‘O maior acerto foi investir nas pessoas’, diz Marcelo Belinati
O prefeito, que governou Londrina nos últimos oito anos, pretende construir uma candidatura ao governo do Estado em 2026
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segunda-feira, 30 de dezembro de 2024
O prefeito, que governou Londrina nos últimos oito anos, pretende construir uma candidatura ao governo do Estado em 2026
Douglas Kuspiosz - Reportagem Local

O prefeito de Londrina, Marcelo Belinati (PP), encerra nesta terça-feira (31) sua passagem de oito anos pela Prefeitura da segunda maior cidade do Paraná. Ele assumiu a administração municipal em 2017, após ter atuado como vereador e deputado federal.
Olhando para os últimos anos, agora com alguns cabelos brancos, Belinati, aos 53 anos, diz que o sentimento é de “missão cumprida”. Ele cita a transformação da cidade na sua gestão e, principalmente, a preparação de Londrina para o futuro - há um avançado processo de atração de indústrias e um novo arcabouço legal, por meio da revisão do Plano Diretor, que deverá dar o norte para o desenvolvimento londrinense.
“Londrina, hoje, está em outra etapa. Não dá para você fazer tudo. Foi um longo trabalho de reconstrução, as escolas estavam caindo, os postos de saúde estavam caindo, estava tudo deteriorado, eram muitos anos sem a manutenção adequada. A cidade é como uma casa, se você não cuidar, vai deteriorando. Agora, precisa avançar cada vez mais”, afirma o prefeito em entrevista à FOLHA.
A partir de 1° de janeiro, Belinati voltará a se dedicar à medicina e trabalhará na articulação de sua candidatura ao governo do Estado em 2026, em que projeta ser um candidato “desvinculado” das forças políticas da capital paranaense. "É um desafio", reconhece o prefeito.
Confira a entrevista completa com o prefeito Marcelo Belinati:
Qual é seu sentimento ao final da sua passagem pela Prefeitura?
A sensação é de missão cumprida. Londrina se transformou, isso é fato. Londrina, hoje, é outra cidade, muito melhor do que era há oito anos. Está preparada para o presente e para o futuro. Nós temos a prefeitura mais transparente do Brasil pelo oitavo ano seguido, temos contas equilibradas, com obras por toda a cidade, grandes indústrias multinacionais vindo para Londrina, o que não acontecia há muitos anos. Temos recorde de geração de emprego, Londrina vive um momento de pleno emprego. O leilão da Cidade Industrial foi um sucesso, são dezenas de indústrias que vão se instalar ali. A cidade de Londrina está vivendo um momento muito bacana, um momento especial, e o londrinense percebe isso. Quando nós entramos, eu sentia que o londrinense estava desanimado, estava desacreditado com o futuro da cidade e ele se reencontrou com a sua autoestima, com o orgulho de ser londrinense, com essa sensação de pertencimento e de saber que mora em uma das melhores cidades do Brasil.
Qual foi o maior acerto da sua gestão?
É difícil a gente falar da gente, né? Foram feitas tantas coisas. Por exemplo, foram milhares de obras em Londrina, escolas, postos de saúde, creches… Londrina tem 100% da iluminação em LED, viadutos, túnel, duplicações e avenidas novas. Mas se teve um acerto, foi investir no ser humano, nas pessoas. As obras, é lógico, beneficiam a população, mas investir no ser humano diz respeito ao trabalho social que foi feito. Hoje, as escolas têm merenda de qualidade, de primeiro mundo, orientada por nutricionistas. O aluno tem material e uniforme escolar. Contratamos mais médicos do que a somatória de prefeitos dos últimos 20 anos. Nós duplicamos o orçamento da Assistência Social, triplicamos o orçamento da Saúde. Tudo isso é investir no cuidado das pessoas, naquilo que mais toca o ser humano. Foram mais de 40 mil cirurgias de catarata, entregamos mais de 15 mil aparelhos auditivos. São alguns exemplos, mas foram ações em todas as áreas. Temos projetos sociais em Londrina fantásticos, triplicamos o investimento no esporte.
O que o senhor lamenta não ter conseguido tirar do papel?
