Prestes a entrar na metade final do segundo mandato, o prefeito de Londrina, Marcelo Belinati (PP), foge do tom costumeiramente conciliador e, em entrevista exclusiva à FOLHA, reforça críticas já feitas em suas redes sociais contra apoiadores radicais do presidente Jair Bolsonaro (PL), seu antigo colega de Congresso e partido.

O chefe do Executivo ainda dispara contra a oposição no Legislativo local – que, para ele, tem atuado na base do “quanto pior, melhor”. E, por enquanto, não revela abertamente quem será seu escolhido para concorrer nas eleições de 2024.

Além dos conflitos políticos, problemas enfrentados pela população de Londrina também foram tema da conversa. Entre eles, as reclamações de usuários sobre a demora para conseguir atendimento médico e os transtornos causados por obras como a da trincheira das avenidas Leste-Oeste e Rio Branco.

FOLHA - Como é que você chega nessa metade do segundo mandato? Está mais cansado, mais desgastado?

Estou mais animado do que nunca. Chato, crica, pego no pé. Tudo com carinho. E a missão é muito grande, porque tem muito mais coisas para acontecer em Londrina.

A prefeitura também conseguiu um respiro no caixa com a revisão da Planta de Valores do IPTU...

Não.

Não teve impacto?

Foi um conjunto de ações. É a Planta de Valores, com a reforma administrativa que fizemos, com a reforma da previdência, com a reestruturação interna da prefeitura. É a privatização da Sercomtel, é o corte de excessos que existiam em várias áreas da administração. Tudo medidas duras, mas que colocaram novamente a cidade no rumo.

A Câmara aprovou em 2022 um empréstimo de R$ 100 milhões para a prefeitura. Ainda assim, o Executivo consegue manter as contas equilibradas?

Imagem ilustrativa da imagem ‘Não queira que eu defenda golpe e ditadura’
| Foto: Gustavo Carneiro

Porque são linhas de crédito oferecidas pelos governos a juros muito menores do que os do mercado. Você compra um carro à vista ou você financia? Se você comprar à vista, compromete todo o equilíbrio financeiro. Você parcela em suaves prestações, dentro do orçamento da prefeitura, o que te dá comodidade e a tranquilidade de saber que será adimplente.

Falando em finanças, já há uma perspectiva de superávit no início do próximo ano. Para onde esse recurso vai?

Primeiro a gente tem que ver de quanto é o superávit efetivamente. Mas vai ser utilizado para as obras e melhorias da cidade. Vamos construir a Casa da Mulher Londrinense, que vai abrigar todos os serviços de proteção à mulher. Vamos fazer as três UPAS.

Na verdade, é PAM, né?

Não é uma UPA, tecnicamente falando, porque ela não tem cofinanciamento do governo federal. O governo do estado vai nos ajudar a construir os prédios, mas a administração e o custeio serão exclusivamente do município. Vai ser um pronto-atendimento 24 horas no modelo que tem hoje no Jardim Leonor. Porque nós temos um problema: temos três unidades 24 horas na mesma região da cidade [zona oeste]. E a ideia é descentralizar.

A última pesquisa feita pelo Instituto Multicultural, com a FOLHA e a Paiquerê 91,7, mostrou que a principal queixa da população é demora no atendimento na saúde. Por que essa dificuldade em sanar essa questão?

Tem gente que reclama, muitas vezes, sem usar. Tem um processo todo de reestruturação da saúde pública de Londrina. Nenhum hospital é da prefeitura. Claro que se, eventualmente, acontece alguma coisa num hospital, automaticamente a pessoa entende que é uma responsabilidade da prefeitura. E são todos ótimos hospitais, viu? Nós contratamos mais médicos do que os prefeitos dos últimos 20 anos contrataram todos somados. Nós já reformamos 38 unidades de saúde, faltam as últimas 16 agora que nós estamos em processo de ou feitura de projeto ou licitação. O PAI, por exemplo, tem de seis a oito pediatras de plantão. As UPAS têm em torno de oito médicos de plantão. Eu desafio alguém a achar em algum lugar do Brasil que tenha isso.

Uma obra grande é a trincheira da Avenida Rio Branco com a Avenida Leste-Oeste, mas está desgastando moradores do entorno e motoristas e reverberando na Câmara, com muita reclamação dos vereadores...

Imagem ilustrativa da imagem ‘Não queira que eu defenda golpe e ditadura’
| Foto: Gustavo Carneiro

Para fazer omelete, tem que quebrar o ovo. Tecnicamente falando, ela ainda não está atrasada. Vai atrasar. É uma obra grande, Londrina tem características peculiares. Eu não sou engenheiro, mas o cara começa a perfurar, daqui a pouco acha essas pedronas.

Você fica em cima? Te incomoda?

Claro que fico cobrando, opa. Tanto a qualidade, os prazos, enfim. Gera transtorno, é difícil. Imagina, aquele treco aberto, terra. Infelizmente, é um transtorno que tem que se passar. E tem que minimizar ao máximo esse transtorno. Infelizmente, não dá para minimizar tudo.

Temos uma Câmara com vereadores apresentando diversas pautas de costumes, que fogem um pouco da alçada do que interessa para o município...

Fogem totalmente, né.

Você é do Progressistas [PP], que é um partido que fez parte da base do presidente Bolsonaro, mas já se manifestou a favor de projetos que vão contra essa ala mais radical dos vereadores. Como é que você explica isso?

Eu tenho minha forma de pensar e não vou deixar jamais de manifestar aquilo que eu penso e acredito. Eu acredito muito no respeito ao ser humano.

Meu partido apoiou o Bolsonaro, me dou bem com ele, é meu amigo – apesar de não concordar com um monte de coisa que ele fez e faz. Acho que ele perdeu a eleição para ele mesmo.

O Lula ganhou a eleição, o Lula é o presidente do Brasil. Quero ficar triste, quero me manifestar? Faz parte do processo democrático. Agora, não queira que eu defenda golpe e ditadura. Eu tive pai de amigo meu que foi torturado violentamente porque pegou a motoquinha dele, foi lá no Calçadão, botou uma caixa de som e criticou a ditadura.

Como é que você avalia sua oposição na Câmara sendo formada principalmente por vereadores atrelados a pautas do bolsonarismo?

Tranquilo. A única coisa que, francamente, eu não acho legal é que muitas vezes fazem oposição sistemática e votam contra o povo de Londrina.

Tem algum exemplo disso?

Os recursos de R$ 100 milhões, linha de crédito com a Caixa. São recursos para asfaltar, levar água, esgoto, iluminação para os bairros mais pobres de Londrina. E vereadores votaram contra. E a própria oposição vai lá e critica que não tem asfalto. Sabe aquele negócio do quanto pior, melhor? Eu respeito a oposição, só não acho que é legal votar contra a cidade.

A gente imagina que você já esteja pensando na sucessão...

Não estou. Eu estou absolutamente focado em fazer as coisas acontecerem. Nós temos uma lista de 168 obras para “estartar”, fora tudo o que está acontecendo. O que eu espero é que Londrina, independente de quem seja o prefeito, continue crescendo. Mas eleição nós vamos pensar no momento adequado.

É porque os adversários já estão pensando, como você também fez antes de ser prefeito.

Ah, mas deixa eles pensarem. Enquanto eles vão pensar nisso, eu falo para a equipe que nós temos que trabalhar. Porque, com o trabalho, as pessoas enxergam o resultado. Entregando, com certeza você vai ter uma melhor condição até da questão político-eleitoral.

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