O ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) disse nesta segunda-feira (27) em entrevista ao programa Pânico, da rádio Jovem Pan, que não há motivo para deixar o governo e que irá apoiar o presidente Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022.

No tom do programa humorístico, Moro afirmou que "é o segundo Dia do Fico". A frase é uma alusão ao episódio da história do Brasil em que d. Pedro 1º se recusou a voltar para Portugal, conhecido como "Dia do Fico".

Indagado se há atrito com Bolsonaro e se pretende concorrer ao cargo de presidente nas próximas eleições, Moro disse que apoiará a reeleição do atual mandatário por "questão de lealdade".

Na semana passada, o clima entre Bolsonaro e Moro esquentou nos bastidores, após o presidente articular uma reunião com secretários estaduais para discutir o desmembramento da pasta de Moro: ele ficaria apenas com a Justiça, e a Segurança Pública seria entregue para um novo ministro.

Como resposta, o ex-juiz da Lava Jato disse a aliados que, se a manobra ocorresse, deixaria o governo. O atrito provocou forte reação de seus apoiadores, que passaram a pressionar o presidente a desistir do plano. Bolsonaro então recuou e disse que, por ora, o estudo está engavetado.

Na entrevista desta segunda-feira, Moro foi questionado sobre a possível separação do ministério. "Não acho a ideia boa." Segundo ele, os ministérios juntos são mais fortes.

O ex-juiz desconversou quando indagado se estaria "tudo bem" caso a separação ocorresse. Considerou que o assunto está encerrado, já que Bolsonaro falou em "chance zero" de mudança agora.

Moro também foi questionado sobre a possibilidade de Bolsonaro indicá-lo a uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal) e respondeu que essa é uma "perspectiva interessante". Em 2019, chegou a dizer que uma indicação seria como ganhar na loteria. Na rádio, disse: "É uma perspectiva que pode ser interessante, natural na minha carreira. Venho da magistratura, seria algo interessante. Mas a escolha evidentemente cabe ao presidente da República."

"Ele tem a possibilidade de me indicar, pode indicar outras pessoas... Se fala no AGU [advogado-geral da União], André Mendonça, pessoa muito qualificada, se fala no Jorge Oliveira, ministro [da Secretaria-Geral da Presidência] muito competente do governo, mas tem outros nomes", afirmou Moro durante a entrevista. "Acho que o presidente só vai realmente fazer essa escolha no momento apropriado. Agora, dizer assim, que não gostaria, é claro que gostaria", completou.

Pelo critério de aposentadoria compulsória dos ministros do Supremo aos 75 anos, as próximas vagas abertas no tribunal serão as de Celso de Mello, em novembro deste ano, e Marco Aurélio Mello, em julho de 2021.

A indicação de ministros do STF é uma atribuição do presidente que, depois, precisa ser aprovada pelo Senado.

Bolsonaro chegou a dizer, no ano passado, que reservara uma das duas vagas para Moro, que deixou a magistratura para ser seu ministro.

Mais tarde, porém, o presidente negou haver um acordo para indicação e disse buscar alguém com o perfil dele. Foi quando passou a declarar que pretende indicar alguém "terrivelmente evangélico", dando a entender que poderá nomear o AGU André Luiz Mendonça.

Então juiz da 13ª Vara Criminal da Justiça Federal em Curitiba e responsável pela Operação Lava Jato, Moro foi convidado por Bolsonaro logo após a vitória em 2018. Chegou ao governo com a promessa de que assumiria um superministério com a missão de reforçar o combate à corrupção.

Apesar de alguns desgastes, o Datafolha mostrou que Moro se consolidou como o ministro mais bem avaliado no primeiro ano do governo, com apoio popular maior que o do próprio presidente.

Entre os que dizem conhecer Moro, 53% avaliam sua gestão no ministério como ótima/boa. Outros 23% a consideram regular, e 21%, ruim/péssima. Bolsonaro tem 30% de ótimo/bom, 32% de regular e 36% de ruim/péssimo.

Moro voltou a criticar a proposta de adoção de um rodízio de juízes em comarcas pequenas para viabilizar a implantação do mecanismo do juiz das garantias no sistema judicial –agora suspensa por liminar do ministro Luiz Fux, do Supremo. Moro disse que a Justiça não é "rodízio de pizza".

Sobre a soltura do ex-presidente Lula após a mudança de orientação do STF sobre a prisão em 2ª instância, disse que o correto era Lula sair após cumprir a pena e que a decisão foi um retrocesso.

Sobre as críticas da imprensa ao governo Bolsonaro, Moro disse que as reações do presidente são às vezes exacerbadas, mas "a imprensa podia dar uma folguinha".