Tem muita coisa que não deu tempo de fazer. Veja, quando você vê uma obra acontecendo, o dinheiro é a parte mais fácil de conseguir. Tem muito trabalho anterior, você tem que fazer o projeto, tem que ter as licenças ambientais, obter todas as licenças que a lei exige. Então, quando você vê uma obra acontecendo, tem um trabalho anterior de pelo menos dois a três anos. Tem muita coisa que está andando. Eu falei para o prefeito Tiago Amaral que, no primeiro ano, ele vai ter dezenas de obras para entregar e para começar, obras importantes e fundamentais. Estamos fazendo três UPAs, seis escolas, a avenidas Constantino Pialarissi e Octavio Genta, que vão se interligar e criar um novo ramal de desenvolvimento para Londrina. Tem muita coisa que eu gostaria que tivesse dado tempo de concluir, como o Aparecidinha, por exemplo. É a maior área de ocupação de Londrina, um povo bom e trabalhador. Nós fizemos todos os projetos, todos os levantamentos, compramos o terreno e agora só falta licitar para começar a obra para levar infraestrutura.
E o Flores do Campo?
Provavelmente antes de sair do mandato, nós vamos dar a solução. Estamos finalizando o entendimento com a Caixa Econômica Federal, com o governo federal, com o governo do Estado, através da Cohapar, para dar um encaminhamento de uma solução para o Flores do Campo. O Ministério [das Cidades] vai nos garantir as 1.218 moradias faixa 1 para as pessoas que têm baixa renda e aquela área vai ser doada para o município - a Prefeitura pode fazer um novo empreendimento no local.
À exceção do Código Ambiental, todas as leis complementares ao Plano Diretor foram aprovadas nos últimos momentos do seu mandato. O senhor acredita que a legislação anterior atrapalhou a sua gestão?
Atrapalhou muito. Londrina criou um emaranhado de leis em que uma legislação não conversava com a outra, uma contradizia outra, e isso trazia muita insegurança jurídica. A Lei de Uso e Ocupação do Solo de 2015 foi uma tragédia do ponto de vista de desenvolvimento. Quando eu entrei na prefeitura, nós criamos uma comissão interna permanente de desburocratização que foi limpando a área, leis que não tinham mais sentido eram canceladas, legislações que prejudicavam a cidade foram alteradas, novas leis foram propostas, e isso foi feito durante o mandato. Agora, a revisão de todo o Plano Diretor transforma Londrina verdadeiramente em uma cidade empreendedora. Com as leis anteriores, 55% de todos os empreendimentos que se propuseram a ser realizados em Londrina, como abrir uma mercearia, um bazar ou um restaurante, e até grandes empreendimentos, foram negados. A lei não permitia. Com o novo Plano Diretor, isso cai para menos de 2%. Conseguimos chegar em um equilíbrio onde a cidade vai ser empreendedora e, ao mesmo tempo, vai privilegiar a qualidade de vida e a sustentabilidade.
Por que não foi possível reabrir ou reformar os parques ambientais de Londrina nos últimos anos?
Nós temos três grandes parques, né? No Parque Arthur Thomas, que é no coração da cidade, foi feita a primeira etapa, implantamos calçadas em todo o entorno - mais de quatro quilômetros - e substituímos todo o gradil por um muro paliteiro, fizemos iluminação em LED também no entorno. Agora, está em obras a parte interna, que deve ficar pronta em abril de 2025 e vai ficar fantástico. Nós concluímos o projeto do Parque Daisaku Ikeda e agora faltam os projetos complementares e licitar a obra. Já iniciamos uma conversa com a Itaipu Binacional, que tem participado de parcerias com os municípios, para que a gente consiga recursos para a obra. É claro que vai depender da próxima administração dar seguimento a isso. E sobre o Jardim Botânico, eu tive a oportunidade de conversar com o governador Ratinho Junior, com o governo do Estado, e eles estão empenhados em buscar uma solução. Ali é um local muito lindo. Londrina tem uma riqueza [ambiental] muito grande, tem esse diferencial.
