A formação da Câmara de Vereadores de Londrina eleita no último domingo tem um perfil de direita muito mais acentuado que os partidos representados na eleição de 2020, quando mais legendas progressistas conseguiram cadeiras. E, embora esse recrudescimento da direita dificulte discussões de pautas progressistas, para especialistas da área, o perfil pouco muda entre as duas composições, já que depende da postura pessoal do parlamentar.

Na eleição anterior, doze partidos tiveram representantes eleitos, entre os quais alguns mais identificados com o espectro da esquerda, como o PT, PSB e o PTB. No domingo, entretanto, apenas seis legendas obtiveram representação, dos quais quatro partidos de direita (Republicanos, PP, PL e PSD), um situado entre a centro-esquerda e a esquerda (Avante, ex-PT do B), e o PT - que elegeram, os dois últimos, um parlamentar cada.

Nesta toada, nove vereadores pertencentes a partidos do espectro ideológico da direita foram eleitos e outros oito, reeleitos, chegando a 17, calcula o advogado e cientista político Marcelos Fagundes Curti. “A julgar por este quadro, podemos esperar que somente pautas consideradas conservadoras vão dar o tom dos trabalhos da casa legislativa nos próximos quatro anos. Pautas ditas progressistas, infelizmente, não terão trânsito na Câmara de Londrina”, pontua.

O também advogado especialista em direito eleitoral Nilso Paulo da Silva considera que a atuação dos vereadores é mais calcada em ideais próprios que pela identificação partidária. “A próxima legislatura tem o Santão, a Michele Thomazino e a Jessicão. Mas, enquanto os dois primeiros são do PL, a terceira é do PP”, recorda, comparando as linhas de atuação dos três.

Outro ponto que indica a ausência de conexão com os propósitos partidários é a troca de legendas. “O Robert Fu saiu do PDT e foi para o PL. O [Marcelo] Oguido e a Flávia Cabral eram do PTB e foram para o PP. Então, a conclusão que eu chego é que é uma questão mais pessoal [do que de idealismo partidário]”, exemplifica.

Ambos os especialistas ressaltam, entretanto, a notável redução de legendas representadas na Câmara de Vereadores, com concentração em dois principais - o PL e o PP, ambos com seis eleitos. “Essa maior aglutinação em poucos partidos está em consonância com o processo de redução do número de partidos, em curso no Brasil, em decorrência das recentes alterações nos sistemas eleitoral e partidário”, ressalta Curti.

Para Silva, o grande número de legendas é algo que leva à atuação mais personalizada do vereador. “O partido se constitui para enfileirar uma ideologia. Quando passa de 30, então, como fica a questão ideológica? Esse alto número de legendas é utilizada como ferramenta de eleição”, destaca

Apoio ao próximo prefeito

Ao olhar os partidos aos quais os eleitos são ligados, um eventual governo de Tiago Amaral (PSD) teria mais facilidade para compor uma maioria no Legislativo que Maria Tereza (PP), na visão de Curti. Isso porque, enquanto a pepista teria, em tese, seis cadeiras no parlamento municipal, o pessedista conta com os dois parlamentares eleitos pelo PSD mais os seis do PL, com quem está coligado na campanha.

Já para Nilso Silva, para além da fotografia da filiação partidária, ambos os candidatos teriam pouca dificuldade com o Legislativo, uma vez que cada vereador estará mais focado em suas próprias questões.

“Temos dois eleitos focados na causa animal, temos ao menos quatro vereadores ligados a comunidades de bairros, dois ligados à igreja, outros dois ligados aos esportes, por exemplo. A bancada não se forma neste sentido ideológico. Por isso, qualquer um que seja eleito, não vejo nuvens escuras no futuro por questões ideológicas”, conclui.