Lula e Bolsonaro devem ter pouco peso na eleição municipal do Paraná
Cientistas políticos avaliam que atual presidente e o ex terão pouca influência nos pleitos de Londrina, Curitiba e Maringá
PUBLICAÇÃO
domingo, 11 de agosto de 2024
Cientistas políticos avaliam que atual presidente e o ex terão pouca influência nos pleitos de Londrina, Curitiba e Maringá
José Marcos Lopes/ Especial para a Folha
Curitiba - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deverão ter pouca influência nas eleições municipais deste ano em três das principais cidades paranaenses, Londrina, Maringá e Curitiba, na avaliação de cientistas políticos ouvidos pela Folha. Em alguns casos, as presenças poderão causar até um efeito negativo, em função da rejeição aos dois nomes por partes do eleitorado. Já o apoio de Ratinho Júnior (PSD) deverá ter pesos diferentes, assim como a presença do governador nas campanhas, já que seu grupo político ficou dividido em algumas cidades.
Na prática, o eleitor já tem em mente quais candidatos representam cada campo político, o que tende a reduzir a influência direta de Lula e Bolsonaro. Mas, como o ex-presidente venceu com folga as eleições presidenciais de 2018 e 2022 nas três cidades, candidatos mais identificados com seu campo político devem levar vantagem. São os casos de Tiago Amaral (PSD) em Londrina, que tem um vice do PL; de Silvio Barros (PP) e Edson Scabora (PSD) em Maringá; e de Eduardo Pimentel (PSD) em Curitiba.
Para o cientista político e professor da PUCPR Mário Sergio Lepre, a eleição deste ano sela a aproximação entre Bolsonaro e o PSD do Paraná. “O Bolsonaro tinha uma restrição ao PSD do Gilberto Kassab (presidente nacional da sigla), mas não ao Ratinho Júnior. O Ratinho aqui sempre foi muito próximo dele. Perceberam que no Paraná os grupos do governador e do Bolsonaro são próximos e que, se houvesse um distanciamento, haveria o risco de perder algumas cidades ou de abrir o flanco para um terceiro candidato”.
Esse cenário, destaca Lepre, levou a candidaturas que não são tradicionalmente ligadas ao bolsonarismo, como a de Tiago Amaral e a de Eduardo Pimentel. “O Bolsonaro deve ter calculado essa estratégia. O candidatos não vêm com a lógica do ‘candidato do Bolsonaro’. Em Curitiba, o Pimentel é o candidato do prefeito (Rafel Greca), do governador e do Bolsonaro, mas o Greca e o Bolsonaro não se ‘bicam’. Em Curitiba vai ter um candidato apoiado pelo Bolsonaro, mas não é um ‘candidato bolsonarista’”.
MARINGÁ
Em Maringá, a influência direta de Lula e Bolsonaro deverá ser mínima, diz o doutor em Sociologia e professor da UniCesumar Tiago Valenciano. “Nas pesquisas internas que a gente viu e na única registrada até agora, a avaliação do governo federal vai pesar muito pouco no resultado da eleição. O Bolsonaro prometeu estar presente para apoiar o Silvio Barros mas a relevância deve ser muito pequena no sentido de angariar mais votos”, afirma o cientista político.
Para Valenciano, a disputa na cidade ficou esvaziada e não traduziu a renovação de quadros observada nos últimos anos, quando surgiram nomes como os deputados estaduais Do Carmo (União Brasil), Soldado Adriano José (PP) e Delegado Jacovós (PL), além do ex-deputado Homero Marchese e do deputado federal Sargento Fahur (PP). “De 2018 para cá, Maringá vinha em um processo de renovação de lideranças. Só que, pelo arranjo eleitoral desse ano, essas novas lideranças ou desistiram da disputa ou apostaram em chapas que estivessem mais organizadas”.
A tendência é que a disputa fique entre o atual vice-prefeito, Edson Scabora, e o ex-prefeito Silvio Barros, que liderava com folga na única pesquisa divulgada até agora. “Continua do jeito que está ou volta ao que a cidade já teve, é basicamente isso”, afirma Valenciano. Apesar de o candidato do PT, Humberto Henrique, ser bem avaliado na cidade, dificilmente ele conseguirá superar a rejeição à esquerda, avalia o cientista político. “Foi vereador e é bem avaliado, as pessoas gostam dele, mas ele não tem conseguido deslanchar”.
RACHA
Um fator que pode pesar em algumas cidades é o racha na base de Ratinho Júnior, já que o PP decidiu lançar candidatos próprios nas três cidades – além de Silvio Barros, o partido tem na disputa a deputada estadual Maria Victoria, em Curitiba, e Maria Tereza Paschoal de Moraes em Londrina. O partido integrou a coligação que apoiou as candidaturas de Ratinho Júnior em 2018 e em 2020 e integrou as duas gestões do atual governador.
“Não sei se é uma forma de marcar posição e não sei se isso é razoável. É como se fosse um grupo que tem candidatos em excesso”, diz Mário Sérgio Lepre. “De certa forma atrapalha, se tivesse a máquina toda vinculada aos candidatos do governador, seria uma tratorada. Mas algum outro nome pode subir e receber apoios, campanha é campanha. A análise à distância mostra que não há chapas totalmente hegemônicas do governador”.
Já em Maringá, no entender de Tiago Valenciano, o racha deverá pesar pouco, até pelo distanciamento que Ratinho Júnior vem mantendo em relação ao quadro eleitoral na cidade. “O governador deu alguns recados muito claros em Maringá, me parece que ele não vai se envolver diretamente nas eleições. Ele não mandou vídeo e não apareceu na convenção do Silvio Barros. No dia da convenção do Scabora, fez um churrasco com deputados e secretários na fazenda dele em Apucarana. E não veio. O recado que ele deu está claro, não vai participar das eleições desse ano na cidade”.
INFLUÊNCIA DIGITAL
Já o cientista político Rafael Perich lembra que Lula e Bolsonaro, além de não terem potencial de agregar muitos votos na eleição municipal, podem gerar rejeição. “Muitas pesquisas mostram uma rejeição alta do Lula ou do Bolsonaro. A principal questão é justamente sobre a rejeição, quando a pessoa não votaria nunca se o candidato fosse indicado por esse ou aquele”, diz Perich. “A influência deles vai ser principalmente sobre essa pecha de ser candidato daquele ou do outro. Por exemplo, o Luciano Ducci (PSB) em Curitiba tende a sofrer com a rejeição do PT”.
O racha entre simpatizantes de Bolsonaro e do senador Sergio Moro (União Brasil) também poderá pesar. “Em algumas cidades eles estão divididos. Em Curitiba tem o candidato do Moro, que é o Ney Leprevost (União Brasil), e o candidato do Bolsonaro, que é o Eduardo Pimentel. Ney Leprevost e Pimentel vão ter problemas para um pegar votos do outro, porque um é Bolsonaro e outro é Moro, são bases muito próximas”.
Na avaliação do cientista político, o apoio de Ratinho Junior também não se traduz necessariamente em votos, pois a base do atual governador é muito ampla. “Existe uma base conflitante do Ratinho, porque não necessariamente todo mundo que votou no Ratinho não votou no Lula, ou votou no Bolsonaro. O Ratinho tem um meio termo. Para alguém que tenha uma indicação do Ratinho, mas também uma indicação do Bolsonaro ou do Lula, esse apoio (do governador) acaba não vindo (se traduzindo em votos) completamente”.