Curitiba - O indiciamento de Jair Bolsonaro (PL) deverá fortalecer outras candidaturas de direita na eleição de 2026. Para deputados do PT na Câmara, o futuro do ex-presidente é a condenação e a cadeia. Já para políticos filiados ao PL, Bolsonaro deverá ser o candidato do partido à Presidência daqui a dois anos, mesmo estando inelegível e indiciado.

Se Bolsonaro realmente ficar fora da disputa, outros nomes ganham força no campo da direita, como os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil); do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB); e do Paraná, Ratinho Júnior (PSD).

Para concorrer em 2026, Bolsonaro teria que reverter a inelegibilidade decretada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o que parece cada mais difícil, à medida que avançam as investigações da Polícia Federal sobre a trama golpista.

“Após o indiciamento e todos os fatos revelados pelo inquérito da Polícia Federal, o Bolsonaro está mais perto da cadeia do que reaver sua condição de elegibilidade”, afirma Gabriel Marcondes de Moura, cientista político, mestre em Ciência Política e especialista em Gestão Pública e Comunicação Eleitoral. “O Bolsonaro como candidato é carta fora do baralho, o Valdemar da Costa Neto (presidente nacional do PL) já não deve contar com isso. Não é uma questão sobre se o Bolsonaro será preso, é sobre quando ele será preso”, avalia ele.

Moura, no entanto, lembra que a direita é muito maior que Bolsonaro. “O bolsonarismo é apenas uma parcela histriônica da direita no país, que é hoje é pouco representativa. Vimos nas eleições municipais como eles perderam quando a centro-esquerda e o centro se juntaram. O bolsonarismo não teve vitórias significativas nos municípios como quando o Bolsonaro era presidente ou como se esperava. Não reverberou nas prefeituras o tamanho do PL na Câmara dos Deputados.”

Entre os possíveis nomes da direita para 2026, o cientista político ver mais chances na candidatura do governador de Minas Gerais, Romeu Zema. “Existem partidos que se adaptam ao ambiente e existem partidos que exercem influência sobre o ambiente. Nesse sentido, o PT dos anos 1980 e o Novo dessa década são muitos semelhantes. O Zema como candidato vai aumentar o número de deputados. A candidatura cumpre um objetivo do partido, aumentar sua base se posicionar no cenário nacional. A única certeza é que o Zema deverá ser candidato, os outros nomes vão tentar se cacifar.”

CANDIDATO INELEGÍVEL

A avaliação de políticos do PL é diferente. Para o deputado federal Filipe Barros (PL-PR), Bolsonaro será o candidato do partido em 2026, mesmo estando inelegível e sem grandes possibilidades de reverter a situação a curto prazo. “O fato não mudou e nem mudará: Jair Messias Bolsonaro é o nome do Partido Liberal para 2026”, afirma o parlamentar.

Barros lembrou que o PL obteve vitórias no Paraná nas eleições de outubro. “O PL mostrou força histórica nas últimas eleições. Somos, proporcionalmente, o estado da Federação que mais elegeu candidatos da sigla nesse pleito municipal. Ou seja, nosso projeto conservador de direita está se fortalecendo cada vez mais. E, agora, com tantas presepadas do PT na economia, a população está sentindo de novo no bolso que não dá para deixar o Brasil nas mãos do Lula.”

Para o deputado estadual e bolsonarista Ricardo Arruda (PL), não só Bolsonaro terá condições de concorrer em 2026 como o Brasil deverá sofrer sanções dos Estados Unidos quando Donald Trump assumir a presidência. “Nessas eleições municipais de 2024, os brasileiros deram a resposta. PT venceu somente em uma capital brasileira. Em 2026, acabaremos com eles”, apostou.

EFEITO NA CÂMARA

No campo oposto, o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR) disse que o efeito do indiciamento de Bolsonaro já pode ser sentido na Câmara. “Baixaram a bola”, resumiu o parlamentar em relação aos deputados bolsonaristas. “Não falam mais em anistia e sabem que o Bolsonaro será preso.”

Zeca Dirceu avalia que a bancada bolsonarista continuará apostando em temas polêmicos e distantes da realidade, como o projeto que proíbe todo tipo de aborto no país, aprovado nesta semana pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara – apontado por muitos governistas como uma tentativa de tirar o foco sobre a tentativa de golpe. “Estão avançando com estes absurdos de aborto e outras pautas. Beira o ridículo.”

Para o parlamentar, a oposição terá dificuldades para barrar o pacote anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que, entre outras medidas, pretende isentar do imposto de renda quem ganhar até R$ 5 mil mensais. “Eles não têm unidade nem no PL.”

A deputada Gleisi Hoffman, presidente nacional do PT, defende um movimento nacional para barrar o PL 2.858/2022, que prevê anistia aos suspeitos de participação nos atos antidemocráticos. “A paz que eles (bolsonaristas) gostam é a paz dos cemitérios, com os adversários mortos e as instituições silenciadas. É o que prova o relatório da PF. Querem impunidade para continuar aterrorizando o país.”

PL IMPUNE

Uma dúvida é sobre o PL e o presidente nacional do partido, Valdemar da Costa Neto, que também foi indiciado. O cientista político Gabriel Marcondes de Moura não acredita que a legenda será punida. “Embora haja indícios que revelem que o PL, enquanto instituição, contribuiu para a armação golpista, acredito que vai ser bem difícil responsabilizar o partido. O PL já foi responsabilizado quando, irresponsavelmente, fez aquele dossiê contra as urnas eletrônicas, logo após as eleições de 2022, e foi multado em R$ 22 milhões.”

Para Moura, a semana do indiciamento de Bolsonaro e outras 36 pessoas foi a pior para a oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva desde janeiro de 2023. “Foi a melhor semana política do governo, com o indiciamento do Bolsonaro, os números de pleno emprego e agora o pacote de ajuste fiscal proposto pelo Haddad. Pela primeira vez, a gente vê uma contribuição dos militares, com o fim das pensões vitalícias, que é uma coisa ridícula”, disse. “Boa parte das pessoas que hoje ganha até dois salários mínimos, contribui com o Imposto de Renda, subir a isenção para até R$ 5 mil mensais beneficia boa parte da classe média, que há muito tempo se sente desamparada pelas ações do governo.”