O Ministério Público Federal (MPF) já tem motivos suficientes para incorporar o processo envolvendo o desvio de R$ 10 milhões do Banco do Estado do Pará (Banpará). Toda a dívida contraída pela instituição, junto ao Banco Central (BC), pertence ao Tesouro Nacional. Segundo o relatório do BC, feito em 1988 pelo inspetor Abrão Patruni Júnior, o Banpará utilizou reserva bancária para justificar os desvios, que envolvem o presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA).
Somente após a análise dos técnicos do BC – Nelson Rodrigues de Oliveira e Antônio Benito de Souza – que estão em Belém, é que a comissão de promotores do Pará irá definir a linha de atuação, já que parte do processo e futuras ações devem ser abertas tanto pelo MPF, quanto pelo Estadual. Ontem os dois técnicos se reuniram durante todo o dia com os integrantes do MPE, mas nada falaram sobre as investigações.
Pelo relatório produzido em 88 por Patruni, o Banpará teria utilizado dinheiro da reserva existente em todas as instituições, para justificar a inexistência de saldo. Até agora, em razão da troca de moeda nos últimos anos, não há uma avaliação segura de quanto foi desviado do BC para o Banpará. Mas, segundo o relatório, foram feitas sucessivas operações desta natureza.
A dívida, entretanto, foi assumida pelo Tesouro Nacional em 1988, quando o banco entrou em Regime de Administração Especial Temporária (Raet). Hoje, o Tesouro é um dos quatro maiores credores do Banpará. Os outros três também são instituições federais, como a Caixa Econômica Federal, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Banco da Amazônia (Basa).
Ontem, o promotor João Gualberto dos Santos da Silva, um dos integrantes do Ministério Público do Pará, encarregado pelas investigações, admitiu que houve realmente desvios. Gualberto evitou falar sobre o destino do dinheiro – que seriam 11 contas no Banco Itaú, no Jardim Botânico, no Rio – e os beneficiários. ‘‘O desvio houve, mas temos que saber para quem’’, afirmou o promotor.
O trabalho de análise dos documentos contábeis pelos técnicos do BC deve durar até quinta-feira, quando deverá ser apresentado um relatório que irá direcionar as investigações dos promotores. Uma das linhas de apuração é o rastreamento de diversas aplicações que culminaram com a abertura das contas no Rio.