Mulheres ligadas ao movimento 'Lula Livre' registraram BO (boletim de ocorrência) na última segunda-feira (11) por se sentirem ofendidas por declarações de manifestantes de direita, no sábado (9), no Calçadão de Londrina. Enquanto o grupo que se reúne há um ano e meio a favor da liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reclama de constantes ameaças e provações, o grupo opositor, composto por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro e de eleitores conservadores, nega as ameaças e diz que as provocações partem do lado contrário.

Segundo o BO, o Comitê Lula Livre acusa participantes do grupo adversário de ofenderam as mulheres proferindo palavras de baixo calão e acusando os manifestantes de estarem no Calçadão "recebendo dinheiro público". Ainda de acordo com o documento, os manifestantes sentiram-se “totalmente humilhados”.

Imagem ilustrativa da imagem Militantes do 'Lula Livre' pedem apuração de ofensas contra mulheres no Calçadão
| Foto: Gustavo Carneiro/Grupo Folha

Uma comissão do Espaço Lula Livre apresentou o BO e conversou com a reportagem. Segundo eles, as manifestações ocorrem sempre aos sábados, próximo à agência do Banco do Brasil, no Calçadão. Ainda segundo eles, o grupo opositor passou a se reunir nos mesmos dias e, aos poucos, foi se aproximando fisicamente.

O último embate ocorreu no sábado, durante a manifestação após a libertação de Lula, com base em decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) contrária à prisão antes do trânsito em julgado de ações.

Os manifestantes pró-Lula dizem que o grupo opositor foi se aproximando e, então, passaram a provocar. “Quando eu cheguei [sábado ao calçadão], só tinha duas mulheres e eles vinham de dedo para cima delas. Aí disse que o lugar deles era mais próximo da esquina e eles se afastaram”, diz o consultor de teleatendimento César Hartmann.

As provocações mais ofensivas, que levaram ao registro de BO, foram dirigidas especificamente às mulheres, ofendendo a honra e o gênero, de acordo com o grupo. A frase “vejam só o que é a falta de homem na vida da mulher” foi a gota d’água, segundo a professora de História Vilma Calzolari Wolf. “Essa frase pegou muito mal, principalmente em um País onde tantas mulheres são vítimas de violência”, diz a professora.

A frase foi gravada, mas também consta em um vídeo divulgado pelo policial rodoviário federal e "youtuber" Claudinei Santão em suas redes sociais. Ele, que tem 21 anos de carreira em forças policiais, nega. "Isso é mentira! No vídeo, eu digo que as mulheres são a coisa mais linda que Deus criou e que elas deviam valorizar isso ao invés de defender bandido. Eles interpretam tudo errado”, afirma.

Santão também diz que uma das mulheres do grupo ofendeu sua virilidade com palavras e gestos, o que foi filmado pelos opositores do ex-presidente Lula. O youtuber reproduziu as imagens em um dos vídeos feitos no sábado, no Calçadão. “Eu vou reverter essa situação e processar cível e criminalmente”, afirmou Santão, que se diz um defensor das mulheres e das crianças contra a pedofilia, atuando, inclusive, em um projeto próprio com crianças pobres.

Troca de acusações

As acusações de agressões partem de ambos os grupos, que também se defendem dizendo ser defensores da liberdade de expressão.

O grupo do Comitê Lula Livre diz que registrou o BO por não aceitar as ofensas, mas revela também temer agressões físicas. Tanto que uma reunião com o comando do 5º Batalhão da Polícia Militar já foi feita em julho, para alertar a corporação sobre animosidades que possam partir para vias de fato.

Santão nega a possibilidade de evolução das diferenças para agressões físicas por parte do grupo à direita e diz que também teme violência partindo da esquerda. “Eu não faria isso e nós estamos ali nos manifestando pelo Brasil e contra os corruptos. Mas nós vemos manifestações da esquerda, com envolvimento de black blocks, com ações violentas”, compara.

O comandante da PM em Londrina, major Nelson Villa, confirmou a reunião com os manifestantes pró-Lula, mas afirma que a corporação não pode interferir na liberdade constitucional de manifestação do pensamento. “Caso haja um caso de agressão durante a manifestação, que entrem em contato com a PM”, alerta.

A reportagem tentou contato com a delegada responsável pelo caso, mas ela gozava de folga após cumprimento de plantão policial.