Decreto assinado pelo governador Roberto Requião (PMDB) em novembro de 2003 endossou os termos do Sistema Rodoviário Estadual, elaborado no último ano da gestão Jaime Lerner, que teriam ratificado alteração no marco zero da rodovia BR-369 e legalizado a instalação de uma praça de pedágio da Econorte em Jacarezinho (Norte Pioneiro). A informação foi dada por diretores do DER durante reunião com integrantes do movimento ''Fim do Pedágio'', organizado por professores da APP-Sindicato de Jacarezinho.
O movimento, organizado no início do ano, levou denúncia ao Ministério Público e ao governo do Estado indicando que o edital da concorrência vencida pela Econorte em 1998 previa que a concessão começaria a partir do KM 0,6 da rodovia - 600 metros após o marco inicial. Medição via satélite (GPS) realizada por um escritório local de engenharia a pedido da APP mostrou que a praça da Ponte Velha (sobre o rio Paranapanema) está a 127 metros do marco zero e portanto, fora da área de concessão.
A presidente regional da APP-Sindicato, Ana Lúcia Baccon, se disse surpresa com as informações recebidas durante reunião com o diretor operacional do DER, Romeu Stencel acompanhado do procurador jurídico Edson do Amaral e do engenheiro José Pedro Weinand , indicando que o marco zero da BR-369 foi transferido para a Ponte Nova, que fica entre 1 km e 2 km do marco original.
A mudança foi confirmada no ofício 506/06, em 20 de julho, assinado por Romeu Stencel e José Pedro Weinand, que incluiu cópias do decreto assinado pelo governador Requião e do Sistema Rodoviário Estadual. O documento contradiz outro ofício do DER à APP (135/06), de 15 de maio, no qual o gerente operacional do escritório de Londrina, Carlos Fumio Yamamura, confirma a localização do marco zero na Ponte Velha informação que deflagrou as ações do movimento.
''Eu saí extremamente indignada da reunião em Curitiba. Como podem mudar o marco zero da rodovia e legalizar a praça de pedágio que estava fora da área de concessão? Não é estranho o DER ter duas posições oficiais sobre o marco zero da BR-369?'', reagiu a presidente da APP, que cobrou a revogação do decreto. ''Se as coisas dependem do decreto que foi aprovado, é só fazer outro e revogar isso. O que não podemos é pagar uma das tarifas mais caras do Estado (R$ 8,60) para percorrer 20 quilômetros até Ourinhos (SP)'', reclamou. O movimento reclama também da cobrança de pedágio para percorrer o trecho entre o centro de Jacarezinho e o distrito de Marques dos Reis que fica ao lado da praça de pedágio.
O vice-governador Orlando Pessuti (PMDB), que acompanha as ações do movimento contra o pedágio de Jacarezinho, foi informado da contradição entre os ofícios do DER e também se mostrou surpreso. ''Eu recebi essa papelada e os dois ofícios dizendo que o marco zero é num e outro lugar. Me causou estranheza e vou analisar com o pessoal do DER'', disse. Sobre o decreto de Requião que ratifica a alteração do marco zero, Pessuti avaliou que o governador ''talvez não tivesse essa informação''. ''Não quero fazer juízo antecipado, vou tratar disso diretamente com ele.''
A implantação da praça de pedágio em Jacarezinho é fonte de contestação desde 2001, quando a definição dos locais foi incluída em aditivo contratual concedido pelo DER à Econorte. A partir daí, a Econorte passou a explorar o fluxo da BR-153 e PR-090 que não constavam do edital de licitação e a praça de pedágio de Andirá foi trocada por dois postos de cobrança em Jacarezinho. Para executar a mudança, a Econorte fez alterações viárias, incluindo a construção de um viaduto, que descaracterizaram visualmente os traçados das BRs 153 e 369.
O presidente da Econorte, Gustavo Mussnich, se recusou a conversar com a reportagem da Folha sobre o assunto.