.
. | Foto: Folhapress

O ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná Jaime Lerner morreu nesta quinta-feira (27) no Hospital Evangélico Mackenzie, na capital paranaense. Ele tinha 83 anos.

Segundo nota oficial do hospital, o arquiteto e urbanista morreu em decorrência de complicações de doença renal crônica. "É com imenso pesar que o Hospital Universitário Evangélico Mackenzie informa que às 5h10 desta quinta-feira, 27 de maio, o ex-governador Jaime Lerner veio a óbito em decorrência de complicações de doença renal crônica. Lamentamos a perda e desejamos conforto aos familiares, em nome do Senhor", afirmou o hospital em nota na manhã desta quinta-feira.

Arquiteto e urbanista formado pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), Lerner ficou afastado da política nos últimos anos. Ele foi prefeito de Curitiba por três vezes entre as décadas de 1970 e 1990, por Arena, PDS e PDT. Depois, foi governador do Paraná por dois mandatos consecutivos, de 1995 a 2002 - elegeu-se primeiro pelo PDT e, em seguida, pelo então PFL (atual DEM).

Como prefeito de Curitiba, ele ganhou projeção nacional e internacional pelos projetos arquitetônicos e urbanísticos que desenvolveu para a capital, como os feitos em calçadões, parques e no sistema de transporte da capital paranaense. Em março deste ano, Jaime Lerner teve Covid-19, mas na ocasião apresentou somente sintomas leves da doença.

LUTO OFICIAL

O governador Ratinho Junior (PSD) manifestou pesar e decretou luto oficial de três dias pela morte. “Nossas condolências à família e amigos do ex-governador Jaime Lerner. O Paraná perde um grande cidadão, que ajudou a transformar Curitiba e o Estado. Os nossos corações, marca que por muito tempo ele usou, estão juntos neste momento de profunda dor e tristeza para todo o povo do Paraná”, disse o governador.

“Jaime Lerner tinha amor pelo Paraná. Dedicou uma vida inteira ao Estado, com realizações que transformaram Curitiba e servem até hoje de inspiração mundo afora. Um exemplo que ficará marcado eternamente pelas centenas de obras espalhadas pelo nosso Estado”, reforçou Ratinho Junior.

No Palácio Iguaçu, as bandeiras ficarão a meio mastro durante todo o período de luto. O sepultamento do ex-governador será nesta quinta (27), as 15 horas, no Cemitério Israelita Santa Cândida. O velório ocorre na Capela Mortuária Israelita Água Verde.

A FNA (Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas) lamentou a morte de Lerner, a quem classificou como "um dos mais importantes nomes da arquitetura nacional". "Jaime Lerner se soma às nossas perdas e a do Brasil. Sua contribuição foi inestimável", pontuou Valeska Peres Pinto, ex-presidente da FNA e atual integrante do Conselho Consultivo da federação.

CALÇADÃO

Em Londrina, o projeto do Calçadão foi elaborado, em 1977, por Jaime Lerner, que se inspirou na rua das Flores de Curitiba, também projetada por ele. "A gente fica muito triste e se solidariza com a família do ex-governador, que deixou uma história bonita no Estado. Deixou um nome nacional como um dos maiores arquitetos do País", destacou o prefeito Marcelo Belinati.

TRAJETÓRIA POLÍTICA

Após deixar a Prefeitura de Curitiba, Jaime Lerner indicou como sucessor, na época, Rafael Greca que comandou a cidade entre 1993 e 1996. Em 1997, já no seu penúltimo ano do primeiro mandato como governador, Lerner deixou o PDT após divergências com o principal líder do partido na época, Leonel Brizola. Em seguida, filiou-se ao então PFL.

Como governador, Jaime Lerner deixou como principal marca a concessão das rodovias federais que cortam o Estado para a iniciativa privada. Na ocasião, opositores ao governo consideraram os contratos com as concessionárias lesivos ao Estado, já que os projetos de duplicação previstos demorariam a ser realizados e a um custo muito alto nas tarifas de pedágio para os usuários das rodovias. E foi o que se viu na prática.

Em 1998, quando disputava a reeleição ao governo, Lerner determinou a redução da tarifa dos pedágios em 50%, em medida contestada judicialmente pelas concessionárias, que alegaram violação nos contratos firmados um ano antes. Lerner venceu a eleição em primeiro turno e os valores nas praças de pedágio voltaram aos patamares anteriores.

Firmados em 1997, os contratos de concessão das rodovias do chamado Anel de Integração terminam neste ano deixando como legados grandes trechos duplicados, especialmente na Rodovia do Café, que liga Apucarana a Curitiba, mas também suspeitas de corrupção em aditivos firmados sucessivamente, a ponto de virarem alvo de investigação da Operação Lava Jato, com acordo de leniência elaborado por algumas das concessionárias que admitiram as ilicitudes.

URBANISMO

Em entrevista à Folha de São Paulo no ano passado, Lerner falou sobre sua visão para as cidades brasileiras no pós-pandemia. Abolir a divisão dos bairros por função ou renda foi uma das propostas que apresentou. "Diversidade é qualidade de vida", disse na ocasião. Ele também pensava em um novo papel para os carros, que ele chamou de "o cigarro do futuro".

Questionado sobre o momento político do país, Lerner disse que "em termos políticos o que deveria existir é a boa convivência entre aqueles que não concordam, isso está difícil". "O que eu gostaria de ver é uma visão mais humana, mais próxima, não antagônica, espero que isso aconteça. Todas as cidades que têm apresentado crise nessa pandemia precisam ser repensadas com mais solidariedade", disse.

Lerner também foi presidente da União Internacional dos Arquitetos durante os anos de 2002 e 2005. Em 1990, ele foi condecorado com o Prêmio Máximo das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em Nova York. Desde que deixou a política, atuava no desenvolvimento de projetos de arquitetura e urbanismo para os setores público e privado de diversas cidades no Brasil e no exterior, como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Porto Alegre, Florianópolis, Recife, Havana (Cuba), Caracas (Venezuela), Xangai (China), Luanda (Angola), David (Panamá), Mazatlán (México) e Santiago de Los Caballeros (Republica Dominicana).

Lerner era viúvo da ex-primeira-dama Fani Lerner, falecida em 2009. Deixa duas filhas: Andrea e Ilana, que atualmente dirige a Biblioteca Pública do Paraná. (Com Folhapress)

Atualizado às 11h51