Caminhoneiros apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) promoveram bloqueios em estradas de 18 estados brasileiros. Os atos começaram na noite deste domingo (30) e se estenderam pela segunda-feira (31). No Paraná, foram ao menos 64 pontos de bloqueio, 40 registrados em rodovias federais.

Foram atingidos os municípios de Almirante Tamandaré, Araucária, Bandeirantes, Barracão, Bituruna, Céu Azul, Chopinzinho, Cruzeiro do Oeste, Fazenda Rio Grande, Foz do Iguaçu, Guaíra, Guamiranga, Guarapuava, Guaratuba, Ibaiti, Irati, Jardim Alegre, Joaquim Távora, Londrina, Mandirituba, Marechal Rondon, Marialva, Maringá, Marmeleiro, Nova Aurora, Paranaguá, Paranavaí, Ponta Grossa, Prudentópolis, Realeza, Santa Helena, São José dos Pinhais, São Mateus do Sul, Terra Boa, Tijucas do Sul, Toledo, União da Vitória e Umuarama.

Na região de Londrina, os caminhoneiros se concentraram na PR-445, nas proximidades do Posto Cupinzão, em Cambé. O caminhoneiro Lourival Santos, que ajudou a organizar o protesto, cujo apelido é “Louro da Londrina”, afirmou que o motivo da manifestação é individual e que cada um que está no movimento parou porque quis. “Para que todo mundo saiba, é uma manifestação ordeira. O pessoal quer ordem e progresso. Foi tirada a democracia nossa ontem (30) através de uma eleição que não concordamos. A partir disso criamos um movimento nacional. Não é só Londrina. O Brasil inteiro está parando”, declarou.

Por lá havia vários caminhões parados, mas os veículos de passeio seguiam o seu fluxo. Alguns motoristas foram abordados pela reportagem, mas não quiseram conceder entrevistas, falando que não tinham a ver com o movimento.


O presidente do Sindicato do Transporte Rodoviários Autônomos de Bens de Londrina e Região, Carlos Roberto Dellarosa, afirmou que a paralisação dos caminhoneiros na região contra o resultado das eleições não partiu do sindicato. "A gente está aguardando uma posição da confederação que representa a nossa categoria e do próprio Governo Federal. Estamos tentando entrar em contato com Brasília, para falar com o Secretário Nacional de Transportes Terrestres, Marcello Costa, para saber a posição da pasta, porque para nós irmos para a rua sacrificando um dia, dois ou dez não vai resolver nada se a gente não tiver uma voz lá na frente. Cada um fala uma coisa sobre o resultado da eleição, mas quem vai acusar? Nós não temos prova que alguém roubou ou deixou de roubar. Nem eles estão conseguindo prova, caso contrário já teriam entrado com paralisação por causa disso. Estamos aguardando para ver o que acontece."

Centenas de caminhoneiros no Estado paralisaram seus veículos nas rodovias do Paraná
Centenas de caminhoneiros no Estado paralisaram seus veículos nas rodovias do Paraná | Foto: Gustavo Carneiro/Grupo Folha

Segundo ele, a paralisação na região de Londrina não partiu do sindicato, mas dos próprios caminhoneiros. "O movimento nacional não tem liderança alguma, mas a gente não pode tomar uma decisão que possa nos prejudicar. Estamos aguardando essa resposta de nossa confederação e do governo."

O Tenente Sidinei Hudach, comandante do BPRV (Batalhão de Polícia Rodoviária), informa que os locais de manifestação em Rodovias Estaduais estão sendo monitorados e equipes policiais estão presentes. “A orientação para os motoristas é de que busquem vias alternativas às rodovias citadas por intermédio de aplicativos de GPS/orientação. No momento estamos monitorando os bloqueios e enviando equipes aos locais para verificar quais os objetivos dos manifestantes”, declarou.

