A pesquisa do Instituto Multicultural/Folha de Londrina/Paiquerê 91,7 que indica a intenção de votos para a Prefeitura de Londrina, divulgada na semana passada, mostra um quadro aberto e políticos ligados a Jair Bolsonaro (PL) ou às pautas do ex-presidente com mais chances de vitória. Segundo analistas ouvidos pela FOLHA, a indicação é que o eleitorado deverá optar por um candidato com perfil conservador e que os apoios do governador Ratinho Junior (PSD) e do prefeito Marcelo Belinati (PP) poderão ser decisivos.

Na pesquisa estimulada (quando os nomes são mostrados para o eleitor), os primeiros colocados são o deputado federal Filipe Barros (PL), com 16,7% das intenções de votos, e o deputado estadual Tiago Amaral (PSD), com 15%. Coronel Villa (que deve se filiar ao PSDB) aparece com 11,7%. Em outro cenário, sem o nome de Amaral, Barros chega a 24,2% e a deputada estadual Cloara Pinheiro (PSD) atinge 16,7%, seguida pelo também deputado estadual Tercílio Turini (PSD), com 10,8%.

Filipe Barros tem vantagem em disputa pela Prefeitura

Para Clodomiro Bannwart, analista político e professor de Filosofia do Direito na UEL (Universidade Estadual de Londrina), o destaque do levantamento são as aprovações das gestões de Ratinho Junior e Marcelo Belinati, o que poderá influenciar na eleição. A aprovação do governador é de 62,5% entre os londrinenses e vem crescendo (em agosto, era de 57%). Já a administração do prefeito é aprovada por 69% (era de 67,5% em agosto).

“O Marcelo Belinati tem um crescimento na aprovação do mandato, é um crescimento robusto, que não oscila. O Ratinho chega perto dos 70% e o Bolsonaro teve praticamente 70% dos votos em Londrina. São três nomes que podem definir ou influenciar a eleição”, afirma Bannwart. “É uma eleição aberta. Trata-se de saber quem tem mais força, o ex-presidente, o governador ou o prefeito”.

CAPITAL POLÍTICO

O especialista avalia que Filipe Barros e Tiago Amaral largam com certa vantagem, mas destaca que o posicionamento de Belinati poderá influenciar. “Barros tem o ex-presidente mais bem votado na cidade e Tiago Amaral representa o partido do governador. O Marcelo Belinati tem dado indicativos de que não vai apoiar ninguém, mas construiu um capital político importante, que serve de negociação. Ele poderá disputar o Senado ou o governo do Estado. Aí entram questões de bastidores, de negociações internas, é um xadrez que não envolve somente a eleição municipal”.

Para o analista, possíveis candidatos que atuam na área da comunicação, como a deputada estadual Cloara Pinheiro e o ex-prefeito Barbosa Neto (PDT), ainda têm força. “O Barbosa Neto já tentou em outra oportunidade ser candidato a prefeito [em 2020], mas não tem mais o status do passado. Se ele sair para vereador pode ser eleito, ainda tem vínculo com programa de rádio. Tivemos o caso da vereadora Lu Oliveira (PL) e da deputada Cloara Pinheiro, que saíram dos meios de comunicação”.

Pré-candidatos à Prefeitura aprovam resultados de pesquisa

Tendência de buscar voto do eleitor bolsonarista

Cientista político e advogado, Marcelos Fagundes Curti também considera que os nomes do deputado federal Filipe Barros (PL) e do deputado estadual Tiago Amaral (PSD), pelas ligações políticas e pelos cargos que ocupam atualmente, ganham destaque na largada para a sucessão na prefeitura de Londrina, o que poderá resultar em uma eleição disputada por grupos políticos que representam a mesma parcela da sociedade.

“Filipe Barros possui como reduto eleitoral o apoio de setores mais conservadores ligados à Igreja Católica e é fortemente vinculado à onda bolsonarista. Já Tiago Amaral possui sua imagem vinculada ao setor agropecuário e provavelmente vai tentar contar com o apoio do PSD, que se encontra em ascensão na elite política paranaense. Apesar de o partido não se identificar com as teses bolsonaristas, é notória a aproximação dos políticos filiados ao PSD estadual junto ao ex-presidente Jair Bolsonaro”, afirma Curti. “Poderemos ter uma situação excepcional na qual os dois candidatos mais bem avaliados na intenção de votos serem adeptos da mesma corrente política, ou seja, o bolsonarismo”.

Outra possibilidade seria os dois políticos unirem forças na eleição do próximo ano. “Dessa celeuma, poderá resultar um acordo entre ambos no qual um cede a vez em prol do outro, ou então poderão unir forças e concorrer pela mesma chapa. Caso contrário, poderá haver um acirramento na disputa com a divisão do bolsonarismo no estado”, diz o cientista político. “Ao que tudo indica, podemos ter em Londrina a disputa entre os grupos ligados ao bolsonarismo para decidir quem vai concorrer ao cargo de prefeito”.

Marcelos Curti lembra que, apesar da alta aprovação de Marcelo Belinati, o eleitor não se sente estimulado a votar em um candidato apoiado pelo atual prefeito (43,3% disseram que não votariam em um candidato apoiado por ele). “Apesar da boa avaliação da sua administração, essa avaliação não se converte, no mesmo patamar, em transferência de votos para o seu sucessor”, afirma. “Trata-se de uma excelente avaliação, ainda mais se levarmos em consideração que estamos partindo para o estágio final do seu segundo mandato. Esses dados poderão ser aproveitados em uma eventual candidatura na eleição de 2026, deputado estadual ou federal, por exemplo”.

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VEREADORES

O cientista político cita ainda os nomes do presidente da Câmara Municipal de Londrina, Emanoel Gomes (Republicanos), e da vereadora Mara Boca Aberta (Pros), que poderiam correr por fora. “Emanoel Gomes tem um trânsito muito forte entre os eleitores evangélicos, que se constituem em um grupo de eleitores bem expressivo no município. Seria interessante avaliar o nome da vereadora Mara Boca Aberta, tendo em vista a sua atuação intensa, tanto na Câmara Municipal quanto junto aos extratos mais baixos da sociedade. Foi a vereadora mais votada na última eleição municipal”.

Avaliações de Ratinho Jr., Belinati e Lula indicam dependência do processo eleitoral

As aprovações das gestões Ratinho Junior e Marcelo Belinati, além da desaprovação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), podem indicar um certo distanciamento do eleitor das gestões e sua dependência do processo eleitoral, avalia o professor e analista político Clodomiro Bannwart. Lula tem 69% de desaprovação (era de 67,5% em agosto). Os índices de aprovação e desaprovação oscilam pouco e são semelhantes aos resultado das urnas.

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“A impressão é de que é um processo continuado da eleição. Isso demonstra que a população fica refém do processo eleitoral e não acompanha a dinâmica da política no intervalo de uma eleição para outra”, afirma o analista. “Pode ser um congelamento do processo eleitoral, as pessoas não acompanham mas ficam de certa maneira prisioneiras do processo eleitoral”.