Líder de oposição a Maduro torce pelo Brasil no futebol
A venezuelana Corina Yoris, mestre em literatura latino-americana pela Universidade de Caracas, tem até um gato chamado Pelé
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sábado, 30 de março de 2024
A venezuelana Corina Yoris, mestre em literatura latino-americana pela Universidade de Caracas, tem até um gato chamado Pelé
Mayara Paixão/ Folhapress
BUENOS AIRES, ARGENTINA - Sua casa em Caracas está repleta de artesanatos comprados no Brasil para decorar os ambientes. Seu gato de estimação já falecido se chamava Pelé. Nos mundiais de futebol, dada a pouca presença de seu país, sua torcida vai sem titubear para o Brasil.
A venezuelana Corina Yoris, 80, tem uma relação de longa data com o país, construída após inúmeras visitas para eventos universitários em cidades como Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro.
Até há pouco tempo um nome não tão conhecido fora dos corredores acadêmicos, ela agora está no centro do debate político de Caracas.
Yoris foi escolhida pela ex-deputada María Corina Machado, vencedora das primárias opositoras que foi inabilitada eleitoralmente, e chancelada pela coalizão de oposição para concorrer à Presidência.
Ela não conseguiu inscrever seu nome, porém, e espera fazê-lo até o próximo dia 20, prazo limite para alterar os nomes dos candidatos - ao menos provisoriamente, sua força está sendo representada pelo ex-diplomada Edmundo González.
Uma pergunta sobre quais referências do Brasil tem a professora universitária que é mestre em literatura latino-americana pela Universidade Simón Bolívar, de Caracas, se desdobra em diversos comentários sobre suas referências e adoração pelo Brasil.
"Realmente é um país que me encanta e chama a minha atenção. Tive um gato que morreu há poucos anos e no qual coloquei o nome de Pelé, porque minha admiração por ele era grande. E não me sinto distante do Brasil nem sequer pelo idioma, porque há o 'portunhol'."
Ainda assim, lhe faz falta um conhecimento mais acurado da língua para ler o escritor brasileiro que mais admira: Jorge Amado (1912-2001), autor de obras como "Capitães da Areia", "Gabriela, Cravo e Canela" e "Dona Flor e Seus Dois Maridos".
"Visitei um museu dele em Salvador [a Fundação Casa de Jorge Amado], mas sinto não entender a língua na sua totalidade para aproveitar tamanha riqueza", diz ela.
Recém-eleita para uma vaga na Academia Venezuelana da Língua, Yoris está debutando na política institucional. Em 1998, ano em que Hugo Chávez foi consagrado nas urnas e deu início a uma era que a partir de seu sucessor, Nicolás Maduro, se desdobrou em um regime autoritário, ela participou de um projeto de observação das eleições.
Por não ser chavista, diz que enfrentou comentários desdenhosos de muitos à época. De lá para cá, escreveu para jornais, lecionou em universidades venezuelanas e internacionais e, finalmente, somou-se ao comitê que em 2022 organizou as primárias da oposição.
Alcançar o feito de ser um dos principais nomes opositores aos 80 tem feito com que ela escute comentários que classifica como etarismo.
"Há uma anedota de Clint Eastwood da qual vou me apropriar. Ele tem 93 anos e está dirigindo um filme que requer um esforço enorme. Um jornalista perguntou de onde ele tirava tanta energia e ele respondeu: eu não deixo o velho entrar na minha casa."