Rubens Burigo Neto
De Curitiba
Peritos do Instituto de Criminalística e da Receita Estadual passaram o dia de ontem vistoriando os seis barracões com peças de carros e caminhões supostamente roubados que foram interditados pela P2 e pela Promotoria de Investigações Criminais (PIC) na quinta-feira, em Curitiba. O secretário da Segurança, José Tavares, e o comandante-geral da Polícia Militar, Guaraci Moraes de Barros, acompanharam pessoalmente os trabalhos. Na segunda-feira, Tavares deve fazer um balanço preliminar das investigações.
Os barracões interditados pertencem aos empresários Joarez França Costa, o ‘‘Caboclinho’’ e Paulo Gilberto Pacheco Mandelli, acusados durante a CPI do Narcotráfico como os principais envolvidos com roubo e desmanche de carros no Paraná. ‘‘Caboclinho’’ está preso desde a noite de quinta-feira numa cela do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope). Mandelli, que foi visto pelo porteiro do prédio onde mora saindo com a família na noite de quarta-feira, continua foragido.
O diretor do Instituto de Criminalística, José Lourenço Ribeiro, estima que a perícia nos milhares de peças de carros e caminhões encontrados nos barracões deve durar pelo menos duas semanas. O que deve facilitar um pouco o trabalho dos peritos é a maneira como as peças estão depositadas nos galpões, separadas por setores, como se fosse uma linha de montagem. Ribeiro contou que a maioria das peças já analisadas não apresenta numeração e todos os vidros (que têm a numeração dos chassis) estão quebrados ou raspados.
Fiscais da Receita Estadual coletaram todos os documentos fiscais encontrados nos barracões, como blocos de notas fiscais de compra e venda de peças. O diretor da Receita, João Manuel Lucena, informou que o levantamento inclui a contagem de todos os produtos encontrados nos desmanches. A análise dos documentos apreendidos, adiantou, começa na segunda-feira. O trabalho da perícia será identificar, através das peças e motores, a origem delas para confrontar com os números de chassis de carros roubados registrados pela Polícia Civil.
Tortura O delegado Lanevilton Teodoro Moreira, do Cope, vai abrir inquérito policial para apurar se houve abuso de autoridade e tortura praticados pelos policiais da P2 (o serviço de investigação reservada da PM) durante a prisão de ‘‘Caboclinho’’. Moreira informou que foram detectadas 13 lesões corporais leves no exame a que ‘‘Caboclinho’’ foi submetido.
Ontem à tarde o empresário negou qualquer participação com o crime organizado e ironizou as perguntas que a P2 fez a ele quando foi preso. ‘‘Eu teria que ser o corregedor da polícia para responder o que eles queriam saber’’. ‘‘Caboclinho’’ disse que os policiais usaram de violência para que ele respondesse sobre as supostas relações do delegado-geral exonerado, João Ricardo Képes Noronha, e o delegado Mário Ramos, com o ex-secretário Cândido Martins de Oliveira e o governador Jaime Lerner. Ele admitiu que viu Noronha duas vezes. O empresário está com prisão temporária decretada por 30 dias, por suspeita de receptação de carros roubados.