As recomendações do TCE-PR (Tribunal de Contas do Estado do Paraná) à Prefeitura de Londrina sobre mobilidade urbana repercutiram positivamente entre os ciclistas do município. Usuários do meio de transporte ouvidos pela reportagem disseram que Londrina "tem muito a melhorar" sobre o assunto. Das sete observações feitas pelo órgão de fiscalização, pelo menos quatro têm ligação com a malha cicloviária.

O TCE detectou oportunidades de melhoria em auditorias feitas no município entre março de 2024 e janeiro de 2025. Os principais problemas encontrados são relativos à falta de acessibilidade para pessoas com dificuldade de locomoção nas vias, desalinhamento entre a priorização de investimentos e obras de mobilidade urbana, falta de critério técnico para recapeamento de vias, falta de primor no desenvolvimento de projetos de intervenções viárias, ausência no monitoramento do PlanMob (Plano de Mobilidade) do município, melhor gestão do estacionamento rotativo público e a falta de fiscalização do cumprimento dos padrões de conservação das calçadas.

Aluísio Silva, 42, conselheiro em Mobilidade Urbana da Associação Mobilidade Ativa, afirmou, em entrevista à reportagem, que a entidade - que reúne cerca de 60 ciclistas para discutir e buscar direitos no Município - ficou contente com as recomendações do TCE, visto que os problemas são perenes e precisam ser corrigidos o mais breve possível.

"A Associação fica muito feliz que o órgão de controle com tamanha relevância, que é o Tribunal de Contas, esteja cobrando e fiscalizando o Plano de Mobilidade. Essa sempre foi uma defesa nossa. Já tivemos uma dificuldade enorme na contratação do plano, que é uma obrigação imposta pelo Estatuto das Cidades, e Londrina foi uma das últimas a contratar", disse.

De acordo com ele, o TCE evidenciou tudo o que não está sendo feito na cidade e destacou que a administração municipal não está cumprindo aquilo que se propôs a fazer. Silva cobrou o prefeito Tiago Amaral (PSD) sobre a necessidade de promover as mudanças que prometeu em campanha, mas ressaltou que o problema não é exclusivo desta gestão.

"O nosso papel de entidade é se dispor para contribuir. É o momento dele [Amaral] estar já inteirado de todos esses assuntos. Não é um problema desta gestão. O Tiago assumiu agora, mas algumas coisas já não vinham acontecendo desde a gestão passada, que abandonou essa questão."

'Gestão atual tem oportunidade de melhorar'

Para o conselheiro da Associação Mobilidade Ativa, a transparência e as decisões baseadas em evidências são características de uma gestão pública moderna e as recomendações que mais pesam no documento publicado pelo TCE.

"Por exemplo, vão fazer uma ciclovia, mas por quê? Será que existe demanda? Alguns gestores falam que ninguém usa as ciclovias, mas dizem sem nenhum embasamento. A gestão atual tem uma grande oportunidade de melhorar assuntos que ninguém mexeu, de frota de táxi, de estacionamento rotativa, e tudo isso vai melhorar na mobilidade da cidade", pontuou.

Falta de comunicação na malha cicloviária

A designer Pietra Cassiano, 27, considera-se ciclista desde que saiu da maior metrópole da América Latina, São Paulo, com destino a Londrina. "Eu utilizo a bicicleta como meio de transporte desde 2020. Isso trouxe uma melhora para a minha vida de maneira geral, enquanto economia de tempo e economia de custos e melhora na saúde. Uso a bicicleta como forma de locomoção e também para lazer e viagens para outros lugares."

Entretanto, Pietra também percebeu os problemas estruturais presentes nas ruas e avenidas do município, o que a motivou a se juntar ao grupo que questiona a administração municipal sobre tais transtornos.

"Me juntei à Associação porque propõem essa visão um pouco mais voltada para a mobilidade ativa, principalmente depois dos impactos da pandemia. Desde então, o principal ponto que dói nos ciclistas de Londrina - não só quem pratica esporte, mas quem sai de casa para trabalhar - é a falta de comunicação na malha cicloviária de Londrina. Existem muitos pedacinhos de ciclovia que não se comunicam", salientou.

Segundo ela, as "ciclovias ilhadas", que não se comunicam, impedem que pessoas comuns adotem a bicicleta como modo de locomoção, pois a solução mais comum se torna usar calçadas ou dividir as vias com veículos. "A sensação de pegar uma bicicleta, que pesa 10 kg, e sair em uma rua com carros passando a 50, 60 km/h é de insegurança."

A designer diz que notou um aumento no número de ciclistas em Londrina, mas a falta de padronização entre as ciclovias e ciclofaixas é um entrave para o crescimento contínuo. "Temos algumas que chamamos de ciclosarjetas, que são ciclovias que não passam de 30, 40 centímetros de largura. Existe a questão da arborização também. Inclusive, a nossa associação já promoveu algumas ações de podas conscientes em ciclovias muito utilizadas", disse, explicando que a CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização) não apoiou a medida, mesmo com um especialista na equipe.

Derrotas e vitórias

Pietra afirmou à reportagem que a Associação Mobilidade Ativa nasceu quando vereadores de Londrina pediram a retirada da ciclofaixa presente na avenida Ayrton Senna, em 2020. Vários ciclistas protestaram, mas a retirada foi efetivada. "Por conta da nossa luta, essa retirada não aconteceu sem vitórias. Retiraram a ciclovia da Ayrton Senna e passaram para a praça dos ciclistas, que fica em frente ao Lago Igapó. A gente sente que é sempre uma derrota e um pouquinho de vitória. Consegue uma e perde outra", disse.

Para ela, Londrina perde em não investir em ciclovias efetivas, pois tem potencial para unir todos os polos e promover a integração, de norte a sul e de leste a oeste. "Londrina é uma cidade com muito potencial turístico, para estar na vanguarda da mobilidade. Londrina tem 15 km de ponta a ponta. As pessoas só não conseguem ter acesso à totalidadade da cidade porque a prefeitura não promove as condições adequedas."

A reportagem entrou em contato com a Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Londrina solicitando entrevista com o Ippul (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina), mas foi informada que não havia técnico disponível. A assessoria da Prefeitura também informou que o secretário de Obras, Otávio Gomes, está em viagem a Curitiba.

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