O tema da Mata do Marco Zero voltou à pauta da CML (Câmara Municipal de Londrina) nos últimos meses. A área na zona leste, com importância histórica, cultural e ambiental, está abandonada, o que vem trazendo transtornos para os moradores da região.

Uma CE (Comissão Especial) quer apurar a responsabilidade pela revitalização do espaço verde e os entraves na doação para o município, que se arrasta por vários anos e deveria ter ocorrido como compensação pelos loteamentos onde foram construídos o Boulevard Shopping, o Hotel Ibis, a loja de materiais de construção Leroy Merlin e a estrutura inacabada do Teatro Municipal.

O presidente da CE, vereador Roberto Fú (PDT), que visitou o espaço na última semana com os vereadores Beto Cambará (Podemos) e Mestre Madureira (PP), classificou a situação como “deplorável” e “feia”. “Nós ficamos bastante preocupados com tudo que encontramos ali no Marco Zero. Nós precisamos urgentemente de uma solução para aquele local. É o berço de Londrina, mas infelizmente está envergonhando a nossa cidade”, citando que existem até barracos instalados na região da mata.

Questionado sobre os resultados que a comissão já alcançou - uma vez que foi criada em agosto de 2023 -, Fú afirma que o primeiro passo foi buscar informações com o Executivo, devido ao impasse que envolve a doação da área.

“O prefeito [Marcelo Belinati] tem dado até entrevista na imprensa [dizendo] que ele não tem o poder daquela área ainda, e isso é assustador”, diz o vereador. “Na minha opinião, quando se faz ali o parcelamento do solo, a subdivisão, as áreas de preservação ambiental já têm que vir automaticamente para o município, e infelizmente ainda não está definido quem é o proprietário, quem que tem a responsabilidade sobre aquilo."

A comissão enviou em novembro um PI (Pedido de Informação) para a Prefeitura e, em resposta, a Secretaria de Obras e Pavimentação informou que está em andamento o procedimento de doação, mas que é necessário que o empreendedor cumpra integralmente um PRAD (Plano de Recuperação de Áreas Degradadas).

BIODIVERSIDADE

A professora Ana Paula Vidotto Magnoni, do curso de Ciências Biológicas da UEL, afirma que o Marco Zero, enquanto espaço verde, é importante para a regulação ambiental.

“As áreas verdes dentro do município auxiliam a questão climática, manutenção da temperatura e das espécies das áreas urbanas, tanto vertebrados quanto invertebrados”, pontuando que “mesmo fragmentos pequenos comportam grande biodiversidade”.

Magnoni aponta que, pensando na recuperação da área, o primeiro passo seria uma prospecção para a restauração florestal, observando as condições da vegetação e das nascentes. Na sequência, verificar a invasão de espécies vegetais e realizar outros estudos.

“Os espaços verdes têm um importante papel de regulação ambiental e também de manutenção da biodiversidade, da flora e fauna urbanas. Eu acredito que seja uma questão importante do ponto de vista ambiental, mas, ao mesmo tempo, as pessoas podem ter contato”, citando os outros parques da cidade. “Eles representam um refúgio de vida silvestre e as pessoas utilizam, vão fazer trilhas, ter contato com a natureza. Isso tudo traz um grande apelo de preservação.”

ESPAÇOS DE MEMÓRIAS

Para o professor de História da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Rogério Ivano, o Marco Zero pode ser repensado como um espaço de memória, mas não apenas como memória histórica. “Ele também pode ser compreendido como lugar da memória ambiental, de uma fauna e flora que estão se apagando da lembrança da população, e que é fundamental conhecer e rememorar para que haja um futuro sustentável”, afirma.

O espaço é relevante - do ponto de vista da historiografia -, explica Ivano, porque representa a ideia de origem e nascimento. No caso de Londrina, o processo de formação que surgiu a partir do projeto da Companhia de Terras Norte do Paraná, na década de 1920. “O marco simboliza a história da cidade, mas também oculta o passado anterior, dos povos originários e dos antigos colonizadores, como os jesuítas, que viveram na região no século XVII. Isto é, a história não parte do zero”, completa.