A Prefeitura de Londrina vai desembolsar R$ 360 mil para comprar quatro carros tipo SUV para três secretarias municipais (Planejamento, Gestão Pública e Políticas para as Mulheres) e a chefia de gabinete do prefeito Marcelo Belinati (PP). Com custo individual de R$ 90 mil, os veículos serão adquiridos da Mundial Motor's, concessionária de Florianópolis (SC), que apresentou o menor preço na licitação.

A empresa catarinense foi a única a enviar proposta. O edital tinha valor original de R$ 363.186,68, mas foi encerrado com R$ 360 mil. A prefeitura argumentou que a compra era necessária "pela frequente necessidade de realização de deslocamentos para além dos limites da cidade de Londrina ou Estado do Paraná para tratar de assuntos de interesse público".

Imagem ilustrativa da imagem Observatório questiona Prefeitura de Londrina sobre compra de quatro carros por R$ 360 mil
| Foto: Roberto Custódio - 18/09/20

Segundo a justificativa, "o modelo SUV possui características que atendem as mais diversas demandas geradas pela administração, pois combinam recursos para a condução off-road, incluindo maior tração e suspensão, com conforto e boa dirigibilidade". Os carros devem ser "de cor branca, zero km, com combustível flex, potência mínima de 110 cavalos, câmbio automático, direção hidráulica, ar-condicionado, alarme, vidros e travas elétricas na quatro portas, câmera de ré", entre outras condições.

O processo foi alvo de questionamentos do Observatório de Gestão Pública. Em ofício do dia 25 de agosto, a entidade fez oito perguntas levantando diferentes questões, como a média de quilômetros rodados nos veículos atualmente usados nas viagens dos órgãos que vão receber os novos automóveis, se o Município já possui em sua frota veículos tipo SUV e o porquê não seria possível a compra de carros mais econômicos.

Procurado pela FOLHA, o secretário de Gestão Pública, Fábio Cavazotti, criticou a forma como o Observatório fez os apontamentos. "Antes de procurar as explicações do poder público, eles têm divulgado as informações na imprensa e em suas redes sociais, o que infelizmente tem virado rotina. Isso levanta algumas dúvidas para a sociedade que facilmente poderiam ser resolvidas em uma reunião, uma conversa. Como ex-membro da entidade, é de se lamentar uma postura como essa", explicou Cavazotti.

Sobre a licitação, o secretário entendeu que a renovação parcial na frota é importante para oferecer melhores condições de conforto e segurança. "Nossos carros já não são mais novos. Não há nenhum luxo. O modelo SUV foi escolhido porque é mais alto, passa melhor em estradas rurais, por exemplo. A última viagem que fiz com o automóvel da Gestão Pública foi para Blumenau. Para se ter uma ideia, voltei com dor nas costas, tive que ficar um dia inteiro deitado", avaliou.

Na opinião de Cavazotti, o custo de R$ 90 mil por veículo é "razoável e compatível com a necessidade da prefeitura. Acho um excesso do Observatório apenas olhar para o lado financeiro. Um SUV como esses permite a viagem de quatro servidores, evitando passagens aéreas. Com os que temos atualmente, não conseguimos viajar em quatro. Não tem a potência adequada para um destino mais longo. Não acho que o poder público tem que ter apenas o que for mais barato. É preciso qualidade e estrutura para que o servidor cumpra sua função", finalizou.

Os quatro carros da marca Tigo ainda não foram trazidos para Londrina. Com a homologação do processo licitatório, o próximo passo é assinar o contrato com a Mundial Motor's e depois emitir a ordem de serviço.

SEM POLÊMICA

O diretor do Observatório de Gestão Pública, Fabiano Abucarub, ressaltou que a entidade se ateve "aos motivos do modelo SUV ter sido definido. Enviamos os questionamentos e recebemos justificativas bem abrangentes. Por exemplo, perguntamos se o aluguel não seria uma opção melhor, mas não fomos respondidos", disse. Ele preferiu não comentar as críticas feitas por Fábio Cavazotti sobre a atuação do órgão de controle.

Conforme Abucarub, o Observatório procurou o número de viagens feitas por secretários municipais no Portal da Transparências, mas não obteve as informações, o que ensejou o envio de um novo ofício. "Queremos apenas o embasamento que justifique a compra. Não há nenhuma caça às bruxas. Estamos apenas cumprindo com o nosso papel, que é fiscalizar os gastos públicos", comentou.

Em nota enviada pela assessoria de imprensa, o Observatório pontuou que "as reuniões são abertas a todos os interessados em participar e os relatos dos assuntos discutidos são publicados nas redes sociais de acordo com a política de transparência da entidade. As divulgações são baseadas em ofícios e respostas públicos disponíveis no SEI (Sistema Eletrônico de Informações) do Município".