Apropriação induzida
Insisto na tecla de que os governos, de um modo geral, se apropriam indevidamente dos indicadores macroeconômicos como se eles, é claro quando virtuosos, expressassem o seu comportamento. Esse levantamento mais recente da Confederação Nacional dos Transportes sobre a condição das rodovias brasileiras o comprova de forma fulminante: no Paraná, que até via consorciadas do pedágio tem boa atuação na área, o percentual de ótimas ou boas caiu 5,3 pontos entre 2016 e 2017. Do Paraná, entre as públicas, só 26,8% tinham condições boas no ano passado e agora são apenas 20,5%. Também nas pedagiadas o índice que era de 67,7% caiu para 64,2%.

É claro que ao governo para manter a autoestima da população e criar um clima de otimismo deve projetar os bons números, sejam econômicos ou sociais, mas evitando a falácia de que é a causa de tudo. O governo, quase sempre, ainda que tente sugerir o contrário, é sempre o problema, jamais a solução.

Se num setor chave como o da infraestrutura há tantos pontos de estrangulamento, tal qual expressa o levantamento da CNT, percebe-se que na questão dos transportes ele falha como também na dos portos e aeroportos. Nesses levantamentos gerais sobre renda e mercado de mão de obra é feita a mesma apropriação. Na diferença de desempenho entre estradas sob concessão e as de responsabilidade estatal percebe-se a dimensão da incúria.

Suspeição
Novamente, e agora no episódio do sítio de Atibaia, a defesa do ex-presidente Lula tenta constranger o juiz Sérgio Moro com a suspeição, já levantada em outros casos e derrubada pelo TRF4 que a apreciou. O quadro cênico de Atibaia é o mesmo do tríplex na comprovação da ausência de limites entre o público e o privado com empreiteiras, beneficiárias de contratos bilionários, dando uma colher de chá ao presidente ou a seus amigos e parentes.

Previdência
A declaração pessimista do presidente Michel Temer sobre a reforma previdenciária como inviável de se dar sob o seu governo teve resposta imediata na Bolsa que caiu 2,55% anteontem e, mesmo com a reação do ministro Henrique Meirelles, da Fazenda, e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, não melhorou os humores do mercado. Meirelles foi contundente ao explicar didaticamente ao presidente que essa reforma não é uma escolha, uma opção, mas uma imposição da situação do país fiscalmente quebrado.

Se a energia para salvar-se com as negociações, praticamente um a um dos deputados, que derrubaram as duas denúncias, fosse empregada na causa das reformas ficaria mais atento com o que sinaliza para o mercado, até aqui seu maior sustentáculo.

E a Magirus?
Dois últimos incêndios em Curitiba, especialmente o de ontem que ocorreu no último andar de um edifício central, mostraram o quanta falta faz uma escada Magirus em ocorrências nas alturas. O informe era de que o equipamento do Corpo de Bombeiros estaria sob reparos, há mais de um ano, no exterior. A crise de Estado é assim: ela tem o poder da ubiquidade e aparece nas deficiências operacionais e também nas menores coisas.

Júri
Finalmente, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o acidente que matou dois jovens provocado pelo ex-deputado Ribas Carly vai a júri, O advogado de acusação, Elias Mattar Assad, entende que o júri deve ser marcado para o primeiro semestre de 2018. Aliás, o processo de delongas mostra o quanto a legislação favorece essa procrastinação, velho rumo brasileiro para a impunidade e a prescrição processual. De outro lado, a delonga acaba também colocando mal o acusado que a cada notícia do assunto é julgado, cada vez com severidade maior, pela opinião pública. Os oito anos de demora atingem os que esperam justiça, mas também aquele que vai ser julgado.

Racha
O processo contra a vereadora Katia Dietrich, acusada de forçar seus assessores a um racha na grana recebida, teve andamento ontem pelo órgão processante na Câmara Municipal de Curitiba com o depoimento de três denunciantes. Se escapar do conselho municipal, acaba enfrentando o Ministério Público atento ao tema. No caso histórico, o único até hoje, preso e condenado, do vereador Custódio da Silva, que chegou a eleger-se deputado, a vigilância maior foi do Ministério Público.

Ausência
A despeito do inegável peso econômico do Paraná e da forma como o seu governador Beto Richa foi eleito e reeleito em primeiro turno, surpreende nossa ausência política no respeitante aos rumos do PSDB nacional. Até agora tivemos um prurido na manifestação crítica de Valdir Rossoni, chefe da Casa Civil, no caso Aécio Neves e mais nada. Andamos a reboque, há muito, de São Paulo.

Folclore
Raramente, se dá isso no Tribunal de Contas: estava para ser analisada a gestão de 2016 quando houve, o que nunca tinha acontecido antes, um pedido de vista do conselheiro Ivens Linhares. Como é da área técnica e rigoroso nas intervenções, gerou clima de suspense. O TC no máximo adverte e raramente há voto pela rejeição o que só isoladamente ocorre.