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. | Foto: Divulgação

"Tirem o PT do altar. Por uma igreja sem partido", diz outdoor instalado na manhã desta segunda-feira (30) por fiéis na Rua Adhemar Pereira de Barros, no bairro Bela Suíça, zona sul de Londrina. A placa, assinada pelo movimento #BrasilCatólico, foi cedida por um membro do grupo e critica posições do arcebispo de Londrina, Dom Geremias Steinmetz, tido por alguns fiéis como membro do Partido dos Trabalhadores.

"O movimento começou quando o bispo convocou os católicos a se unirem àquela greve contra a Reforma da Previdência, em uma mobilização que teria [como idealizadores] a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e os próprios manifestantes do PT, e nós, católicos, não aderimos a essa ideia", explica Flávia Batistella, 47, participante do movimento.

Depois do posicionamento da Arquidiocese de Londrina contrário à reforma, em junho deste ano, seguindo a posição da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), alguns católicos foram à Catedral para rezar o terço em protesto à posição da igreja e pedindo a benção ao País. "Porque são duas ideias totalmente diferentes, a do bispo e a nossa, católicos", afirma.

Naquele dia, o grupo de whatsapp Brasil Católico foi criado. "O grupo é aberto e todo mundo posta coisas sobre o PT, partidos do comunismo, marxismo, o que está acontecendo na Venezuela, daí surgiu a ideia de fazer um adesivo", explica. Foram feitos 5 mil adesivos para carros com os dizeres "Tirem o PT do altar". Bruno Pedalino, 63, advogado e dono de um lote com o outdoor, cedeu a placa para o movimento.

"Achamos que política, PT e igreja não combinam", conta Pedalino. Questionado se o desejo do grupo seria um impeachment do arcebispo, o advogado afirma que sim. "Desde que ele [dom Geremias] entrou em Londrina tem agregado líderes do PT na igreja católica. Mais do que isso, ele tem trazido para a igreja os princípios do PT e isso é inadmissível. Política e igreja nunca deram certo, isso é histórico. Igreja é para rezar e pensar em Deus, não se pode usar a igreja para fazer política", conta.

Já para Batistella, a ideia não é destituir o bispo. Ela conta que o objetivo não é fazer guerra, mas expressar o desejo do movimento de não ter pessoas do PT liderando catequese e outros cargos de liderança na igreja. "O significado é 'tire o PT do altar', não tirar as pessoas que são petistas da igreja. Muito pelo contrário, somos todos irmãos", diz. "Quisemos nominar nosso inimigo, que é o PT. Significa que não queremos nenhuma pessoa que seja filiada ao PT em um cargo de liderança dentro da igreja que esteja se beneficiando da igreja católica para fazer partidarismo."

Questionada se o movimento critica especificamente o PT, Batistella explica que o grupo é contrário a todos os "partidos de esquerda que tenham raízes no comunismo" ou "qualquer partido que queira fazer política usando a igreja por seu benefício". Para a empresária, é necessário pessoas da igreja comprometidas com a política, mas "que não busquem seu próprio benefício", enfatiza.

A ideia "tirar o PT do altar" é voltar a unidade da igreja, conclui Batistella. "O dom Geremias chegou dividindo a igreja, fazendo essa manifestação. Cada um tem o direito de pensar como quer, mas isso divide a igreja. Não é tirar o bispo, o que a gente não quer é que causem divisão, para que a nossa fé esteja voltada a Jesus Cristo", diz.

A reportagem procurou a Arquidiocese de Londrina, que até o momento não se manifestou a respeito da placa. Em conversa por telefone, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) afirmou que casos de impeachment de bispos passam pelo Vaticano, que pode indicar outro bispo para investigar, se for o caso. A CNBB disse ainda que não há casos de destituição de bispos por divergência política, e que um processo de impeachment pode acontecer por alguma denúncia de corrupção ou outros delitos.

O QUE DIZ O PT

O presidente do Partido dos Trabalhadores em Londrina, Odarlone Orente, retruca que o PT nunca esteve no altar ou púlpito de qualquer religião. "Parece que estão tentando desgastar uma liderança católica e usando o PT para isso. Não podemos ter partido político metido em questões organizativas da religião, quem prepara os cargos é a democracia interna da igreja. Espero que esse movimento não transforme o catecismo em uma ditadura", disse.

Para Orente, a placa é uma espécie de campanha antecipada para as próximas eleições. "Vão tentar usar o velho discurso de esquerda contra direita e tentar se estabelecer em um processo político eleitoral. O PT espera que a igreja católica resolva seus problemas entre si e deixe o partido em paz."