Deputado federal reeleito, Enio Verri (PT) é mais um paranaense confirmado na equipe de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O parlamentar, que é natural de Maringá (Noroeste), se junta às ex-ministras de governos petistas Marcia Lopes (Londrina) e Gleisi Hoffmann (Curitiba). Verri ficará na área de Planejamento, Orçamento e Gestão. O também ex-ministro e ex-deputado federal Paulo Bernardo, que é paulista mas fez sua carreira política em Londrina, onde foi candidato a prefeito em 1996 e participou da administração de Nedson Micheletti (2001-2008), vai integrar a área das Comunicações, pasta que comandou na gestão de Dilma Rousseff.

Imagem ilustrativa da imagem Na transição, Verri destaca recriação do Ministério do Planejamento
| Foto: Billy Boss/Câmara dos Deputados

Junto de Verri no Planejamento estão o ex-ministro da Fazenda de Dilma, Guido Mantega; a economista e professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Esther Dweck; e o presidente do Cofecon (Conselho Federal de Economia), Antonio Corrêa de Lacerda. A primeira reunião do grupo será nesta segunda-feira (14), on-line. A partir de quarta (16) estão previstos encontros presenciais.

Verri contou à FOLHA que recebeu o convite na última quarta-feira (9), o que foi uma surpresa. “Não esperava. Me senti desafiado”, afirmou. O deputado é formado em Economia pela UEM (Universidade Estadual de Maringá) e foi secretário de Fazenda da Cidade Canção no início dos anos 2000. Também foi chefe de gabinete do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e em 2006 se tornou secretário de Planejamento e Coordenação Geral do Paraná, na gestão de Roberto Requião, na época no MDB.

Para Verri, um dos principais focos do grupo de transição será redefinir a atuação e estrutura do Ministério do Planejamento, que sob a administração do presidente Jair Bolsonaro (PL) foi absorvido no Ministério da Fazenda, no entanto, deverá ser recriado a partir de janeiro do ano que vem.

“O Ministério da Economia é o do fluxo de caixa, o que arrecada, paga a conta. O do Planejamento, que foi criado na época da ditadura, ou seja, é muito antigo, tem uma visão de longo prazo, é estratégico e olha o Brasil além do mandato. Por isso, arrecadar é na Fazenda (que deverá deixar de ser Ministério da Economia), e onde aplica o recurso é Planejamento, que também acompanha as grandes obras”, elencou.

PEÇA ORÇAMENTÁRIA

Pensando no papel do Planejamento, o parlamentar disse que outra missão será analisar o orçamento de 2023. “A peça orçamentária construída nesse ano é de ficção. O teto de gastos, por exemplo, prevê que o recurso da Saúde seja o mesmo de 2016 aplicado à correção. Só para chegar nesse mínimo ainda faltam R$ 14 bilhões para ano que vem. Vamos ter que garantir um mínimo para as áreas importantes, como a Educação.”

A rubrica do orçamento federal para o próximo ano, por exemplo, destina apenas R$ 2,5 milhões para construção de escolas para crianças de zero a três anos. Corte de 97,5% em relação ao atual montante. Em 2021 eram R$ 220 milhões. A proposta orçamentária enviada pelo governo Bolsonaro ao Congresso ainda tem uma projeção de crescimento de 2,5% para o PIB (Produto Interno Bruto) em 2023, salário mínimo de R$ 1.302 e expectativa que a inflação seja de 4,5%.

Com uma visão de estado desenvolvimentista, Enio Verri disse que o governo eleito terá que encontrar alternativas para colocar em dia, segundo ele, 14 mil obras federais paradas. “O estado tem um papel motivador muito grande. Se o Estado reduz este papel, a iniciativa privada também para. Precisamos criar uma nova dinâmica na economia, uma visão de longo prazo. Se o Estado recupera minimamente a capacidade de investimentos, motiva a iniciativa privada a voltar a investir e assim retoma o fluxo normal da economia”, refletiu.

RUÍDOS COM O MERCADO

Na semana passada, uma crítica de Lula à “tal da estabilidade fiscal” durante discurso a aliados na primeira visita ao gabinete de transição, em Brasília (DF), gerou uma forte reação negativa do mercado financeiro. Após a fala, a Ibovespa “derreteu” e fechou a quinta-feira (10) com uma queda de mais de 3,7%, enquanto o dólar subiu 4,08% e passou a ser cotado a R$ 5,40.

Verri defendeu o presidente eleito e desaprovou a postura dos tomadores de recursos e investidores. “O mercado, em normalidade, ganha muito dinheiro, mas na crise muito mais. Quando não tem crise, eles criam. Alegam que o discurso do presidente Lula ou a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Transição deixaram o mercado nervoso, porém, o que o discurso do Lula foi diferente dos últimos 42 anos ou do período em que foi presidente da República?”, questionou. “Ao criar a bola de insegurança, a bolsa cai, o dólar sobe, um grupo ganha muito dinheiro sem produzir nada”, acrescentou.

O deputado destacou que Lula tem compromisso com as contas públicas e que a futura nova âncora fiscal do País terá que ser debatida. “Tivemos o superávit primário, hoje é o teto de gastos – que já nasceu frustrado – e o Paulo Guedes (Ministro da Economia) estourou cinco vezes, a última por questão eleitoreira. A procura pelo equilíbrio fiscal é um desafio permanente e o Lula vai construir, seja mantendo a excepcionalização de algumas políticas públicas do teto ou outros modelos que já existem no mundo”, pontuou.

Sobre a possibilidade de assumir um futuro ministério, foi categórico. “Nem se fala nisso.”

****

Receba nossas notícias direto no seu celular! Envie também suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1.