PL vê Bolsonaro perto de ficar inelegível e aposta em Michelle
Caso das joias enviadas como presente da Arábia Saudita para ex-presidente ampliou entendimento entre aliados de que ele será investigado
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 10 de março de 2023
Caso das joias enviadas como presente da Arábia Saudita para ex-presidente ampliou entendimento entre aliados de que ele será investigado
JULIA CHAIB, THIAGO RESENDE E CATIA SEABRA/Folhapress
A cúpula do PL, partido que abriga Jair Bolsonaro (RJ), avalia como crescentes as chances de o ex-presidente da República ser considerado inelegível pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Dessa forma, integrantes da sigla aumentam a aposta na ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro como ativo eleitoral para 2026.
O caso das joias enviadas como presente do governo da Arábia Saudita para Bolsonaro ampliou o entendimento entre aliados de que ele será alvo de investigações por longo período e que isso abalará sua imagem. Para a cúpula do partido, o caso tem mais impacto sobre a imagem do próprio ex-presidente do que sobre a de sua mulher, embora ela fosse supostamente destinatária de um dos pacotes dados pelo governo da Arábia Saudita -justamente o que foi apreendido pela Receita Federal em Guarulhos (SP).
O PL planeja contratar uma pesquisa de opinião para avaliar o impacto da história das joias sobre a imagem da ex-primeira-dama, considerada uma potencial líder da direita. Embora exista o diagnóstico de que Michelle foi menos atingida do que Bolsonaro pelas revelações das joias, o caso gera apreensão entre aliados. Tanto que a repercussão da história levou o PL a adiar o início de uma série de viagens que Michelle faria pelo país, uma agenda inicialmente prevista para esta semana.
A ex-primeira-dama é citada como opção para concorrer ao Senado pelo Distrito Federal em 2026, mas também é lembrada como nome para disputar a Presidência da República caso seu marido seja impedido pela Justiça Eleitoral. Michelle deve ser confirmada presidente do PL Mulher em evento no dia 21 de março, numa estratégia para mantê-la nos holofotes.
CASO DAS JOIAS
O governo Bolsonaro tentou trazer de forma ilegal para o Brasil um conjunto de joias e relógio avaliado em 3 milhões de euros (cerca de R$ 16,5 milhões).
As joias foram enviadas ao país em duas caixas, carregadas pela equipe do então ministro das Minas e Energia Bento Albuquerque, segundo o qual o presente teria sido enviado para a então primeira-dama.
Logo após a revelação do episódio pelo jornal O Estado de S. Paulo, Michelle alegou que não tinha conhecimento sobre as joias. Já Bolsonaro negou qualquer irregularidade e disse nunca ter pedido ou recebido os itens de luxo.
Apesar da fala, a Folha de S.Paulo mostrou que Bolsonaro recebeu outro pacote de artigos luxuosos. O estojo continha uma espécie de rosário, anel, abotoaduras e relógio. Foi incorporado ao acervo pessoal do ex-presidente.
A avaliação na cúpula do PL é a de que Bolsonaro reagiu mal à notícia e foi o principal atingido pelo caso. O ex-presidente foi aconselhado a devolver os presentes dos sauditas que ficaram com ele para evitar desgastes ainda maiores.
Mesmo com a possibilidade de Bolsonaro ser impedido de disputar novas eleições, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, pretende investir na imagem do ex-mandatário para eleger uma série de prefeitos no ano que vem. A meta do PL é comandar ao menos mil cidades do país a partir de 2024. A estratégia é usar o espólio político do casal Bolsonaro para ampliar o número de prefeituras do partido.
Bolsonaro é alvo de 16 ações de investigação no TSE que podem torná-lo inelegível. Duas delas têm como objeto os ataques ao processo eleitoral e às urnas.
O processo apontado como o mais avançado e provavelmente o primeiro a ser julgado foi apresentado pelo PDT e tem como foco a reunião com embaixadores protagonizada pelo então presidente em julho do ano passado, na qual ele repetiu teorias da conspiração sobre urnas eletrônicas e promoveu ameaças golpistas.

