Depois de duas décadas em queda, a procura de jovens pelo título de eleitor ganhou um fôlego no início deste ano, informou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo o Tribunal, o último levantamento mostra que, até o dia 21 de março, 854.685 jovens entre 15 e 18 anos solicitaram a emissão do primeiro título em todo o país. Todos que completarem 16 anos até o dia da eleição (que neste ano será em 2 de outubro) podem requerer o documento.

Urnas eletrônicas estocadas no TRE de Curitiba - Foto: Theo Marques - 25/9/12
Urnas eletrônicas estocadas no TRE de Curitiba - Foto: Theo Marques - 25/9/12 | Foto: Arquivo Folha

O voto para jovens de 16 e 17 anos é facultativo e foi instituído pela Constituição de 1988. No primeiro ano em que eles puderam votar, em 1989, 101.962 jovens nesta faixa etária foram às urnas no Paraná para a eleição em que Fernando Collor foi eleito presidente. Em fevereiro de 2022, segundo dados do TSE, só 27.765 jovens entre 16 e 17 anos estavam aptos a votar no estado — uma queda superior a 72%, apesar do crescimento populacional registrado nos últimos 33 anos.

O decréscimo foi registrado em todo o país. Nas eleições de 1990, quando foram escolhidos governadores, deputados federais e estaduais e senadores (as primeiras eleições gerais após o fim da ditadura militar), o número de jovens eleitores era de 2.913.789, o que representava 2% do eleitorado brasileiro. Na eleição para prefeitos e vereadores de 2020, eles representavam somente 0,6% do total de eleitores no país: 914.960 em todo o Brasil. Os números mostram uma queda de 68,5% ao longo de 32 anos.

No último dia 28 de março, segundo o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), Londrina tinha 1.851 eleitores nesta faixa etária (533 de 16 anos e 1.318 de 17). Uma queda de 25% registrada na década: em março de 2012, o número de votantes era de 2.469 (535 de 16 anos e 1.934 de 17). Quando analisados os dados de 20 anos atrás, a queda é ainda maior, de 62%. Nas eleições de 2002, a cidade tinha 4.832 jovens eleitores (1.269 aos 16 anos e 3.563 aos 17).

Campanhas

O TSE tem lançado campanhas para tentar despertar o interesse dos jovens pela política. Entre os dias 14 e 18 de março o Tribunal emitiu 96.425 novos títulos no Brasil e no exterior durante a Semana do Jovem Eleitor. O TSE levou em conta todas as emissões do primeiro título, o que inclui jovens de 18 anos que não haviam solicitado o documento anteriormente. No Paraná, o total de eleitores entre 15 e 18 anos chegou a 44 mil, de acordo com o TRE-PR.

A procura foi maior entre os jovens que serão obrigados a votar pela primeira vez neste ano: 35.522 mil títulos foram emitidos para cidadãos com 18 anos. Outros 4.387 mil documentos foram solicitados por adolescentes de 15 anos; 22.934 mil para adolescentes com 16 anos; e 33.582 mil para pessoas com 17 anos. Outra campanha do TSE, chamada Rolê da Eleição, buscou tirar dúvidas desta faixa etária sobre as eleições.

O Tribunal tem contado com o apoio de artistas, que buscam o engajamento dos adolescentes nas redes sociais. A cantora Anitta e as atrizes Bruna Marquezine e Taís Araújo compartilharam apelos em seus perfis para os jovens tirarem o primeiro título. Uma postagem de Anitta chegou a ser compartilhada pelo ator norte-americano Mark Ruffalo, o Hulk do filme "Vingadores: Ultimato".

Outro impulso pode ter sido dado no festival Lollapalooza, realizado de 25 a 27 de março, em São Paulo, quando Anitta e o vocalista do grupo Planet Hemp, Marcelo D2, incentivaram os jovens a participarem das eleições deste ano.

Desgaste

Entre as causas que podem ter levado os jovens a se afastarem da política estão os escândalos de corrupção, o desgaste de imagem dos partidos políticos e a influência das redes sociais. "De 2010 a 2016 houve um processo de desgaste muito grande da representação política. É um fenômeno universal", disse o cientista político Cezar Bueno de Lima, professor da PUCPR. "Houve um distanciamento geral e também dos jovens, que não veem na política uma alternativa interessante".

As redes sociais podem ter influenciado nesse processo, ao promoverem uma polarização sem que os debatedores busquem um entendimento ou um aprofundamento maior dos temas. "Isso também tem a ver com o avento das redes sociais, que não necessariamente politizam, no sentido ideológico. É um debate mais emotivo, polarizado mais em questões morais do que ideológicas".

Outro efeito das redes, avalia o cientista político, pode ter sido uma personalização excessiva, em que as figuras de Jair Bolsonaro (PSL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acabaram aparecendo mais significativas que os partidos ou as ideias que defendem. "Isso canaliza essa polarização em torno de uma personalidade extraordinária, no sentido em que não está no dia a dia, e que tem capacidade de identificação através do discurso".

À direita

Em 2018 um fenômeno foi observado nas eleições presidenciais: grande parte dos jovens eleitores votaram no então candidato Jair Bolsonaro (PL), um líder da chamada extrema-direita. Segundo Cezar Bueno de Lima, essa tendência foi observada em todo o mundo. "O ativismo político de direita foi mais fomentado nas redes sociais. Os jovens ficaram mais liberais em termos de economia e conservadores do ponto de vista dos costumes. É um fenômeno que aconteceu em vários países e que no Brasil se mostrou através de grupos como o MBL (Movimento Brasil Livre)".

A sucessão de eleições realizadas sem golpes ou intervenções, algo comum na história republicana brasileira, também pode ter ajudado a "amortecer" o ímpeto da juventude, já que eles não participaram da luta pela redemocratização, por exemplo. A tendência à direita também poderia ser explicada por esse ambiente.

"Jovens que nasceram entre 2004 e 2005 não viram, por exemplo, o processo de privatização das estatais. Eles sempre rodaram por estradas privatizadas (ou controladas por empresas privadas), para eles isso é natural. Como essa juventude nasceu em uma sociedade basicamente privatizada, ela tende a naturalizar isso, o que pode provocar uma afirmação das convicções políticas mais liberais e mais refratárias ao Estado".

Em visita a Londrina neste mês, o presidente do TRE-PR, desembargador Wellington Emanuel Coimbra de Moura, avaliou que os casos de corrupção e as notícias falsas disseminadas no debate político podem ter contribuído para o afastamento do eleitorado mais jovem. "No mundo virtual transitam informações verdadeiras e falsas. Todos temos que estar atentos às informações que recebemos, não acreditar nelas de início e sempre procurar checar em fontes confiáveis, como a própria Justiça Eleitoral".

On-line

O título pode ser solicitado pela internet, no site do TRE-PR, no endereço www.tre-pr.jus.br. O portal do TRE-PR abriga informações sobre eleições, serviços ao eleitor, pesquisa de jurisprudência, publicações e outros assuntos de escopo eleitoral. Todo o acompanhamento também pode ser feito on-line. Além de possibilitar que o requerimento da primeira via do título seja feito sem sair de casa, o site permite aos eleitores fazer a transferência de domicílio eleitoral, verificar débitos e solicitar a mudança do local de votação.

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