Da art noveau à ''lerneau''


Quem sacou a sutileza foi o jornalista Eduardo Schneider: ao remover a cerca do Centro Cívico, o governador Requião não cumpriu apenas uma promessa típica de campanha eleitoral, mas procurou, sob o ponto de vista simbólico, contestar uma das expressões, no campo estético, da chamada ''art lerneau'' (''lernô'') e que deverá, como se deu no passado com a arte ''decô'', entusiasmar Paris em função da presença do arquiteto no comando da União Internacional dos Arquitetos. A despeito do conservadorismo francês em relação aos monumentos históricos e artísticos já existem alguns entusiastas da ''art lerneau'' (a maioria, obviamente, de paranaenses) sugerindo uma adaptação da Torre Eiffel com o arredondado das concepções do ex-governador.

Requião foi discreto, em primeiro lugar, ao remover as cercas à noite porque se abrissem o ''happening'' à turba essa tiraria também o aparato do Judiciário e do Legislativo e transformaria o ato num selvageria de mau gosto. E foi ainda mais elegante ao devolver o material recolhido ao dono, a Prefeitura de Curitiba. Há ainda o risco de esse ato (ou seria um desato, o de desatar?) ser entendido pelo setor basista, aquele treinado em invadir áreas urbanas e rurais, como ''chave'' para uma espécie de ''revolução cultural'', o que colocaria sob ameaça iminente todo aparato ''kitsch'' representado pela Ópera de Arame, Rua 24 horas, Jardim Botânico. Teríamos uma ação taleban como aquela que investiu furiosamente contra obras de arte religiosa no Afeganistão.

As atitudes de Requião, voltadas para a observação de regras mínimas de cortesia e elegância, irritam os mais radicais que o acham ''conciliador'' e em postura franca de recuo. Criticam-no também por hesitar na CPI do Banestado que de saída alcançaria um dos seus auxiliares atuais, o secretário Reinhold Stephanes, que encabeçava a direção na hora da venda.

Quanto à ''art lerneau'' convém não tirar sarro. Se Lerner conseguiu atrair Alvin Tofler (''O Choque do Futuro'' e ''A Terceira Onda'') para ver as tais rurbanas, que nem saíram do papel, numa dessas críticos do padrão Lyotard do ''pós-moderno'' estarão a postos para defendê-la, a despeito das imprecações bíblicas de Dalton Trevisan contra a modernice curitibana.


BIZARRICE A recessão, que se tornará mais aguda com a alta dos juros, valoriza o Projeto Fome Zero, já que mais brasileiros, depois dessa, precisarão nele integrar-se, o mais rapidamente possível.


AXIOMA Ao chegar no Show Rural de Cascavel o governador perguntou: ''Onde está o banco (Itaú)?''. Provavelmente também não vai aparecer em promoções de futebol de salão, concursos de miss, rodeios e gincanas como se dava com o Banestado. Ao governo, como contratante, resta exigir o cumprimento da cláusula que obriga o banco a um percentual para a demanda de crédito de empresas paranaenses.


GLOSA Quando o Uruguai disputa a Libertadores das Américas com um time chamado Fênix dá para ter uma idéia do padrão atual do futebol.


EPIGRAMA Se o vice prefeito de Matinhos, José Maria Correia, era simultaneamente o procurador do município fica estranha a sua nomeação como interventor, afinal encarregado de examinar seus próprios atos e omissões.


FOLCLORE Quando do caso Ferreirinha em sua etapa final, o processo chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF) e o jornalista Cicero Catani fez a manchete bem ao seu estilo, irônico e provocador: ''Futuro de Requião a Sepúlveda pertence''. Se o ''Correio de Notícias'' ainda funcionasse poderia tascar em nossos dias com o exagero habitual: ''Futuro do Itaú no Paraná a Sepúlveda pertence''.


CROMO Sapatos, signos comuns do homem em meio a um acidente trágico e que marcam mais do que o corpo esquartejado e a poça de sangue.


AFORÍSTICO Lerner ficou oito anos e deu a impressão de que nem tomou posse. Se Requião, em seus quatro anos, mantiver o ritmo atual será mais do que posse e algo muito próximo da possessão.


VINHETA Bajulação e aulicismo nunca estiveram no augue como agora.


SCAPS É mais fácil no Brasil mudar o ICM do que pegar o ACM.