E os inocentes?
Basta haver um só inocente na lista da Lava Jato e a hipótese de um desmanche pode ser criada como presunção. O tom acusatório, apocalíptico, se isso acontecer, perde a força do impacto que lançou a política brasileira em estado de catatonia, o que vai muito além da simples paralisia por seu significado psíquico mais abrangente, da pessoa reduzida à estatuária, o cigarro queimando os lábios da vítima.
Essa hipótese veio justamente quando os paranaenses investigados começaram a dar suas versões. Aqueles, especialmente políticos e administradores, que têm alguma empatia com o público, tiveram, não para todos, mas certamente para alguns, suas intervenções como fiéis e, portanto, gerando dúvidas em cima do rolo compressor. A primeira lista de Janot até agora não prendeu ninguém em termos finais de julgamento, o que indica a vagareza dos processos que indicam um mínimo de três anos para que cheguem ao final.
Enquanto isso, a classe política se vira e nos três principais partidos no sentido da preservação daqueles que mais têm pontuado nas eleições presidenciais, PMDB, PSDB e PT. Salvar legendas dá impressão de gesto que coloca a agremiação (e sua história, sua doutrina) acima da questão individual, o que aparenta generosidade nada comum nas nossas práticas.
Obviamente, haverá, ao fim, tanto inocentes como os timbrados pela menor culpa, algo como pecado venial. Só essa reflexão já afasta a noção de caos, gerada pelo detalhamento em vídeo das denúncias que pegou de vez também o presidente Michel Temer, e tratado à parte, na história do benefício da propina. A Lava Jato simplesmente devassou aquilo que era dado como normal e institucionalmente condenável: pelo jeito é mais fácil acreditar na autocrítica que parte das empreiteiras do que daqueles agentes que com elas negociaram, insistindo no refrão de que nada fizeram de ilegal ou imoral.
A hipótese, porém, de numerosas absolvições e arquivamentos, não está afastada, caso as denúncias, pelo volume de envolvidos e a genérica descrição dos delitos, não se revele consistente ou ainda pelo exercício da defesa. É que a avalanche gera como primeira visão justamente a perspectiva de que já estão condenados, pela agudeza dos relatos, quando se trata de indício que para a maioria do público é veemente demais até pelo ceticismo com que olha a classe política.

Bruxas na fogueira
Curitiba vai aparecer no mapa nacional da homofobia com a reação de vizinhos, em clima de perseguição, contra uma dupla homossexual, exigindo seu afastamento e execração.

Gripe
Campanha de vacinação contra a gripe começa na segunda-feira e a Sociedade Paranaense de Pediatria está argumentando como necessária a imunização na faixa dos cinco até os sete anos, que não é contemplada na programação. A entidade expõe as razões técnicas, em função de pesquisas e análises, que desaconselham a restrição. São, sobretudo, dados clínicos.

Patologia
A cada seis horas temos um trabalhador inválido por doença (nem sempre profissional) ou por doença. Registros mais frequentes da área indicam depressão e ansiedade. Dá para imaginar o quanto isso se acentua num quadro de recessão como o que enfrentamos.
Por sinal que, a viração é geral com o crescimento do mercado oculto ou de situações como se verifica em iniciativas universitárias de voluntariado que ensinam gratuitamente formas de capacitação de renda na produção de sacolas recicladas que chegam a gerar R$ 1.000 em quinze dias. A venda de pano de prato nos semáforos é uma prova desse tipo de saída. Está entre as formas de comercialização em meio ao tráfego e junto com os malabaristas que também procuram ganhar algum.

Família unida
Um sogro e o genro, que vieram de São Paulo, foram presos em Curitiba ao serem flagrados utilizando um dispositivo no caixa eletrônico dos bancos que se apropriava dos envelopes depositados. É a sacanagem com know how.

Presídios
Omar Serraglio, ministro da Justiça, anunciou ontem na capital medidas para conter a carga de superlotação de presídios e distritos. Haverá melhora com o andamento das 14 obras no setor e ainda com medidas de mutirões judiciários que suavizarão o quadro, mormente com a intervenção da Defensoria Pública.

Folclore
O bedel do Ginásio Paranaense, o Mondrone, gordo e baixinho, era um disciplinador, razão pela qual alvo frequente dos "anjos da cara suja" daquele tempo. Parede de banheiro ou muro dando sopa era usado para mensagens, as redes sociais que precederiam a internet, às vezes pesadas, às vezes até poéticas como cantigas de roda como a quadrinha: "De madrugada de longe eu vi// o Mondrone de cueca caçando bem-te-vi".