Em sua primeira visita a Londrina desde as eleições de 2022, o senador Sergio Moro (União Brasil) esteve na FOLHA na tarde desta sexta-feira (17) e concedeu entrevista sobre as pautas defendidas em suas semanas de estreante no Congresso. Ele também abordou temas como a atual condução dos processos da Lava Jato e a recente investigação envolvendo o envio milionário de joias para a família Bolsonaro.

A passagem do maringaense pela cidade em que liderou a votação para o Senado no pleito do ano passado, com 107.757 votos, contemplou uma visita ao presidente da Câmara Municipal de Londrina (CML), Emanoel Gomes (Republicanos), além de outros sete vereadores — mas não houve agenda com o prefeito Marcelo Belinati (PP), que enviou um assessor para representá-lo no encontro no Legislativo. Moro visitou a FOLHA acompanhado do ex-candidato a prefeito André Trindade (sem partido), possível postulante à sucessão de Belinati em 2024.

União Brasil

Questionado de sua relação com o próprio partido (o União Brasil possui cargos no ministério de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT), Moro disse que a legenda dá “liberdade para fazer oposição”.

“Parte do União Brasil quer estar com o governo e tem parte que quer fazer oposição. Essa posição está sendo respeitada. Estou tranquilo quanto a isso.” O parlamentar declarou que tem praticado “uma oposição responsável, para evitar retrocessos, não por rancor”.

Joias e Bolsonaro

Aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, com quem rompeu quando foi seu ministro da Justiça, mas depois se reaproximou na eleição do ano passado, o apoiando no segundo turno, Moro evitou criticá-lo quando indagado sobre o caso das joias sauditas. Investigações federais em curso apuram as circunstâncias do envio do presente avaliado em R$ 16,5 milhões por parte do governo da Arábia Saudita para Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michele Bolsonaro.

“Tem que ver o que ele [Bolsonaro] queria fazer, o que ele não queria fazer. Eu não conheço os fatos do caso. Esses fatos estão em apuração”, falou o senador quando questionado se em sua opinião Bolsonaro deveria ter declarado o presente à Receita Federal.

“A lei diz que servidores públicos não podem receber presentes acima de determinado valor. Há exceções quando a recusa do presente possa gerar embaraço — no campo da diplomacia, é muito comum troca de presentes”, acrescentou. Ele apontou que houve “problemas” com o recebimento de presentes nos governos de Lula e Dilma Rousseff.

Lava Jato

Esta sexta-feira marcou os nove anos do início da Operação Lava Jato. Os processos do caso que permanecem sob a responsabilidade da 13ª Vara Federal de Curitiba foram assumidos em fevereiro pelo juiz federal Eduardo Appio.

Logo em março, a procuradora Carolina Bonfadini de Sá, do Ministério Público Federal do Paraná (MPF-PR), entrou na Justiça com um pedido suspeição do magistrado por supostos vínculos dele com o presidente Lula — o que Appio tem negado em declarações à imprensa.

“O fato é que, como ele diz [Appio], tem que apresentar os resultados. Até agora eu só vi entrevistas”, afirmou Moro, antigo titular do caso que o colocou em relevância nacional.

As alterações à Lei das Estatais feitas por liminar assinada pelo ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), foram criticadas pelo ex-juiz. A mudança, que ainda será levada ao plenário da corte, permite, por exemplo, que ministros de Estado atuem nas diretorias e conselhos dessas companhias.

CPI do 08/01

O senador paranaense defendeu a abertura da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) encabeçada por deputados e senadores de oposição em relação aos ataques contra as sedes dos Três Poderes da República ocorridos em oito de janeiro.

“As invasões e depredações foram lamentáveis. Agora tem que se apurar não só as responsabilidades daquilo que aconteceu, mas esclarecer todos os fatos que circundam aquela situação”, pediu.

Críticas ao Pronasci

Ex-titular do Ministério da Justiça e Segurança Pública no governo de Bolsonaro, Moro comentou ainda não ter visto políticas direcionadas ao combate ao crime organizado por parte do órgão chefiado por Flávio Dino.

Ele reforçou críticas divulgadas em suas redes sociais a respeito das prioridades do Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci II). Para o senador, a iniciativa lançada esta semana pelo Ministério da Justiça erra ao não aplicar mais recursos nas forças de segurança.

“Estão insistindo na estratégia errada. Quando foi o lançamento do Pronasci, sobraram críticas a policiais. Como se todos os policiais tivessem problemas — na verdade, como qualquer instituição, pode ter policiais que se desviam, cometem crimes. Tem que valorizar, equipar o policial para que possa realizar o seu trabalho.”

Também tratando de segurança pública, Moro prometeu buscar a ampliação do Banco Nacional de Perfis Genéticos. “É um instrumento poderoso para a resolução de crimes graves”, argumentou.

De acordo com o parlamentar, é preciso incrementar o trabalho de coleta de perfis genéticos da população carcerária, que ele aponta ter ampliado na sua gestão à frente da Justiça. Em dezembro de 2022, eram 175 mil perfis cadastrados no Brasil, ao passo que, conforme Moro, o número já gira em torno de 13 milhões nos Estados Unidos.

Pedágio

Durante a entrevista à FOLHA, Sergio Moro projetou o que espera do modelo de pedágio a ser implantado no Paraná e o que tem feito em seu mandato para ajudar resolver o impasse no tema que envolve os governos estadual e federal.

(Com Diego Prazeres/Editor)