"Pautas de costumes acabam predominando", diz analista
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sábado, 03 de julho de 2021
Guilherme Marconi - Grupo Folha
Passados seis meses da atual legislatura, a Câmara Municipal de Londrina ainda não debateu temas mais abrangentes de relevância econômica ou social que pudessem garantir protagonismo aos atuais vereadores. A análise é do professor de ética e filosofia política da UEL (Universidade Estadual de Londrina) Elve Cenci. "Apesar do alto índice de renovação, a Câmara precisa ter sua própria agenda, votar projetos relevantes e muitas vezes provocar o Executivo. Não é só na fiscalização, mas é preciso ter uma postura mais pró-ativa em matérias. Isso não aconteceu na legislatura passada, que foi apagada e até foi punida pela alta renovação", lembra o especialista, sobre o resultado das urnas de novembro de 2020, com a mudança de 12 das 19 cadeiras.
Para o analista político, em que pese ainda o curto período para os vereadores novatos se familiarizarem com o novo ofício, o que acabou sobressaindo, segundo ele, foram as pautas de costumes, que nada guardam relação com atividade de parlamentar de uma cidade do tamanho de Londrina, com tantos problemas latentes sobretudo no período pandêmico. "Temos inúmeros exemplos como a tentativa, sem sucesso, de reverter o decreto restritivo do governador Ratinho Junior (PSD). Além da moção de apoio à operação policial no Rio de Janeiro na comunidade de Jacarezinho. Qual é a relação que Londrina tem com a ação, questionável inclusive, da policia por lá?" relembra Cenci.
Na avaliação do professor da UEL, também faltou cobrança do Executivo no rigor dos aspectos cruciais do enfrentamento à pandemia. "Faltou cobrança. Ao meu ver o prefeito adotou uma postura antes das eleições e outra depois agindo sempre a posteriori. E a Câmara caminha no mesmo sentido. Somos uma cidade grande, com problemas complexos e precisamos de uma Câmara à altura. E isso, por enquanto, não tem sido visto." ressalta.
Cenci ainda argumenta que temas cruciais deixam de estar no foco dos parlamentares, mais preocupados ou voltados aos seus nichos. "Essas questões entram em pautas de valores. Numa sociedade plural, essas questões que agradam o eleitorado de um ou outro nicho eleitoral acabam se sobressaindo sobre os grandes debates".
Segundo ele, Londrina vive um problema social grave com pessoas inscritas no cadastro único, na linha da pobreza. "Nós temos um gargalo social que a prefeitura precisa resolver, além das questões econômicas. São sobre essas pautas que eles (vereadores) precisam se debruçar. Se o Plano Diretor não é discutido, por exemplo, é como se os investimentos travassem esperando essa definição. Essas questões estratégias são vitais para o desenvolvimento econômico e social", analisa.