A Polícia Rodoviária Federal, por sua vez, afirmou por meio de nota que sempre trabalhou com o compromisso de garantir a mobilidade eficiente, a preservação da ordem pública, a segurança viária e o combate ao crime nas rodovias federais brasileiras. “Desde ontem [domingo], quando surgiram as primeiras interdições, a PRF adotou todas providências para o retorno da normalidade do fluxos locais e iniciando o processo de negociação para liberação das rodovias priorizando o diálogo, para garantir, além do trânsito livre e seguro, o direito de manifestação dos cidadãos. como aconteceu em outros protestos.”

A PRF afirma que já acionou a AGU (Advocacia Geral da União) em todos os Estados onde foram identificados pontos de bloqueio, para obter interdito proibitório na Justiça Federal, objetivando liminarmente, a expedição de mandado judicial como forma de garantir pacificamente a manutenção da fluidez nas rodovias federais brasileiras.

Tanto a PRF quanto o BPRV afirmam que pode ser aplicado o Artigo 253 do CTB (Código de Trânsito Brasileiro) que diz que bloquear a via com veículo é uma infração gravíssima. A penalidade é a multa e apreensão do veículo e a medida administrativa é a remoção do veículo.

ÔNIBUS

Na rodoviária de Londrina, a paralisação também afetou o fluxo de ônibus de passageiros e o que se viu natarde desta segunda-feira (31) foi um lugar vazio, com poucos ônibus e poucos passageiros, com atrasos de alguns deles. Luiz Carlos da Silva Fantacholi, 20, estudante da UTFPR de Cornélio Procópio, afirmou que veio de Borrazópolis à rodoviária de Londrina. “Para vir para cá já foi complicado. Eu tinha ônibus 12h20 e perdi. Para o próximo, preciso esperar mais três horas e meia para pegar o outro ônibus para ir para Cornélio e não sei se a rodovia está bloqueada daqui para frente. Eu não sei o que esperar. Vai atrapalhar bastante para chegar no meu destino final. Eu tinha que apresentar um trabalho e fiquei sem nota. Isso já me prejudicou bastante.”

Lisanne Nes Venema afirmou que tem uma viagem marcada para o Rio Grande do Sul. “Eu vou perguntar no guichê se vai ter o meu ônibus. Eu fiquei sabendo dos bloqueios pelo motorista do Uber. Preciso ver o que vou fazer, eu estava programando essa viagem há duas semanas. De repente precisarei voltar para casa. Para mim é preocupante, porque a viagem é longa.”, destacou.

Alessandra Lotici, 24, estava esperando na rodoviária de Londrina um ônibus para Chapecó (SC) e afirmou que teria de aguardar até o horário de embarque para saber se o ônibus viria ou não. “E se houver atraso deve entrar em contato com a empresa de ônibus para saber como proceder. De qualquer forma teremos de aguardar”.

MOVIMENTO SE DIVIDE E LIDERANÇAS PEDEM FIM DE BLOQUEIOS

Caminhoneiro autônomo e diretor da CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística), Carlos Alberto Litti Dahmer diz que a manifestação dos motoristas é antidemocrática e não defende os interesses da categoria.

"A pauta que está sendo discutida agora não é uma pauta dos trabalhadores do transporte, não é uma pauta econômica. A pauta econômica que deve ser mantida e levada, independente do governo".

Presidente da ANTB (Associação Nacional de Transportes do Brasil), José Roberto Stringasci afirma que as ações que culminaram nos bloqueios das rodovias não foram organizadas por entidades que representam os caminhoneiros.

Segundo ele, a ação é organizada por pessoas que não participam da categoria e que estão obrigando os caminhões e pararem na pista.

"Não necessariamente é o caminheiro que está parando. Eles estão parados por causa dos bloqueios. Existem alguns caminhoneiros que estão apoiando. Mas não é a categoria no geral que está fazendo. É um ou outro motorista que está participando", diz Stringasci.(Com Folhapress)

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