Kandir diz que apertou o sim,
mas painel registrou abstenção

Arquivo Folha
O furãoKandir: ‘Se eu tivesse que me abster não compareceria ao plenário como fizeram 50 parlamentares’O ex-ministro do Planejamento, deputado Antônio Kandir (PSDB-SP), não aceita a acusação de que teria sido ele o responsável pela derrota do governo na votação de ontem, na Câmara, do destaque à emenda de reforma da Previdência Social que derrubou a idade mínima para aposentadoria. Kandir alega que apertou o botão ‘‘sim’’, mas o painel registrou abstenção. Ele quis corrigir, mas a Mesa da Câmara rejeitou. ‘‘Se eu tivesse que me abster não compareceria ao plenário como fizeram 50 parlamentares que integram a base de sustentação do governo’’, afirmou o ministro em entrevista, por telefone, à Agência Estado.
Além destes, lembrou, cerca de 20 deputados da base aliada votaram com a oposição. ‘‘A derrota do governo ocorreu por causa de 70 ou 80 nomes’’, destacou. ‘‘A minha posição sempre foi favorável à reforma da Previdência. Lamento profundamente que o painel de votação da Câmara tenha anulado o meu voto’’.
Antônio Kandir garantiu, entretanto, que as implicações financeiras na votação de anteontem são ‘‘a rigor nulas’’, por definir a idade mínima de aposentadoria para os que estão entrando agora no mercado de trabalho. ‘‘O efeito só será daqui a 30 anos. Além disso, é ingênuo imaginar que dentro de seis anos não será feita uma nova revisão da reforma. O efeito, portanto, é inócuo’’.
Para o deputado, a votação decisiva será na próxima semana, possivelmente na quarta-feira, quando será apreciada a idade mínima de aposentadoria para o período de transição. ‘‘Os cálculos financeiros feitos pelo governo dizem respeito a isso’’, afirmou o deputado.
Embora o painel eletrônico da Câmara seja tão fácil de operar quanto um teclado de telefone digital, muitos parlamentares costumam errar o voto, como aconteceu com Kandir. Normalmente o parlamentar percebe o erro e, ao microfone, solicita correção à Mesa da Câmara. Kandir não tomou nenhuma providência a tempo.
A votação no painel eletrônico é feita de duas formas. Cada uma das 454 cadeiras, no plenário, é um posto de votação. Quem está sentado vota por ali. Com a mão esquerda, segura um botão que fica embaixo da mesinha. Com a mão direita, digita os cinco números do código pessoal, que ficam na sua frente. Feita esta operação, mantém a mão esquerda segurando um botão e, com a direita, aperta uma das teclas de ‘‘sim’’, ‘‘não’’ ou ‘‘abstenção’’, também fixados embaixo da mesa. Como a mão esquerda fica ocupada é impossível a votação simultânea em duas cadeiras.
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) distribuiu nota, assinada pelo secretário-geral da entidade, João Felício, na qual agradece a abstenção de Kandir na reforma da Previdência. ‘‘A atitude do deputado Kandir, ainda que fruto de um possível ato falho, é digna, ao nosso ver, dos mais profundos agradecimentos de todo o povo brasileiro’’, diz a nota, redigida em nome de 19 milhões de trabalhadores que a central representa.
A polêmica acompanha Kandir desde 1990. Ele foi o principal mentor do plano econômico que confiscou a poupança, as aplicações financeiras e as contas correntes de todos os brasileiros no dia 16 de março de 1990, um dia depois da posse do presidente Fernando Collor. O plano de confisco não deu certo e a inflação não foi contida. Nos dois últimos anos ele envolveu-se em polêmicas com governadores dos Estados por causa da chamada Lei Kandir. (AE)