Brasília - Rodrigo Pacheco (PSD-MG), 45, começou seu mandato como presidente do Senado adquirindo uma notoriedade instantânea, ao liderar articulações para a compra de vacinas e para destravar o Auxílio Emergencial. Passou a ser visto como o ator ideal para liderar o enfrentamento da pandemia, preenchendo o vácuo deixado por Jair Bolsonaro (PL), que preferia se apegar a teses negacionistas. Seu nome passou a figurar na lista de pré-candidatos ao Planalto em 2022. No entanto não demorou para os holofotes se voltarem para outra parte do Senado, com a instalação da CPI da Covid. Além disso, precisou enfrentar focos de insatisfação na Casa, a cobrança por uma postura firme contra os arroubos de Bolsonaro e o desgaste de precisar defender as polêmicas emendas de relator.

Imagem ilustrativa da imagem Pacheco acelera votações, ganha antipatia de Lira e patina como presidenciável
| Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Em paralelo, no plano eleitoral, o senador ainda não passa de 1% das intenções de voto e um dos seus desafios para 2022 será se mostrar um candidato viável. Além da solução para a compra da vacina da Pfizer e Janssen, Pacheco foi o articulador da tentativa de unir todos os Poderes em uma frente contra a pandemia. Conseguiu a façanha de colocar Bolsonaro em uma mesa para discutir e presidir um comitê de crise. Mas seus esforços naufragaram na medida em que Bolsonaro manteve postura negacionista, tirando toda a credibilidade do comitê. Cresceu então a pressão pela instalação da CPI, que o senador buscou evitar o quanto pôde, até que uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) o obrigou.

As cobranças por soluções para enfrentar a pandemia e a condenação do negacionismo passaram então para a CPI da Covid, que se tornou um fenômeno de mídia e nas redes sociais, fazendo com que o presidente do Senado perdesse espaço. A instalação da comissão também estremeceu a relação com os bolsonaristas, que queriam que ele descumprisse a decisão do STF. Flávio Bolsonaro o acusou de "ingratidão", lembrando o apoio de seu pai para a sua eleição em fevereiro.

"Pacheco é um parlamentar tecnicamente preparado e de trato pessoal educado, estes são os pontos positivos da sua atuação", afirma o líder do Cidadania, Alessandro Vieira (SE). "A defesa do orçamento secreto [emenda de relator] e o descumprimento do acordo sobre a PEC dos Precatórios são pontos negativos que devem ser registrados. Também não dá para esquecer que ele dificultou ao máximo a instalação da CPI da Covid."

Longe dos holofotes, Pacheco imprimiu um forte ritmo de votações, avançando principalmente a pauta econômica de interesse do governo. Dados da Secretaria-Geral da Mesa mostram que a Casa analisou, apenas nos 100 primeiros dias de mandato, 107 propostas - a maior produtividade desde 1995.

"Entendo que a produtividade do ano foi mais do que positiva, porque além de todo esse trabalho, nós tivemos que ficar atentos às medidas sanitárias de prevenção ao coronavírus", afirma o aliado e líder do PSD, Nelsinho Trad (PSD-MS).

O Senado aprovou nesse período medidas consideradas polêmicas da agenda econômica, como a privatização da Eletrobras, a autonomia do Banco Central, a alteração no mercado de câmbio e a PEC Emergencial - um dos itens do pacote do ministro da Economia, Paulo Guedes, que permanecia na gaveta.

Não houve acordo, entretanto, para a votação da privatização dos Correios, e o próprio Pacheco se mostrou contrário à proposta de mudanças no Imposto de Renda, capitaneada pela Câmara, o que lhe rendeu a inimizade de Arthur Lira (PP-AL).

Senadores apontam que um dos motivos para avançar as pautas foi a decisão de Pacheco de fortalecer o colégio de líderes de bancada, com reuniões semanais. Melhorou, assim, a articulação para incluir na pauta esses assuntos polêmicos, ao mesmo tempo em que a oposição se viu parcialmente contemplada com algumas agendas. "Rodrigo Pacheco soube botar a bola no chão e jogar junto com os seus pares, respeitando e sabendo construir com as divergências", afirma o líder do PL, Carlos Portinho (PL-RJ).

Por outro lado, Pacheco conseguiu segurar o avanço da pauta de costumes do bolsonarismo, engavetando projetos relacionados a porte de armas, homeschooling, entre outros. Também ganhou novamente a antipatia de Lira ao deixar morrer a reforma eleitoral aprovada na Câmara.