Os moradores das áreas invadidas na periferia de Londrina, que esperam da prefeitura a legalização dos lotes, são aqueles que agora chamam o prefeito Antonio Belinati (PFL) de ‘‘pai dos pobres’’, o epíteto de Belinati há 24 anos. Quando foi eleito prefeito de Londrina pela primeira vez, em 1976, o ex-radialista Antonio Belinati construiu cerca de 25 mil casas populares na zona norte, estabelecendo seu mito na área que ficou conhecida como Cinco Conjuntos. O Cincão garantiria, posteriormente, outras duas eleições de prefeito a Belinati.
Hoje, o escândalo provocado pelas denúncias de desvio de recursos na Prefeitura de Londrina na atual gestão do prefeito duas vezes afastado pela Justiça, pode significar, na opinião de algumas lideranças da região dos Cinco Conjuntos, ‘‘o fim do messianismo belinatista’’ que havia na época áurea do reduto de Belinati – onde ele chegou a residir, em momentos de eleição. Só uma pesquisa poderá aferir o prejuízo político-eleitoral causado pela repercussão do caso AMA-Comurb, mas a reportagem da Folha apurou que no Cincão o prefeito já não reina absoluto como em outros tempos. Nas áreas invadidas, o povo chegou a fazer promessa para a volta do prefeito ao cargo.
Se no centro de Londrina a palavra de ordem entre a maioria dos moradores é pelo afastamento do prefeito, no universo das invasões a realidade é bem diferente. Ainda há muito o que fazer diante da carência social, da falta de infra-estrutura dos bairros onde o assistencialismo impera. O sentimento entre aquela população é de que o afastamento de Belinati pode significar um rompimento da assistência da administração municipal, principalmente em áreas ocupadas ilegalmente, onde um novo prefeito poderia até determinar a desocupação.
Durante duas horas conversando com moradores da invasão do fundo de vale localizada nas proximidades do Conjunto Aquiles Stenguel, já batizada como Jardim dos Campos, a Folha ouviu que os moradores foram unânimes em elogiar e defender o prefeito. São pessoas humildes, que não escondem a relação de dependência com a prefeitura, e nem negam que cultuam o populismo de Belinati com fervor que beira ao fanatismo. Eles apóiam, simplesmente, não se importando em analisar se as práticas dele como homem público são condenáveis ou não.
‘‘Passei todo esse tempo rezando e até fizemos promessa para o Belinati voltar para a prefeitura. Morei onze anos no União da Vitória e sei que só ele ajudou os pobres. Outros políticos só lembram dos pobres quando chega a eleição, mas o Belinati não, sempre tem ajudado e socorrido as pessoas carentes’’, testemunha Fátima Aparecida Santos, de 38 anos. Ela diz que não recusa nenhum convite quando é convidada para ir a qualquer ato público em favor do prefeito. ‘‘É só encostar o ônibus que a gente vai para qualquer lugar em defesa dele’’, afirma.
Carlos de Souza Prado, de 50 anos, chega a esbravejar quando questionado sobre o que pensa do envolvimento do prefeito nos escândalos administrativos: ‘‘Voto no Belinati desde quando ele disputava contra o Dalton Paranaguá. E nunca me arrependi. Confio nele e sei que ele vai se livrar dessa. Quem está contra o Belinati são os ricos, mas eles não precisam do município. Se o prefeito for tirado do cargo nós vamos perder o nosso protetor. Aí nunca mais os nossos lotes serão regularizados’’, afirma Carlos, não escondendo seu temor com a possibilidade de perder sua casa e seu lote.
A dona do único ‘‘comércio’’ do Jardim dos Campos, Aparecida Constâncio Aguiar, assegura, com a convicção de quem recebe na sua merceria todos os moradores da invasão, que não conhecer sequer uma pessoa daquele bairro que seja contra Antônio Belinati. ‘‘O povo daqui tem gratidão pelo lote, pela água, pela luz e confia que o prefeito vai asfaltar e legalizar os documentos dos lotes. Sem ele na prefeitura acaba toda nossa esperança’’.
Outra descrente com a onda de moralização que exige transparência no poder público municipal, é Maria Doraci Peixoto. Ela faz uma leitura bastante pessoal de tudo o que está acontecendo em Londrina. E questiona: ‘‘Qual político é honesto? Me aponte pelo menos um. Tudo o que está acontecendo com o Belinati é resultado de perseguição. Os outros políticos não tem condições de competir com ele e por isso querem derrubar o prefeito. Não tem sentido o juiz e os vereadores julgarem o Belinati. Foi o povo que elegeu e só o povo pode tirar. Mas ninguém quer ouvir o povo’’, critica.
Liberati Antônio de Andrade, de 44 anos, concorda integralmente com sua vizinha Maria Doraci. ‘‘É preciso entender que tudo isso não passa de armação. Tá na cara que o Belinati vai sair bem dessa situação. Não quero saber dos erros dele. Só sei que para os moradores aqui do Jardim dos Campos ele tem sido muito bom. Por isso não queremos nem pensar nas dificuldades se o prefeito perder o cargo’’.