A 3ª Vara Criminal de Londrina acatou denúncia contra os ex-deputados Matheus Viniccius Ribeiro Petriv e Emerson Petriv – conhecidos, respectivamente, como Boca Aberta Júnior e Boca Aberta - e a vereadora de Londrina Mara Boca Aberta (Pros), por possível prática de rachadinha no gabinete do ex-deputado estadual.

Segundo a denúncia, oferecida pelo Gepatria (Grupo Especializado na Proteção do Patrimônio Público e no Combate à Improbidade Administrativa) de Londrina, embora os comissionados envolvidos estivessem lotados no gabinete de Boca Aberta Júnior na AL (Assembleia Legislativa) do Paraná, seus pais também seriam beneficiários e até achacariam os funcionários do filho.

A denúncia tem como base fatos investigados e já denunciados na esfera cível ainda em 2021, em ação de improbidade administrativa que foi arquivada após mudanças no Congresso Nacional que abrandaram a Lei de Improbidade Administrativa. Porém, Boca Aberta diz que a nova ação é "requentada" e crê em novo arquivamento.

Boca Aberta Júnior foi eleito deputado estadual em 2018 na esteira da carreira política do pai, vereador cassado em Londrina que se elegeu deputado federal na mesma eleição – mas foi cassado em Brasília em 2021. Mara Boca Aberta também se elegeu com o nome político do marido na eleição municipal de 2020.

De acordo com a denúncia do Gepatria, os ex-assessores de Boca Aberta Júnior Adilson de Souza Ribeiro e Márcio Aurélio Elesbão – conhecido como “Capoeira” – teriam sido obrigados a doarem parte dos vencimentos para custear valores como o aluguel e despesas correntes, como água e energia elétrica, do gabinete alugado na zona leste de Londrina, além de cestas básicas que seriam doadas para a população em nome dos políticos.

“Capoeira” tornou-se amplamente conhecido em um episódio no qual é ostensivamente chamado por Boca Aberta para defendê-lo durante um conflito com o ex-vereador Amauri Cardoso. Na ocasião, após ser bastante provocado, Cardoso desferiu um soco no rosto de Boca Aberta. A situação inteira foi publicizada pelo próprio Boca Aberta em vídeos distribuídos pelas redes sociais.

Entretanto, a ação tenta demonstrar que os salários dos assessores também seriam utilizados, em parte, para custear gastos pessoais da família Boca Aberta, como camisetas personalizadas e até o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) do imóvel residencial da família.

Ainda segundo a denúncia do Gepatria, os denunciados provocavam “um ambiente de temor e ataques súbitos” quando tinham os comandos contrariados, incluindo agressões físicas.

Ao fim da ação, o Ministério Público pede o ressarcimento, em caso de condenação, de R$ 81,7 mil para reparação dos danos causados aos colaboradores.

MINISTÉRIO PÚBLICO

Por meio da assessoria de imprensa do MPPR, o promotor Renato de Lima Castro confirmou as acusações que configuram, pela denúncia, como a prática de concussão – ato do servidor público exigir vantagem indevida para si próprio ou para terceiros, direta ou indiretamente.

OUTRO LADO

Assumindo-se como porta-voz da família, o ex-deputado federal Boca Aberta distribuiu um vídeo para a imprensa no qual diz que é perseguido pelo promotor, motivo pelo qual apresentou denúncia no CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público), e diz que a denúncia é “requentada”, uma vez que foi arquivada na 2ª Vara da Fazenda Pública em novembro de 2022. “[O promotor] só mudou o cabeçalho e protocolou na Justiça Criminal”, reclama.

A sentença da 2ª Vara da Fazenda Pública, entretanto, arquivou o pedido, sem possibilidades de recurso, devido à revogação dos incisos que tipificavam a conduta dos acusados na Lei de Improbidade Administrativa, promovida pelo Congresso Nacional em 2021. Por conta disso, o juiz considerou um “nítido caso de impossibilidade jurídica do pedido”.

Por fim, Boca Aberta disse, ainda no vídeo, que a família Boca Aberta “sempre rachou com o povo”. “E vai continuar rachando, cesta básica, caixa de leite, remédio”, concluiu.

Já a vereadora Mara Boca Aberta (Pros) utilizou o tempo destinado à liderança de seu partido para, durante a sessão desta terça-feira (23), reforçar as alegações do marido em relação à denúncia acolhida pela Justiça, mas optou em adotar um tom menos incisivo.

“O mesmo promotor ofereceu há dois anos e o senhor [juiz] Emil [Gonçalves], da 2ª Vara da Fazenda Pública, arquivou por falta de provas. Quero dizer que não tenho nada contra esse promotor, estou tranquila. Pode investigar, pode fazer como o senhor queira. Não tenho nenhum fato pessoal contra ele, mas ele tem uma inimizade declarada contra o Boca Aberta”, discursou a parlamentar.