Imagem ilustrativa da imagem Novas jogadas no velho tabuleiro
| Foto: AFP / Miguel Schincariol
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A soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), há uma semana, deve alterar a dinâmica do complicado cenário político brasileiro. Independentemente do encaminhamento dos processos em que está implicado na operação Lava Jato, ele afirmou em discursos recentes que partirá para o enfrentamento contra o governo do presidente Jair Bolsonaro. A estratégia ainda é uma incógnita, mas analistas políticos já começam a medir os impactos. A polarização política deve ser ampliada. “Bolsonaro tem um estilo confrontador. Foi o candidato que carregou bandeiras contra a esquerda, o Petismo e o Lulismo. Não foi ele que criou esse movimento, mas soube surfar bem na onda e o embate é bem provável”, afirma o cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Ele cita o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan para definir a realidade política nacional. “No Brasil, até o passado é incerto”.

Os resultados da polarização política podem parecer vantajosos para o atual governo, segundo avalia o professor de Ética e Política da UEL (Universidade Estadual de Londrina) Bianco Zalmora Garcia. “As raivas estavam até contidas, apesar de o Bolsonaro sempre pôr lenha na fogueira. Ele e seu grupo político acreditam que inflando esses movimentos acabam se favorecendo. Mas, na verdade, não pensam nas consequências para o Brasil”, critica. O especialista, no entanto, aponta que a construção de um discurso que divide “nós e eles” é de responsabilidade do próprio Lulismo. “Um caudilho como o Lula precisa da dependência política para se manter. É claro que uma liderança precisa ser forte para se manter no poder, mas também é necessário olhar as necessidades do País”, avalia Garcia.

Os arranjos políticos elaborados para as últimas eleições presidenciais em 2018, especialmente entre os políticos da esquerda, demonstram que não há uma unidade de discurso, nem tampouco um projeto para o Brasil. “O PT poderia ter feito uma autocrítica, ter apoiado Ciro Gomes (PDT), mas o desejo de Lula foi diferente, resolveu isolá-lo. Já haviam detonado a campanha da Marina Silva (Rede), em 2014. O resultado é ressentimento e desunião”, lembra Prando, que ainda acredita que o ex-presidente não seja imbatível e invencível. “Infelizmente, o eleitor brasileiro ainda está preso a candidatos que se figuram como heróis. O próprio Bolsonaro, assim como Lula, se baseia numa lógica muito personalista”, compara.

CENÁRIOS

Os cenários possíveis de um caminho para o ex-presidente guiar seu partido nos próximos anos, mesmo que permaneça inelegível – enquadrado na lei da Ficha Limpa pela condenação do triplex no Guarujá, em São Paulo –, são variados, mas ainda é preciso esperar suas próximas jogadas. Vale lembrar que as quatro vezes em que o PT chegou à Presidência da República foram no segundo turno e com a aliança dos partidos de centro. “Lula é inteligente, mas é preciso saber se ele vai escolher radicalizar e partir para o confronto ou caminhar para dialogar com antigos aliados como o próprio MDB. Na política, o que não se pode é perder, todos os arranjos são possíveis”, explica Prando. Tradicionalmente fisiologista, o Centrão deve começar a pesar para que lado tem mais ganhos, se com o governo ou com a oposição, que hoje ocupa aproximadamente um terço dos assentos no Congresso.

Principal liderança da esquerda, o ex-presidente é alvo de críticas, em proporção ao papel que poderia desempenhar na política nacional. No entanto, segundo a avaliação de Garcia, a vertente política não tem projeto e mantém Lula como seu principal personagem. “O lulismo funcionou como um câncer para o partido e para toda a esquerda. Não permitiu que novos caminhos se criassem”, critica. Para o cientista político, Lula deveria se retirar do papel de candidato e ajudar a formar um projeto de País e para a esquerda. “Algo que pudesse ter um apoio amplo e que servisse para combater o reacionarismo do Bolsonaro, mas essa é uma medida que parece muito improvável. Essa mudança não seria para aquilo que foi chamado de Lulinha, paz e amor, que foi outra farsa. É um olhar para o futuro sem sede de vingança”, conclui o professor.