Brasília - O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou a abertura de um inquérito contra o governador afastado do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e o ex-ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro (PL) Anderson Torres.

A investigação, pedida pela PGR (Procuradoria-Geral da República), irá apurar eventual responsabilidade de autoridades nos atos de extremistas que depredaram as sedes dos Três Poderes no último dia 8.

Além de Ibaneis e de Torres, serão investigados o ex-comandante-geral da Polícia Militar do DF Fábio Vieira e Fernando de Sousa Oliveira, que era secretário interino de Segurança Pública do Distrito Federal quando houve os atos de vandalismo.

A decisão do ministro foi tomada no âmbito do inquérito dos atos antidemocráticos que investigavam inicialmente condutas relacionadas às tentativas de golpe nas comemorações de 7 de Setembro.

Segundo Moraes, "a omissão e conivência de diversas autoridades da área de segurança e inteligência" foram demonstradas com "a ausência do necessário policiamento, em especial do Comando de Choque da Polícia Militar do Distrito Federal" e "a autorização para que mais de 100 ônibus ingressassem livremente em Brasília, sem qualquer acompanhamento policial, mesmo sendo fato notório que praticariam atos violentos e antidemocráticos".

Ele também disse que houve "a total inércia" no encerramento do acampamento na frente do QG do Exército do Distrito Federal, mesmo quando os sinais apontavam para presença de radicais.

Segundo ele, o "descaso e conivência" de Torres "só não foi mais acintoso do que a conduta dolosamente omissiva do Governador do DF, Ibaneis Rocha, que não só deu declarações públicas defendendo uma falsa livre manifestação política em Brasília, mesmo sabedor por todas as redes que ataques às instituições e seus membros seriam realizados".

"Os fatos narrados demonstram uma possível organização criminosa que tem por um de seus fins desestabilizar as instituições republicanas, principalmente aquelas que possam contrapor-se de forma constitucionalmente prevista a atos ilegais ou inconstitucionais", acrescenta Moraes.

Ibaneis

Em depoimento à Polícia Federal, Ibaneis afirmou nesta sexta-feira (13) que o Exército impediu que as forças de segurança do DF desmontassem o acampamento em frente ao quartel-general de Brasília.

Segundo apurou a reportagem, Ibaneis disse que enviou equipes para o local, mas elas foram impedidas de realizar o trabalho pelo Comando Militar do Planalto.

Ele contou à PF que havia o objetivo de desmobilizar o acampamento até o dia 29 de dezembro, mas os bolsonaristas permaneceram no local com o veto da operação policial para o desmonte do acampamento.

Segundo relatos de pessoas com conhecimento do depoimento, Ibaneis soube da viagem de Anderson Torres, ex-ministro de Jair Bolsonaro e ex-secretário de Segurança do DF, apenas no sábado (7).

O governador afastado relatou ter sido informado pelo próprio Torres quando ligou para cobrar explicações sobre o planejamento da segurança para os atos golpistas que ocorreriam no domingo (8).

Torres atendeu o telefone momentos após desembarcar nos Estados Unidos, conforme os relatos. Com a ausência do secretário, Ibaneis passou a tratar das ações de segurança com o então número 2 da pasta, o delegado Fernando de Sousa Oliveira.

Ibaneis afirmou ao delegado responsável pelo caso ter sido pego de surpresa pela inação da PM e pelas imagens de policiais confraternizando com golpistas.

(Colaboraram Fabio Serapião e Cézar Feitoza/Folhapress)