SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com potencial para mudar os rumos da eleição para a Prefeitura de São Paulo, as eventuais candidaturas de Marta Suplicy (Solidariedade) e Celso Russomanno (Republicanos) são vistas com ceticismo pelos pré-candidatos já lançados na disputa.

Deputado federal e apresentador de TV, Russomanno é descrito por adversários como um candidato popular, que brigaria no campo da direita contra Andrea Matarazzo (PSD), Joice Hasselmann (PSL), Arthur do Val (Patriota), Filipe Sabará (Novo) e Levy Fidelix (PRTB), além de competir com Bruno Covas (PSDB), candidato à reeleição.

O Republicanos chegou a anunciar a pré-candidatura de Russomanno nesta sexta-feira (7), mas ele próprio ainda resiste à ideia, diante do desgaste de uma campanha. O partido insiste no lançamento, para ajudar a eleger a bancada de vereadores -uma vez que as coligações proporcionais estão proibidas.

Ex-prefeita e ex-senadora, Marta é considerada uma candidata forte na periferia e, mais alinhada à esquerda, iria disputar votos com Guilherme Boulos (PSOL), Márcio França (PSB) e Jilmar Tatto (PT).

Depois de vencer em 2000, ela perdeu no segundo turno em 2004 e 2008, sempre no PT, e terminou em quarto lugar em 2016, pelo MDB.

A aposta geral, porém, é de que a ex-prefeita não lançará uma candidatura própria. Seus adversários acreditam que ela não apresentaria seu nome num partido pequeno, sem tempo de TV, sem alianças e sem capilaridade. Sobretudo depois que o presidente da legenda, Paulinho da Força, foi alvo de ação da Lava Jato e está na mira da Justiça.

Marta tem se colocado como opção de vice e, mais do que levar seu nome para a urna, seu principal objetivo é construir uma frente ampla de oposição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Depois de trocar o PT pelo MDB e de votar pelo impeachment da petista Dilma Rousseff, Marta voltou a atuar no campo progressista e saiu em busca de alianças. Hoje a tendência é que ela integre a campanha do prefeito Bruno Covas, como vice ou apoiadora.

A ex-prefeita tentou uma reaproximação frustrada com o PT e o PDT, e também dialogou com França, mas abandonou a ideia quando o pessebista passou a acenar para Bolsonaro -nesta sexta, por exemplo, ele chegou a acompanhar o presidente em visita à Baixada Santista.

A candidatura do prefeito Covas, tida como de centro, é a com maior potencial de frente ampla, por ter o apoio de variados partidos.

O embarque de Marta depende ainda da definição do posto de vice, cargo oferecido ao apresentador José Luiz Datena (MDB), e do compromisso do prefeito com as bandeiras dela, como o caráter progressista e o engajamento com a periferia.

Ainda que vista como menos provável, a participação de Marta na corrida como cabeça de chapa chega a ser elogiada até entre adversários.

"Marta é um nome que acrescenta para a disputa. É experiente e tem marcas fortes em São Paulo. Teria pouco tempo de TV, mas é uma política de fôlego", diz França.

"Jamais faríamos uma disputa direta com a Marta. Ela está no nosso campo. A gente a respeita muito. Ela representa setores populares em São Paulo", afirma o deputado estadual José Américo (PT), coordenador da comunicação da campanha de Tatto.

A ex-senadora buscou ser vice de Fernando Haddad (PT), mas a escolha do partido por Tatto minguou seu apoio ao partido O próprio Tatto, porém, que foi secretário municipal na gestão dela, gosta da ideia de tê-la como vice.

Apesar de verem indícios de que Marta não será candidata, os petistas já se preparam para disputar com ela o legado do PT na cidade. Aliados de Tatto minimizam o perigo que ela representa e apostam que a força do PT daria mais votos a ele.

A cada eleição, Marta foi perdendo votos: 3,2 milhões em 2000, 2,7 milhões em 2004, 2,4 milhões em 2008 e 590 mil em 2016. Sua votação é concentrada na periferia --na última campanha, ela bateu o vencedor João Doria (PSDB) em Parelheiros e no Grajaú.

No lado da direita, a indefinição é por causa de Russomanno. O impasse a respeito de sua candidatura foi discutido em reunião entre o deputado e dirigentes partidários no fim da tarde de sexta.

Em uma live, Russomanno afirmou que aceita a missão do partido de ser pré-candidato. Caso o deputado mantenha a candidatura até a eleição em novembro, sua exigência será não usar o fundo eleitoral e financiar sua campanha apenas com doações.

Na opinião dele, não é razoável usar verba pública para campanha num momento em que o país precisa desses recursos para combater a pandemia do coronavírus.

Russomanno largou na frente em pesquisas nas duas campanhas em que concorreu à prefeitura, em 2012 e 2016, mas acabou em terceiro lugar. Por isso, seu potencial eleitoral é minimizado pelos adversários, sobretudo porque o deputado não está bem colocado nas sondagens atuais.

Russomanno caiu no número de votos entre 2012 e 2016, de 1,3 milhão para 790 mil. Por outro lado, tem a simpatia do eleitorado evangélico e tem um possível apoio de Bolsonaro como carta na manga.

O Republicanos é o partido que abriga dois dos filhos de Bolsonaro no Rio de Janeiro, e o presidente da sigla, o deputado federal Marcos Pereira, é aliado do presidente.

Mas mesmo esse trunfo é diminuído pelos demais pré-candidatos paulistanos, uma vez que Bolsonaro já sinalizou que não participará das eleições municipais.

Além disso, o apresentador de TV não seria o único à espera de um aceno de Bolsonaro -Levy Fidelix, no partido do vice Hamilton Mourão, também quer o apoio do presidente. Enquanto isso, Sabará, Matarazzo e até França buscam alinhamento com Bolsonaro.

Para os tucanos, o lançamento da pré-candidatura de Russomanno é um movimento para pressionar Covas a ceder mais espaço em seu governo em troca do apoio do Republicanos. O entorno do prefeito acredita que Russomanno irá desistir diante do grande prejuízo político de uma campanha.

O fato de o Republicanos ter composto a base do prefeito nesses quatro anos é outra questão apontada por adversários como uma fragilidade na eventual campanha de Russomanno, que não poderia criticar a atual gestão.