oposição tentaram ainda associar o suposto plano do PCC à fala de um dia antes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que pensava em vingança contra o ex-juiz da Lava Jato quando estava preso em Curitiba. (Thaísa Oliveira/Folhapress)