Ao discursar na "Vigília Lula Livre", acampamento instalado desde sua prisão em um terreno alugado ao lado da sede da Polícia Federal em Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que vai viajar pelo País para propor alternativas às políticas do governo Jair Bolsonaro. Segundo dirigentes petistas, Lula pretende fazer caravanas e viagens ainda antes do final do ano na busca por protagonizar a oposição a Bolsonaro, até aqui restrita à atuação dos partidos de esquerda e centro-esquerda no Congresso.

Ontem, o petista indicou a linha do discurso que vai manter nos atos políticos - focado na criação de emprego, geração de renda e educação. "O Brasil não melhorou, o Brasil piorou, o povo está desempregado, o povo está trabalhando de Uber, trabalhando de bicicleta para entregar pizza. Além disso, depois de o Brasil ter um ministro da Educação da qualidade do (Fernando Haddad), colocaram um ministro que tenta destruir nossa Educação", disse Lula. "Amanhã (hoje) tenho encontro no Sindicato e depois as portas do Brasil estarão abertas para que eu possa percorrer esse País."

A liberdade de Lula foi comemorada por nomes de peso do PT. O líder do partido no Senado, Humberto Costa (PE), disse que a libertação do ex-presidente terá impacto direto na sobrevivência do partido. "O PT sai da prisão junto com Lula", afirmou o senador ao Estado (mais informações na pág. A8).

As horas que antecederam a saída de Lula da prisão foram marcadas pela ansiedade. O ex-presidente estava desde o início da tarde acompanhado da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, candidato do partido à Presidência em 2018. Depois chegaram os advogados Luiz Eduardo Greenhalgh, Wadih Damous, Manoel Caetano e Luiz Carlos Rocha.

A primeira notícia veio por intermédio de um delegado da PF que foi até a sala onde Lula estava preso e informou que o juiz Danilo Pereira Junior, da 12.ª Vara Federal, responsável pela execução de sua pena, já havia dito que iria enviar ainda na sexta-feira o alvará de soltura. "Vamos esperar o documento", respondeu o ex-presidente, ainda receoso de uma reviravolta.

Depois foi a vez de outro delegado da PF chegar na sala para dizer que o juiz já havia assinado o alvará. Então chegaram os advogados Cristiano Zanin Martins e Valeska Teixeira com o alvará e uma dispensa de exame de corpo de delito.

Militantes

Centenas de militantes se posicionaram nas ruas no entorno da PF em Curitiba para acompanhar a saída do ex-presidente. Ao longo do dia eles cantaram músicas e gritaram palavras de ordem enquanto aguardavam a libertação do petista.

No alto do palanque, Lula brincou que fazia muito tempo não via um microfone e atacou os setores de instituições - "o lado podre do Estado" - como Ministério Público, Justiça, Polícia Federal e Receita Federal, que atuaram em sua condenação, que chamou de "maracutaia", "safadeza" e "canalhice". A crítica direta a Bolsonaro foi quando falou de um governo que "mente no Twitter e não fala de frente com a população".

Apesar das críticas, Lula disse que não guarda mágoas de ninguém, que aposta no amor e teve tempo de apresentar e dar um beijo em sua noiva, a socióloga Rosângela da Silva, a Janja, com quem pretende se casar.

Custo

Segundo estimativa da Polícia Federal, a manutenção de Lula na sua superintendência em Curitiba gerava um gasto mensal para a instituição de "aproximadamente R$ 300 mil". Considerando esse valor, a estadia do petista de abril até hoje pode ter custado cerca de R$ 5,7 milhões.

Em abril do ano passado, a PF pediu à juíza Carolina Lebbos, da Vara de Execuções Penais, a transferência de Lula para um presídio. Foi nesse ofício que a instituição estimou em cerca de R$ 300 mil o custo mensal para mantê-lo em suas dependências. O valor, segundo o documento divulgado na época, cobria despesas com diárias de policiais, passagens e deslocamentos de pessoal de outras unidades para reforçar a segurança da superintendência.

Além das condenações no caso do triplex (a oito anos e dez meses de prisão pelo Superior Tribunal de Justiça) e do sítio de Atibaia (SP), a 12 anos e 11 meses de prisão, o ex-presidente foi alvo de outras seis denúncias criminais e responde a ações penais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.