Está o governo paranaense com a bola toda na sua disposição de marchar em ritmo contrário ao do presidente Lula no empenho em rescindir contratos ou buscaria apenas valorizar-se, com uma linguagem forte, diante dos parceiros acertados por Lerner, sejam eles a Copel, a Sanepar ou o pedágio? Essa é a pergunta que não cala depois das reações negativas no mercado internacional às propaladas intenções de Requião e que levaram a Moody’s a rebaixar qualquer recomendação de compra de ações das estatais paranaenses.
  Há quem diga que a Sanepar já teria perdido, com a desvalorização das ações, mais de R$ 70 milhões, dos quais R$ 42 milhões seriam da parte paranaense. Embora a procedência de muitas das estranhezas de Requião como o poder leonino concedido ao Grupo Dominó, especialmente ao Vivendi francês na Sanepar, e também a esse negócio estúpido (paga US$ 29 o megawat à Cien, US$ 42 o megawat à UEG Araucária e o revende no atacado a R$ 4 o MW) da compra de gás, mais os casos das parcerias da Copel, da informática e agora o do pedágio, a que dá mais ênfase, discute-se a forma como se dá o combate. Prova, aliás, de que o Paraná não tem credibilidade e muito menos prestígio, pois com manobras na mesma direção o desastrado Itamar Franco obteve maior repercussão, talvez em função da maior densidade política das Alterosas.
  O voluntarismo do governador, que se ajusta simetricamente ao seu populismo, pode dar certo (e é certamente o que desejamos para forçar todo o mundo a vir à mesa das renegociações), mas também corre o risco de frustrar-se como se deu com Itamar de forma clássica nas suas pendengas em fazer moratória com dívidas à União e na briga em torno da Cemig e sua possível privatização. É preciso levar em conta os riscos, inclusive os mais abrangentes que podem determinar a baixa no fluxo de investimentos internacionais ao Brasil em momento delicado.
  Agora, que o ato de concessão ao Grupo Dominó é absurdo nem se discute, mormente naquilo que beneficia a Vivendi que deita e rola nos investimentos em sistemas de água e esgotos da América Latina (ela lucrou US$ 12 bilhões em 2002 nas ações que desenvolve em 43 países). Nada como um fato desses para ajustar o continente ao apelido adequado de América Latrina.
BIZARRICE A empresa que demoliu as cercas do Centro Cívico (nem todos acharam válida a medida) é a Transportadora Rodoviária Sorriento. O ato deveria ser acompanhado com a música ‘‘Torna a Sorriento’’, ajustado a uma burla teatral.
AXIOMA A nova novela global ‘‘Mulheres Apaixonadas’’ é uma espécie de decalque para adultos do ‘‘Malhação’’. Mais apropriadamente para adúlteros. Pelo rumo que a trama vai tomando poderia ter apoio dos comerciais do Subaru o que, de forma sutil, lembraria suruba. Suruba com sutileza nem no ‘‘Big Brother’’.
GLOSA Se Requião mais desfaz do que faz, como o está demonstrando (seja com os contratos, seja com as cercas do Centro Cívico), o que dele se pode esperar?
EPIGRAMA Nem por brincadeira sugiram ao governador que o Paraná deve a Lerner as atrações turísticas de Vila Velha, Cataratas do Iguaçu e a Serra do Mar. A sugestão apareceu numa enquete sobre a retirada das cercas na CBN Curitiba.
FOLCLORE O Lula convocou um paranaense e de Londrina. Mas com o prestígio que o Paraná tem só poderia ser o Lula do basquete e olhe lá.
CROMO Prometeu roubou o fogo de Zeus e acabou acorrentado no fadário da mitologia. A Cândice, ao meu lado, fez o mesmo com o sol, que abrigou de forma permanente à pele, e quem nela está acorrentado somos todos nós.
AFORÍSTICO CPIs dos Jogos da Natureza, da compra das ações da Sercomtel pela Copel e do pedágio são um teste do caráter parlamentar: a maioria esmagadora anterior os negaria e a de hoje, em muitos casos a mesma, os aprovaria. Razão para o horror permanente do povo em relação à classe política.
VINHETA Bravata nem sempre é bravura, mas até pode nela transformar-se.