As nuvens carregadas que tomaram conta do céu de Londrina na noite deste domingo (17) já estavam formadas quando os últimos manifestantes começaram a deixar a rotatória das avenidas Higienópolis e JK, tradicional ponto de encontro de simpatizantes do presidente Jair Bolsonaro (PSL) em Londrina.

Imagem ilustrativa da imagem Londrinenses protestam contra a decisão do STF
| Foto: Gustavo Carneiro


Desta vez, "alvo" das críticas foi a decisão tomada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) na semana passada de enviar à Justiça Eleitoral casos de "caixa 2" quando cometidos em paralelo a outros crimes, como corrupção e lavagem de dinheiro. As manifestações ocorreram em dezenas de cidades em todo o Brasil, segundo o MBL (Movimento Brasil Livre).

De acordo com Rick Correa, integrante do #NasRuasLondrina, o ato na cidade reuniu quase duas mil pessoas ao longo de toda a tarde. Uma delas foi a ginecologista Aline de Souza Marquez, que considera a decisão um "subterfúgio para que se enfraqueça a ação da Lava Jato". "Na realidade, já esperávamos uma decisão desta natureza visto que temos um STF indicado politicamente e não concursado, vamos dizer assim", lamenta. "Nós acreditamos que o STF não é o órgão máximo do País. O órgão máximo é o povo. Todo o Poder emana do povo e eles estão lá por um único motivo, é pelo povo. Se eles esqueceram disso e, infelizmente, estão galgando interesses individuais, esta não é a função do STF", avalia.

Outro participante que diz ter vários motivos para "suspeitar" da índole dos Ministros do STF é o engenheiro agrônomo e microempresário Roberto Ribeiro. Ele classifica a medida como uma "afronta" ao povo brasileiro, uma vez que deve "favorecer bandidos". "Paulo Preto está aí", diz em alusão ao ex-diretor da estatal paulista Dersa, Paulo Viera de Souza, "presenteado" com um habeas corpus do ministro Gilmar Mendes no início deste mês. O HC deu origem a um pedido da força-tarefa da Lava Jato à Procuradora-geral da República, Raquel Dodge, para a suspeição do ministro em investigações referentes ao ex-senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) e ao suposto operador do PSDB, Paulo Preto. Preto está preso na sede da Polícia Federal em Curitiba desde o mês passado, quando foi deflagrada a 60ª fase da Operação Lava Jato, conhecida como Ad Infinitum (infinito, em latim).

"E se por acaso Paulo Preto for fazer a delação premiada começa a 'morder a canela' de alguns ministros, então eles resolveram tomar esta decisão rapidinho", avalia o agrônomo.

Para o estudante universitário Leonardo Alves, 19, a decisão do STF vai trazer consequências negativas para a Operação Lava Jato. Alves diz temer a anulação das condenações do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (MDB-RJ), e do ex-presidente Lula (PT). "E outros que agora estão sendo investigados, como Aécio (Neves, PSDB) e Beto Richa (PSDB)", lamenta.

Na opinião do funcionário público Vinícius Alves, a medida vai atrapalhar a Operação Lava Jato, "que está em andamento não só contra um partido e tudo o que foi feito até agora vai por água abaixo".

PELO PAÍS

Em Brasília, manifestantes se reuniram na manhã deste domingo (17), para protestar em frente ao STF. A estimativa da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) é que, apesar da chuva, cerca de 100 pessoas, até as 11h, participavam do ato. Eles levavam faixas com os dizeres "STF, qual o seu negócio?" e "Quem mandou matar a Lava Jato?".

No Rio, um ato do MBL foi realizado na manhã deste domingo na Praia de Copacabana, reunindo dezenas de pessoas para protestar contra o STF. "Vergonha", estava escrito em uma faixa gigantesca.

CRÍTICAS

Durante a semana, o Supremo foi alvo de ataques nas redes sociais e críticas de integrantes da Lava Jato. Na quinta, o ministro Dias Toffoli, presidente do STF, anunciou a abertura de inquérito criminal para apurar fatos relacionados a notícias "falsas", denúncias caluniosas, ameaças e infrações que atingem a honra de membros do STF e seus familiares.

No Senado, a CPI da "Lava Toga", que mira no chamado "ativismo judiciário" de ministros de cortes superiores, conseguiu na sexta-feira (15) o número de assinaturas necessárias para ir adiante.(Com agências)