Um desafio que se agravou nos últimos anos foi o aumento da população em situação de rua. Como o senhor avalia sua atuação nessa área?
Morador de rua é uma questão mundial, [que se agravou] depois da pandemia [da Covid-19]. Para você ter uma ideia, Nova York, a cidade mais rica do mundo, tem 100 mil moradores de rua. São Paulo tem 70 mil, Curitiba, 15 mil. O problema é que alguns falam como se Londrina fosse o único lugar [com esse desafio]. Nós temos os melhores programas sociais voltados aos moradores em situação de rua. Temos cadastrado o nome de todos, a pessoa, se quiser, tem cama, banho quente, alimentação, e tem oportunidade de emprego e de tratamento para a dependência química em álcool e drogas. Se ela veio de fora, nós a abordamos, conversamos com a família, e se ela quiser voltar para a cidade dela, nós fornecemos a passagem. São programas premiados nacional e internacionalmente. O problema é que muitas vezes existe o radicalismo e alguns querem ‘descer a porrada’. Primeiro, que isso é falta de humanidade, são seres humanos. Segundo, que a lei não permite isso. Quem falar que vai fazer ao contrário, não está falando a verdade. Existem leis no país e um dos princípios constitucionais é o direito de ir e vir. Ninguém pode pegar o cara e levar ele internado, porque é um dependente químico. A lei não permite. Não é só Londrina, todas as cidades têm [moradores de rua], e está muito relacionado à saúde mental. São pessoas que precisam do nosso amor e temos que dar condições para elas saírem dessa condição.
Como o senhor vê o processo eleitoral deste ano, que terminou com a ex-secretária Maria Tereza, sua candidata, derrotada nas urnas?
Eu acho que a Maria Tereza foi uma grande vitoriosa, ela não era conhecida da maioria da população e mesmo assim fez 111 mil votos [no segundo turno]. A minha participação na campanha foi pedindo voto para a Maria por entender que ela era nossa candidata. Agora, Londrina escolheu o prefeito Tiago e eu torço para que ele vá bem, para que seja um bom prefeito.
Algumas pessoas que eram da sua base ou trabalharam no seu governo trocaram de lado nas eleições. O senhor se sente traído?
Todos os partidos políticos estavam apoiando o outro candidato. O Podemos, do senador Álvaro Dias, ficou com a gente. Todos os partidos estavam apoiando o Tiago. Muitas vezes a pessoa tem o compromisso partidário dela e a legenda está apoiando outro candidato. Isso não quer dizer que ela não goste da gente. Vejo isso com muita tranquilidade, cada um tem dentro da sua consciência o que é correto ou não. Mas é isso que falei, tem muita gente, grandes companheiros que estiveram com a gente, que nos ajudaram, mas que, eventualmente, o partido estava apoiando o outro candidato.
Qual deve ser a posição do PP na Câmara a partir de 2025, já que o partido possui seis vereadores?
O Progressistas sempre deu muita liberdade para todos que estão nele. Eu creio que o entendimento dos vereadores do PP é o bem da cidade. Se algum deles pedir a minha opinião, eu vou falar que o que é bom para a cidade tem que ser apoiado, estamos todos no mesmo barco.
Quais são seus próximos passos na política?
Eu vou trabalhar para construir uma candidatura do interior do estado para o governo do Paraná. Faz quase 50 anos que a política do Paraná é dominada pelos políticos de Curitiba. Isso é um fato, o último governador do interior foi o José Richa. Será uma candidatura desvinculada desse sistema onde políticos poderosos sentam numa mesa e definem quem vai ser governador ou senador. Eles fazem isso porque são donos do poder político e do poder econômico. É assim que funciona e eu creio que é possível a gente construir uma solução alternativa, desvinculada disso, com um olhar igualitário para todo o estado.
Encerrando sua passagem pela Prefeitura, qual é sua mensagem para o londrinense?
É uma mensagem de gratidão, eu quero agradecer ao povo de Londrina. Foi uma honra ter sido prefeito por oito anos. Eu trabalhei e me dediquei sete dias por semana, 24 horas por dia e dei o meu melhor. Fica a minha gratidão ao povo de Londrina por ter me dado essa honra.

