Familiares e amigos se despedem de Amadeu Felipe da Luz Ferreira. Ele faleceu na noite de quinta (3), em Londrina, por insuficiência respiratória. Aos 85 anos, Amadeu deixa esposa, três filhos e vários netos, além de um legado de luta em defesa da democracia e da liberdade.

Nascido em dezembro de 1935, em Blumenau (SC), Amadeu passou boa parte da vida no Rio Grande do Sul. A página oficial do PCB (Partido Comunista Brasileiro), do qual foi secretário político no Paraná, conta que a liderança de Amadeu "à frente do movimento de sargentos que lutava para impedir a maturação e o desencadeamento do golpe militar e empresarial fascista que sobreveio em 1964 começou dez anos antes, com o suicídio do presidente Getúlio Vargas."

Em 1966, com o apoio do ex-governador gaúcho Leonel Brizola, comandou a organização do primeiro movimento militar armado de resistência ao golpe: a Guerrilha do Caparaó, na divisa entre Minas Gerais e Espírito Santo. Amadeu foi preso, torturado e veio refazer a vida em Londrina, entre os integrantes do comitê suprapartidário formado para organizar a campanha local das Diretas Já, como representante do PCB.

Amadeu vem recebendo inúmeras homenagens por toda força politica que empenhou ao longo da vida em defesa do País. O professor da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Sinival Osorio Pitaguari, relembra nas redes sociais um pouco da trajetória de seu companheiro de militância.

"Amadeu militou desde a juventude no antigo PCB e era militar de carreira do Exército quando estourou o Golpe Militar de 1964. Expulso do Exército junto com milhares de militares democratas que defendiam a legalidade constitucional contra a ditadura, organizou e comandou a Guerrilha do Caparaó. A guerrilha foi derrotada pelas Forças Armadas e Amadeu foi preso político por 5 anos".

Amadeu também contribuiu com diversas matérias publicadas pela FOLHA. Em uma delas, ele destacou o mérito do movimento das 'Diretas Já' de abrir o caminho para importantes conquistas. "O fato de estarmos conversando aqui já mostra que de lá para cá há uma nova realidade na nação brasileira. Houve a ascensão da classe trabalhadora a um patamar mais elevado do ponto de vista econômico e financeiro. E isso não depende de partido político, foram conquistas do trabalhador. Da mesma forma, as organizações políticas têm mais liberdade. Por exemplo, eu sou comunista e hoje posso dizer que sou, posso participar de reuniões, que podem acontecer sem problemas. Antigamente esta possibilidade não existia. Mas ainda estamos muito longe do que a nossa população tem direito e merece", disse, durante entrevista em março de 2014.

Em dezembro de 2018, Amadeu também colaborou na reportagem sobre os 50 anos do AI-5 (Ato Institucional número cinco), como ex-preso político e membro fundador do PCB. Na época, ele disse que ficou sabendo do Ato enquanto estava preso na Fortaleza de Santa Cruz (RJ).

"Lá a informação não chegava então o comandante reuniu alguns presos políticos e falou que, daquele momento em diante, o Brasil passou a viver sob o AI-5, e deu a informação de que não tínhamos mais banho de sol, mais nada, e ainda que iria cumprir as ordem com muito bom gosto", conta. Quando questionado sobre o por quê se de falar sobre a ditadura, não teve dúvidas. "Para que nunca mais aconteça."

Amadeu ocupou cargos de primeiro escalão nas gestões de José Richa e de Luiz Eduardo Cheida. Foi candidato a Prefeito pelo PCB em 2008 e ao governo do Paraná em 2010, pelo PCB. Ele também se dedicou ao ramo empresarial.

O sepultamento acontece às 12h, no cemitério Parque das Oliveiras.

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