Imagem ilustrativa da imagem Partido de Alvaro Dias, Podemos já tem segunda maior bancada
| Foto: Roque de Sá/Agência Senado

O equilíbrio de forças no Senado vem sendo redesenhado com o crescimento do Podemos. Com a filiação nas duas últimas semanas do senador Reguffe (DF), antes sem partido, e da senadora Selma Arruda (MT), que deixou o PSL, o partido liderado por Alvaro Dias (PR) chega a 11 integrantes, apenas dois a menos que o MDB, que desde o processo de redemocratização sustenta o título de maior bancada da Casa. O caminho natural para esse avanço é chegar ao comando do Senado na próxima eleição em 2021. O processo chama a atenção do presidente Davi Alcolumbre (AP), que vem procurando cooptar nomes do time de Dias para o seu partido, o Democratas, que conta com seis senadores. “Temos enfrentado um movimento que tenta barrar o crescimento. Há uma pressão sobre três dos nossos senadores”, conta Dias à FOLHA.

Por parte do Podemos, a busca por novos nomes não acontece de forma muito discreta. Já são públicas as negociações para que Flávio Arns (PR) deixe a Rede - comenta-se que a discussão segue bastante avançada - e que outro insatisfeito desembarque do governista PSL, o Major Olímpio (SP). Ele, inclusive, se despediu de Selma Arruda com um “até breve”. O movimento também deve acontecer na Câmara dos Deputados, o partido estima que novos sete deputados irão entrar na janela partidária que se abrirá em abril do próximo ano. “A ideia não é só crescer, buscamos conhecer bem o perfil dos nomes, apresentamos para a bancada antes de propor a vinda”, explica Dias, que foi o primeiro a chegar à legenda, em 1º de julho de 2017, saído do PV.

RECONSTRUÇÃO

Para compreender o atual movimento do partido, é preciso voltar ao tempo. No auge dos protestos que se espalharam pelo País em 2013, iniciou-se um processo de transformação do PTN, que acabou sendo concluído em 2017 com a mudança do nome para Podemos. Originalmente, o Partido Trabalhista Nacional foi fundado em 1945, com base nos funcionários do Ministério do Trabalho. A legenda foi extinta em 1965, pelo AI-2, e voltou em 1995, com o empresário José Masci de Abreu, que concorreu em 2000 à prefeitura de São Paulo. Hoje, a presidência do Podemos é exercida por sua filha, a deputada federal Renata Abreu (SP), que liderou o processo que o partido passa atualmente.

A dirigente afirma que o posicionamento atual da legenda foge da dualidade ideológica polarizada ainda mais a cada eleição no País. A ideia é defender uma orientação de Centro - mas distante da imagem fisiologista do chamado Centrão - e associar a imagem à defesa do combate à corrupção. “Não somos governo e nem oposição. Queremos ouvir a voz das ruas. Nosso perfil é de prezar pela independência dos parlamentares e da aglutinação das ideias”, define Renata Abreu. Em sua liderança, a legenda montou um trabalho de planejamento estratégico para criar uma reflexão interna e começar a desenhar o futuro.

Com a crise de credibilidade dos partidos brasileiros, a ideia da direção do Podemos foi confrontar o modelo de organização política nacional com os mais recentes movimentos surgidos, com grande apoio da opinião pública por todo o mundo, como por exemplo o Podemos da Espanha e o Partido Pirata, na Islândia. O desafio na época não era só se reinventar, como também se manter. Nanico, ainda como PTN, o partido precisava passar pela cláusula de desempenho nas eleições de 2016 para continuar existindo. Naquele momento, a busca para responder às reclamações populares foi a saída. “Definimos as três bases ideológicas para trabalharmos a partir de então. Ampliar a democracia direta, aumentar a participação popular e a transparência. Nosso desafio não foi somente reestruturar o trabalho para os eleitores, como também para os próprios nomes do partido”, afirma Douglas Figueiredo, diretor nacional de Planejamento do Podemos.

VÁCUO

Segundo análise do professor do departamento de Ética e Filosofia Política da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Elve Cenci, o Podemos busca ocupar um espaço deixado pelo PSDB, criado a partir do que considerou uma estratégia suicida do atual deputado federal, ex-senador e candidato a presidente da República Aécio Neves (MG). “Quando ele viu que não ganharia nas eleições, decidiu que a ex-presidente Dilma Rousseff não assumiria. E se assumisse, não governaria. Depois acabou desidratado, indiciado em vários processos. O partido sofreu e hoje foi tomado pelo governador de São Paulo, João Doria”, detalha Cenci. Ele acredita que o Podemos tem o interesse em tratar dos temas antes debatidos pelos tucanos e conquistar o eleitorado. “O partido quer mostrar que pode atuar nas pautas sociais sem o radicalismo do atual governo e tratar a agenda econômica de forma mais moderada que a esquerda”, avalia.

Outra característica fundamental do crescimento do partido, na opinião do estudioso, é o espaço dado para Alvaro Dias, que não só disputou a presidência em 2018 pela sigla, como é o mais experiente do quadro. Se antes seu nome ficava relegado no PSDB, o terreno no Podemos é muito mais fértil. “O Alvaro saiu do PV e abraçou o tema e o discurso da Lava Jato para ele. Agora, tem um partido para chamar de seu e pode colocar em prática toda a sua capacidade política e liderança. Na política não existe vácuo. Um espaço deixado em aberto sempre será ocupado”, pondera Censi, que acredita que o foco principal seja o das próximas eleições presidenciais em 2022. “É uma aposta em que o PT continuará exposto com as denúncias de corrupção e que o governo Bolsonaro irá ter muitas dificuldades”, conclui.

DESAFIOS

Independentemente do futuro eleitoral, o Podemos tem enormes desafios para se firmar como um partido poderoso, capaz de dar as cartas no cenário político nacional. O primeiro deles é constituir uma imagem diferente da legenda da família Abreu, com lideranças locais e com maior poder no diretório nacional, promovendo uma escalada de democracia interna. Apontado por Alvaro Dias como a “verdadeira vanguarda da política brasileira”, o partido precisa dar uma resposta constante sobre suas práticas com processos verdadeiramente transparentes e com rigor ético de seus membros. “Fico feliz que o partido esteja crescendo. Penso que minha participação na política deva servir como exemplo para que outros empresários e profissionais experientes deem sua parcela de trabalho pelo País”, opina o senador Oriovisto Guimarães, empresário do ramo da educação que se lançou na política pelo Podermos do Paraná nas últimas eleições, atraído pelo discurso de mudança.