São Paulo - Os institutos de pesquisa, especialmente Datafolha e Ipec, têm sido alvo de ataques nos últimos dias. O presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados reclamam enfaticamente do descompasso das pesquisas de véspera em relação aos resultados da eleição divulgados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Na quinta (6), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que vai votar na próxima semana um projeto de lei sobre prazos de pesquisas eleitorais. Também afirmou que a instalação de uma CPI sobre os institutos deve acontecer assim que as assinaturas forem colhidas.

Dois dias antes, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, disse que encaminhou à PF (Polícia Federal) um pedido para abrir inquérito sobre os institutos de pesquisas eleitorais. Além disso, a campanha de Bolsonaro tinha acionado a Procuradoria-Geral Eleitoral e o TSE contra os institutos.

Diante da sequência de ataques, a Abep (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa) divulgou comunicado no qual diz haver "tentativas de judicialização e politização" nas eleições brasileiras contra as empresas de pesquisa de intenção de voto.

"Instituto de pesquisa é como juiz de futebol: seja qual for o resultado, a mãe dele sempre será xingada", diz, em tom bem-humorado, Carlos Augusto Montenegro, diretor do Ibope por mais de 30 anos e atualmente um dos acionistas do Ipec.

Para ele, as ações para intimidar os institutos nunca foram tão intensas como agora. "O método da campanha do Bolsonaro é atacar, eles trabalham assim", afirma. "As urnas eletrônicas ficaram sob fogo cruzado durante mais de um ano, agora é a vez dos institutos. Quem serão os próximos?"

Esse tipo de pressão, porém, não é nova. Levantamento realizado pela Folha mostra que iniciativas como CPIs, projetos de lei e ações judiciais para proibir as pesquisas eleitorais (ou restringi-las) acontecem há pelo menos 33 anos no Brasil --veja lista abaixo.

"Há um histórico de tentativas de censura no Brasil, patrocinadas por quem perde eleição ou sente que vai perder. Gente autoritária, obscurantista e ignorante, como Jair Bolsonaro, aposta sempre na desinformação e na mentira: a pesquisa eleitoral faz parte da democracia", afirma o advogado da Folha, Luís Francisco Carvalho Filho.

Em 1989, uma articulação de líderes partidários na Câmara dos Deputados levou à aprovação de um projeto que proibia a divulgação de pesquisas nos 30 dias antes das eleições daquele ano. O acordo uniu partidos mais inclinados à direita, como o PFL (que, após fusões, resultou na União Brasil), siglas do centro, como PMDB (hoje MDB), e agremiações mais identificadas com a esquerda, caso do PDT.

A medida não teve efeito prático porque o TSE, à época presidido por Francisco Rezek, considerou o texto inconstitucional.

Em outubro daquele ano, Antonio Manuel Teixeira Mendes, então diretor do Datafolha, participou de uma audiência pública no Senado na qual defendeu os métodos utilizados pelo instituto.

Nove anos depois, em 1998, senadores, insatisfeitos com os resultados dos levantamentos em seus estados, pediram a abertura de uma CPI para investigar os institutos. Com o endosso do então presidente da casa, Antonio Carlos Magalhães (PFL), a comissão teve início, mas definhou poucos meses depois, sem deixar conclusão.

Em novembro daquele ano, os diretores dos principais institutos participaram de uma audiência no Congresso. À frente do Ibope (que deu origem ao Ipec em fevereiro de 2021), Montenegro admitiu um erro na pesquisa no Distrito Federal e citou aprimoramentos técnicos em andamento. Por outro lado, criticou a iniciativa dos parlamentares: "O intuito da CPI é só tumultuar".

Nas décadas seguintes, ações no Congresso ou na Justiça contra os institutos de pesquisa tiveram menor visibilidade, mas os ataques se mantiveram contundentes.

Em outubro de 2014, o então senador Aécio Neves (PSDB) criticou pesquisa do Datafolha que mostrava Dilma Rousseff (PT) numericamente à frente dele na disputa pelo Planalto. Foram "erros grosseiros", afirmou Aécio, que saiu derrotado daquela corrida eleitoral.

Mauro Paulino, diretor do instituto nesse período, respondeu que "as pesquisas divulgadas nesta semana pelo Datafolha mantêm as mesmas bases amostrais das que foram divulgadas na semana passada, que mostravam Aécio Neves numericamente à frente de Dilma Rousseff". E completou: "Até então, não havia nenhuma contestação."

Em abril de 2018, cinco meses antes da eleição para presidente, o Datafolha fez uma pesquisa na qual considerava nove cenários: três deles com Lula, que estava preso, três com Fernando Haddad e três com Jacques Wagner --os dois últimos nomes eram petistas cotados para disputar o Planalto caso o ex-presidente não pudesse concorrer.

"A manobra para tentar criar um imaginário em que Lula não esteja no pleito esbarra numa questão fundamental: a preferência popular", criticou o PT em comunicado. Em setembro daquele ano, como se sabe, Haddad foi oficializado como candidato do partido.

É razoável supor que, além de oportunismo eleitoral, políticos anunciem suas divergências com os institutos de pesquisa por desconhecimento do objetivo desses levantamentos. Como sempre fala Mauro Paulino, hoje comentarista da Globonews, pesquisas de opinião não devem ser usadas para antecipar resultados, mas ajudam a detectar movimentos do eleitorado.

Nos últimos anos, a tensão entre lideranças políticas e institutos se acentuou devido, entre outras razões, ao aumento das mudanças de voto na última hora, impulsionadas pela velocidade com que as informações circulam nas redes sociais.

"Parece um clichê, mas volta a ser importante repetir que a pesquisa avalia o momento em que é feita. Não é um prognóstico. As pessoas esperam que as pesquisas de véspera reproduzam os resultados das urnas, mas elas não fazem isso. Só o levantamento de boca de urna consegue esse objetivo", afirma Luciana Chong, atual diretora do Datafolha.

"As pesquisas servem para acompanhar todo o período eleitoral. O Datafolha e outros institutos sempre apontaram essa polarização entre Lula e Bolsonaro na disputa presidencial, com o petista à frente. Também deixaram evidente a inviabilidade da terceira via."

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