Todos no palanque

A eleição acabou, apesar dos dois turnos, mas tudo se desenvolve como se ela tivesse obtido moratória. E isso no Paraná e no Brasil. Deu para ver ontem no Congresso os discursos oposicionistas do PFL e do PSDB, os derrotados, mostrando a obviedade de que estão vivos e dispostos a extrair o máximo proveito das contradições e perplexidades da ''esquerda'' no poder. Aqui no Paraná, a orquestração das denúncias prossegue, Requião aparece como patriarca do Velho Testamento anunciando o apocalipse de Lerner, do pedágio e de todos os beneficiários dos contratos. Como não há verba sobra verbo, quase no tom do Fidel como foi a longa arenga do governador na Assembléia.
Algum fato visceral, desses que pulsam por sua imanência transformadora? Até agora, pelo menos, não houve. A discrição quase monástica de Lula, depois do deplorável lançamento do Fome Zero, que é expressão de imobilismo, é o oposto desse agito retórico sem fim do governador paranaense.
É verdade que para os políticos uma atitude, às vezes, tem mais força do que uma obra. Vide a denúncia de Alvaro Dias na formação de cartel das barrageiras quando do andamento da Hidrelétrica de Segredo. Teve mais impacto do que a grande obra que ocupou a atenção dos governos de Richa até Lerner.
As palavras são voláteis, embora a firmeza das atitudes fique gravada na mente e corações do povo com mais força do que uma usina, uma estrada, uma cancha polivalente, um colégio e até mesmo uma fonte luminosa.
Haja palanque e excitação, tal qual se dá nas revoluções com o anúncio das listas de fuzilamentos como em Cuba ou dos nossos alegóricos nas cassações, igualmente comemoradas ruidosamente. Isso tudo dá a lamentável impressão daquilo que Sêneca enxergava como ócio nervoso. E os pobres, chamados à convocação pelo timoneiro, já sentem na boca o gosto do leite a custo zero.
BIZARRICE O leite tarda mas não talha. E se talhar teremos requeijão ou até coalhada que era a obsessão de Lerner junto com as empadinhas.
AXIOMA Um deputado federal de Rondônia e uma senadora catarinense querem CPI para apurar a lavagem de dinheiro no Banestado, agência de Nova York. Se não limitarem o campo da investigação a fatos recentes, denunciante pode virar denunciado. O Banco del Parana é um desses fatores que dificilmente absolve.
GLOSA O prefeito de Londrina, Nedson Micheleti (PT), acha que o governo e a Copel seriam suficientes para uma investigação adequada no caso da Sercomtel e a intermediação do Banco FonteCindam. Como foi deputado, ele sabe que em CPI todo o mundo vai querer aparecer enquanto o tema central desaparece e/ou evanesce.
EPIGRAMA Pinguelli Rosa, presidente da Eletrobras, mostrou que o preço das tarifas é irreal e não estimula o capital estrangeiro. Pois apesar do traço racional daquilo que falou vários governos cuidam de dar luz a custo zero. Luz a custo zero só a de parto na rua.
FOLCLORE Ratinho (Carlos Massa), identificado com o Mazzaroppi, pretende fazer no cinema o papel do Jeca. Ratinho está mais para Cantinflas, desde que faça uma razoável lipoaspiração. Que inspiração, essa, não lhe vai faltar.
CROMO As borboletas estão indiferentes à retirada das grades do Centro Cívico. Já os passarinhos não, uma vez que lhes servia de puleiro.
AFORÍSTICO Assembléia aprovou a intervenção em Matinhos e a nomeação do vice. As CPIs ficam para depois do Carnaval o que implica na continuidade da festa.
VINHETA A filologia é também filosofia. Para se saber do grau de convicção dos políticos (vide a vergonheira de os deputados governistas de ontem ainda assim permanecerem) basta lembrar que se chama de convicto igualmente o réu, cujo crime está mais do que comprovado.
SCAPS Quando vier a Páscoa o governador de ontem será o Judas. Mas dentro em pouco também o que hoje está no Palácio corre idêntico risco.
FILIGRANA E de repente cai até o pedágio, mas a banda podre da polícia é bem capaz de animar mais esse Carnaval.