Considerado um dos bairros mais nobres de Londrina, o Bela Suíça, na zona sul de Londrina, virou palco de divergência entre os próprios moradores. O Ippul (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina) recebeu o pedido de um grupo de residentes de alteração de zona residencial 1 para zona de uso misto 3, que abriria o leque de construções para prédios e até indústrias.

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. | Foto: Anderson Coelho/iStock

Quem é favorável à mudança encomendou um EIV (Estudo de Impacto de Vizinhança). Segundo o documento, "foi constatado que o zoneamento misto traz mais impactos positivos do que negativos, já que os aspectos que poderiam gerar algum ônus à região são oriundos de processos próprios de urbanização e não são significantes".

O relatório ressalta os lados que seriam positivos para o bairro, como "a valorização imobiliária, diversificação de serviços, criação de empregos diretos e indiretos e manutenção da área de preservação permanente, já que os empreendimentos que serão ali instalados tendem a prezar por áreas verdes e de recreação no seu entorno".

Sobre o barulho, o estudo apontou que "os empreendimentos que pretendem se instalar no bairro não apresentam características para impactar significativamente a vizinhança".

PROLONGAMENTO

A análise de impacto feita por um escritório particular cita a possibilidade de prolongamento da avenida Madre Leônia Milito, do trecho da rua Santiago até a avenida Adhemar Pereira de Barros.

É aí que mora a insatisfação formalizada em ofício pela Associação de Moradores do Bela Suíça. A entidade diz que o projeto causará "danos ambientais e sociais irreparáveis".

Inicialmente, os moradores afirmam que a segurança seria prejudicada, isso porque o prolongamento derrubaria a guarita de vigilância construída pela própria comunidade.

Outro fator citado no documento é a existência de três árvores de aproximadamente 20 metros de altura, que seriam extraídas caso a Prefeitura de Londrina resolva tirar a ideia do papel.

IMPASSE

De acordo com o presidente da associação, Antônio Sérgio Pardini, uma pesquisa foi feita entre os moradores sobre a possibilidade de mudar o zoneamento. "Fizemos um balanço com as 100 casas existentes aqui. Cinquenta e cinco delas opinaram pela manutenção da atual regra, que é a residencial. É quase 20% superior dos que querem a mudança", avaliou.

Ao Ippul, a associação explicou que "não é contra o empreendedorismo ou ao aquecimento do mercado da construção civil. Porém, somos radicalmente contra a implantação de um projeto sem ouvir os reais interessados e prejudicados, bem como sem que seja demonstrado o efetivo interesse público de todos os cidadãos londrinenses".

Em entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira (16), o prefeito Marcelo Belinati (PP) foi cauteloso ao comentar o tema. "Vamos aguardar a análise dos técnicos do Ippul. É uma questão muito delicada, que mexe com o sentimento de bastante gente", resumiu.

POLÊMICA

Zoneamento é um assunto polêmico na Câmara Municipal de Londrina. Em 2018, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) deflagrou a Operação ZR-3 para desbaratar uma suposta organização criminosa que agia para lucrar com a aprovação desse tipo de projeto.

O caso, que ainda se arrasta na Justiça de Londrina, terminou no afastamento dos ex-vereadores Rony Alves e Mário Takahashi, na época presidente do Legislativo. Eles não foram cassados pelos outros colegas, mas não conseguiram se reelegar em 2020. O Ministério Público denunciou 13 réus por vários crimes.

A reportagem tentou ouvir o presidente da Câmara, Jairo Tamura (PL) sobre a possível mudança de zoneamento no Bela Suíça, mas não conseguiu contato.

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