Barragem montada
Com a indicação de Alexandre de Moraes para a vaga do STF, o governo federal consolida a barragem para investidas possíveis da Justiça. Com a eleição dos presidentes da Câmara e do Senado, ambos enrolados na Lava Jato, e agora com a nomeação de Moreira Franco, também listado na torrente da Odebrecht, e com o novo ministro do STF no posto de revisor dos tão esperados procedimentos consequentes às delações, percebeu-se que Michel Temer, também referido, não está brincando em serviço.
E é claro que há também o condimento patriótico da possível missão restauradora do governo com o programa das reformas e o retorno ao desenvolvimentismo, uma aspiração geral para um país até aqui no sufoco. Aí, entra a série de notícias alentadoras, aqui e ali sugerindo sinais de melhora com um cenário apropriado para afirmar que tudo estaria bem desde que não houvesse o empecilho da Lava Jato e seus efeitos devastadores na economia e na política. Tudo estaria no disparo para um bom resultado não fosse a consciência, hoje dominando a Nação, de que é preciso fazer de tudo para que seja completada a missão depuradora que abre ao país, pela vez primeira em sua história, a possibilidade de instalar um ordenamento para pôr fim à corrupção endêmica que nos desmoraliza e afunda.
Se o governo está atento em seu esforço de mobilização, o outro polo, o da acusação, também reage com o pleito da Procuradoria Geral da República solicitando investigação contra os senadores Romero Jucá e Renan Calheiros e o ex-presidente José Sarney por tentativa de obstrução da Lava Jato, conforme a delação do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado.
A barragem está montada, como igualmente se deu com a de Mariana e seu tsunami de lama, e se isso se presta a metáforas não se pode, em hipótese alguma, subestimar o peso das amarras oficiais, ao qual não se deve atribuir a condição de jejuno no xadrez político.

Problema comum
Descobriu-se que a prefeitura da capital está impedida de fazer operações financeiras por falta do certificado de regularidade previdenciária, problema comum a Estados e municípios, dos quais o Paraná já enfrentou transtornos. A prefeitura tem sido mais clara em relação ao tema do que o governo estadual, tanto que ainda no ano passado, no fim de maio, Gustavo Fruet encaminhou ao Legislativo projeto de lei dispondo sobre autorização de parcelamento de débitos com o seu regime próprio de Previdência Social. Como se deu no Estado, houve saque do fundo de pensão, o municipal em mais de duzentos milhões de reais e na ParanaPrevidência o furo anual de R$ 1,8 bilhão sem contar a parcela referente ao 13º de R$ 150 milhões. No caso de Curitiba, também há a participação de Beto Richa que pela Lei 12.821, de 2008, instituiu aportes mensais para alcançar o equilíbrio atuarial e financeiro do IPMC.
O fato é a anomalia no sistema municipal decorrer do não pagamento de R$ 92 milhões referentes a dezembro e ao 13º por crise no fluxo de caixa.
A previdência é o jacaré embaixo da cama do maluco da anedota, cuja patologia era vista como obsessão pelo psicanalista, e que o acabou engolindo. Governos acham também que o jacaré é mera suposição e acabarão almoçados ou jantados.

Novela
A Operação "Pecúlio", de Foz do Iguaçu, teve novos lances ontem com o habeas corpus em favor de uma vereadora e a designação dos suplentes de cinco deles, encanados.

Publicano
Declarações de delatores da Publicano, Luiz Antonio de Souza e a irmã dele, Rosângela Semprebom, sincronizadas acusando o Ministério Público de "investigação seletiva" causou algum impacto no início dos interrogatórios anteontem. Advogados, valendo-se da deixa, já pleitearam a anulação de toda a denúncia. Uma aspiração como a dos que conspiram contra a Lava Jato tentando melá-la.

Reação
Dezoito vereadores curitibanos querem a reabertura da CPI dos transportes em função da alta das tarifas que levaram a população a protesto e a cenas de vandalismo. Inaceitável para a maioria deles a forma cordata como a Urbs acatou sem contestação a tarifa técnica de R$ 4,57. Vereadores não aceitam postura passiva diante de um fato tão grave e lembram ainda da auditagem do Tribunal de Contas que sugeria redução da tarifa e corte da taxa gerencial de 4% justamente atribuída à Urbs.

Sinais bons
A Fecomércio detectou em pesquisas com o empresariado melhora de expectativas na economia, havendo até um discreto otimismo. Para confirmar o clima, o Dieese apurou queda significativa de valor na cesta básica em 20 capitais.

Folclore
Quando se disse que Alexandre de Moraes poderia ser o revisor da Lava Jato, todos lembraram dos conflitos do mensalão entre Ricardo Lewandowski nessa posição ante o presidente do STF, Joaquim Barbosa.