O Ministério Público do Paraná deve receber nos próximos dias os pedidos de indiciamento do ex-secretário da Segurança Cândido Martins de Oliveira, do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ricardo Noronha, dos delegados Mário Ramos, de Curitiba, e Emílio Wzorek, de Ponta Grossa, e do investigador Mauro Canuto pelos crimes de formação de quadrilha e desacato à autoridade. Os pedidos foram aprovados anteontem pelos deputados que integram a CPI do Narcotráfico.
No entender dos deputados há indícios suficientes de que Cândido Martins, Noronha, Mário Ramos, Wzorek e Canuto teriam envolvimento com o crime organizado no Paraná e isso justificaria o pedido de indiciamento no crime de formação de quadrilha. O indiciamento pelo crime de desacato à autoridade está embasado, segundo os parlamentares, no não-comparecimento dos cinco para depor na CPI, quando a comissão esteve em Curitiba, no começo de março, ou em Ponta Grossa, nos dias 8 e 9 de maio. Os pedidos de indiciamento serão enviados antes da aprovação do relatório final da CPI, que deverá ser apresentado até o dia 20 de junho.
‘‘É um alívio. A discussão sai da esfera política, controlada pelo meu inimigo deputado Padre Roque (PT), passará para pessoas isentas e que conhecem a lei, como o Ministério Público e o Judiciário’’, analisou Candinho. Ele contestou a decisão da CPI em enviar os pedidos de indiciamento antes da aprovação do relatório final. ‘‘Estou estudando, junto com meu advogado, a lei que orienta as atividades das CPIs e, pelo que li, esse pedido de indiciamento contra mim é extemporâneo; só poderia ser enviado depois da aprovação do relatório final’’, criticou.
Padre Roque rebateu Cândido. ‘‘Isso é conversa de perdedor. O pedido de indiciamento não é meu, foi uma exigência é do relator Moroni Torgan (PFL-CE), e está completamente legal’’, afirmou. O deputado assegurou que a CPI aprovou outros pedidos de indiciamento que também estão sendo enviados aos MPs de outros Estados antes da aprovação do relatório.
O advogado de Ricardo Noronha, Luiz Alberto Machado, considerou a decisão da CPI um ‘‘anti-clímax’’. ‘‘Para nós acabou. Começaram acusando o Noronha de participação no narcotráfico, queima de arquivo e, agora, finalizam pedindo o indiciamento dele em crimes que ele não cometeu.’’ Machado disse que Noronha não foi intimado para depor na CPI nas duas passagens pelo Paraná, e que ele, como funcionário público, não desacatou a autoridade da CPI porque este crime só poderia ser cometido por um ‘‘particular contra a administração pública’’.
O delegado afastado de Ponta Grossa Emílio Wzorek disse que a decisão da CPI foi ‘‘mais um golpe eleitoreiro do Padre Roque.’’ O policial considerou ‘‘balelas’’ as denúncias de envolvimento com o crime organizado que pesam contra ele. Wzorek afirmou que entrou com uma ação por danos morais contra o deputado e pensa fazer o mesmo contra a União. A Folha tentou falar com o delegado Mário Ramos, com o advogado dele, René Dotti, e com o advogado do investigador Mauro Canuto, Ronaldo Botelho, mas eles não foram encontados.