Leandro Donatti
De Curitiba
O ministro do Esporte e Turismo, Rafael Greca (PFL), tem audiência hoje com o procurador geral da República, Geraldo Brindeiro, em Brasília. Greca vai falar com Brindeiro sobre Luiz Francisco de Souza, procurador da República lotado no Distrito Federal que o processa por improbidade administrativa no escândalo dos bingos. Através de um ‘‘aviso ministerial’’, Greca vai solicitar o afastamento do procurador das investigações e abertura imediata de uma sindicância para apurar suposta ‘‘perseguição política’’ que o ministro do Paraná diz estar sendo vítima.
‘‘Sou uma pessoa com a honra sequestrada pela difamação pública. Já paguei o resgate do sequestro da minha honra ao abrir meu sigilo telefônico e bancário’’, afirmou em Curitiba ontem pela manhã, em entrevista à Folha. À tarde, no Rio de Janeiro, o ministro prometeu ainda levar um dossiê contendo um quadro de irregularidades anterior à sua gestão, na audiência com Brindeiro. ‘‘Estão propositadamente desviando o foco para mim, que nada devo e nada temo, e para os funcionários do Ministério que lidam com os 500 anos do Brasil’’, declarou, numa referência indireta a Luiz Francisco.
Para embasar suas suspeitas contra o procurador, Greca vai anexar ao ofício enderaçado a Brindeiro cópia de uma carta redigida pelo prefeito de Ametista do Sul, Silvio Cesar Pôncio, do interior do Rio Grande do Sul. O prefeito afirma ter sido coagido por Luiz Francisco a dar declarações por escrito contra o Instituto Nacional do Desporto (Indesp), órgão vinculado ao Ministério.
O caso vazou semana passada pelo deputado federal Augusto Nartes (PTB-RS), autor de uma emenda que repassa recursos do Indesp para Ametista do Sul e que na avaliação do Ministério Público Federal está irregular pela falta de documentos. Silvio Cesar Pôncio alega ter sido abordado pelo procurador quando tentava entender o porquê da irregularidade do convênio. ‘‘Na conversa, pediu-me que fizesse um relato ressaltando a responsabilidade do Indesp. Para convencer-me disse que havia um processo com outras acusações’’, diz um trecho da carta do prefeito de Ametista do Sul.
A idéia de pedir o afastamento de Luiz Francisco de Souza, do processo, vem desde a semana passada, quando o procurador falou à Comissão Mista da Câmara dos Deputados e Senado. A gota d’água, entretanto, para pedir um freio no procurador foi a matéria publicada na edição desta semana pela ‘‘Istoɒ’. O ministro disse que vai processar a revista paulista por calúnia, injúria e difamação. Baseada em informações do Ministério Público Federal, a revista sugeriu envolvimento de Greca com a máfia italiana e com um esquema de propinas, para a instalação de bingos.
‘‘Eu nunca vi esse Ortiz (o bingueiro Alejandro de Viveiros Ortiz, acusado de ter ligações com a máfia italiana e que confirmam o esquema de propinas no Indesp). Na fita obtida pela IstoÉ, ele nunca fala no meu nome’’, reagiu Greca ontem. O ministro do Esporte e Turismo usou de ironia para dar descrédito à matéria de duas páginas. ‘‘É tão mentira tudo o que foi dito quanto às inúmeras vezes que a IstoÉ disse que o senador (Roberto) Requião venceria em 1998 a disputa pelo governo do Paraná. Não tem nada disso. Estou sendo misturado com o joio, eu que sou trigo.’’
A reportagem da ‘‘Istoɒ’, dá conta que a quebra de sigilo requerida pelo Ministério Público Federal visa rastrear suposto desvio de verba federal, R$ 600 mil de um total de R$ 1,6 milhão autorizado pelo Ministério, para o Instituto Farol do Saber, empresa de Greca comandada pela mulher, a presidenta da Fundação Cultural de Curitiba, Margarita Sansone. ‘‘O dinheiro foi para a Fundação Cultural e não para o Instituto. A Prefeitura é conveniada com a União. Tenho o extrato do convênio. Vou solicitar à Delegacia de Controle do Paraná que dê uma certidão’’, prometeu.